A gestão do ensino superior e seus caminhos atuais

Conversando recentemente com uma professora, com grande experiencia em docência superior, ela me disse que teria na Instituição em que começou a lecionar há 20 anos e leciona até hoje, um salário menor, nesse semestre, do que recebeu no seu primeiro semestre de trabalho. Lá ela tinha oito aulas semanais e agora teria três. Durante um longo período trabalhou 40 horas semanais e nos últimos anos, essa carga horária vem caindo sistematicamente.

Aquela afirmativa não me causou surpresa, tenho percebido que esse é um fato que tem ocorrido em grande parte das instituições de ensino superior privadas. Numa análise superficial, poderíamos inferir que seria em decorrência da diminuição do número de alunos. Não é verdade. Tem ocorrido, em grande número também nas que conquistam regularmente cada vez mais matrículas.

Como analista de gestão, fica claro que o foco dos Administradores não está no seu corpo funcional, o número de doenças psíquico e emocionais em docentes aumenta em progressão geométrica ano a ano. A satisfação de estar em sala de aula e o orgulho demonstrado com a profissão, dificilmente se percebe atualmente.

O que mudou? Tudo! Essas Instituições de ensino superior privadas, quando começam a crescer em importância no cenário educacional brasileiro, na década de 1970, surgem a partir de educadores, com foco na oportunidade do grande volume de excedentes nos vestibulares das universidades públicas e perseguiam a otimização dos resultados acadêmicos. Hoje, as instituições que possuem a grande maioria das matrículas, têm o foco no valor de suas ações na bolsa de valores

Como gestor, entendo e concordo inteiramente na necessidade de as organizações terem resultados financeiros positivos e que o custo e a manutenção de clientes são fatores importantes na administração de negócios. Não podemos esquecer que o ensino é uma atividade do Estado, delegada constitucionalmente também à inciativa privada, respeitada a qualidade e as adequadas relações trabalhistas.

Nas últimas décadas, o que mais se tem discutido são as metodologias de ensino, metodologias mais tradicionais ou metodologias ativas, aulas presenciais ou com forte utilização de recursos de educação à distância, emprego da tecnologia digital ou não, a ponto de a legislação educacional criar a obrigatoriedade de criação de Núcleos Docentes Estruturantes (NDE) para todos os cursos em funcionamento, com a finalidade de otimização dos Projetos Pedagógicos, sob o ponto de vista acadêmico.

Quando as empresas educacionais se apropriam dessas discussões acadêmicas priorizando a redução de custos e o aumento da captação e diminuição da evasão de matriculados sem o devido cuidado com a qualidade do produto oferecido e o respeito aos trabalhadores envolvidos, as organizações de defesa da Sociedade precisam atuar para evitar o prejuízo que essas ações predatórias trazem.

Temos visto modelos educacionais implantados com forte transferência de carga de estudo para a bibliografia que deve ser lida pelo aluno, sem capacidade de entendimento e com tempo exíguo destinado aos professores para tirar dúvidas. Práticas e exercícios com baixo grau de dificuldade gerando pontos de avaliação, que acabam propiciando aprovação sem o devido conhecimento adquirido.

A lógica atual do negócio está se tornando em baixo custo com professores e alto índice de aprovação para facilitar a captação e evitar a evasão. O sindicato dos professores do Rio de Janeiro, já há alguns anos, fechou um acordo com as mantenedoras com uma tabela de salário do tutor com valor 50% menor que o do professor, o que tem sido valorizado pelas empresas como fator de definição da metodologia de ensino. 

Qual será o futuro de um País, cujo foco do ensino superior é a maximização do lucro das empresas educacionais e dos alunos apenas na obtenção de um diploma?

 

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