Que a demanda gera oferta dizia a sua avó!

*Adm. Wagner Siqueira

Se Karl Marx ressuscitasse hoje, certamente, escreveria ‘O Capital’ em relação à economia 4.0 de forma bem diferente. Porém, as pessoas ainda pensam em um padrão de quem viu o processo do capitalismo inicial no século 18 e 19 lá na Prússia, hoje Alemanha, e na Inglaterra, onde acontecia a exploração, a contradição entre o salário e o lucro, a relação entre expropriados e expropriadores, em que o conceito de mais valia se dava de forma mais profunda e exploradora.

Em verdade, a atual economia 4.0 não tem como base o sistema de produção como era visto por Marx e que os movimentos sociais repetem hoje como se fosse a realidade. Isso foi há dois séculos e não na sociedade contemporânea. Atualmente, a base do processo econômico se faz na exploração do consumo e na oferta de crédito, cuja função é gerar ainda mais demanda.

Mudou-se completamente a velha lei econômica que dizia que a demanda gera a oferta! Isso hoje é um equívoco ainda ensinado e praticado. O que se tem hoje é a oferta de produtos (a fim de ter nas mãos o consumidor e a exploração do consumo) para gerar a demanda. E crédito ilimitado para gerar consumo, com o consumidor sendo colonizado pela oferta de produtos e crédito.

Podemos dar como exemplo que já estamos pensando no novo iPhone 11, quando o 10 mal acabou de sair. No entanto, o que realmente precisaríamos é do 5G, motivo de briga entre o presidente norte-americano Donald Trump e os chineses da Huawei, que estão ultrapassando em tudo a Apple, símbolo estadunidense. Vejam que, com isso, não se dá mais a exploração pelo sistema de produção, se dá pelo sistema de consumo. Quer dizer, a base do sistema capitalista de hoje, que permeia todos nós, existe pela exploração do consumo e de fontes ilimitadas de crédito. Outra vertente diária da nossa economia.

Ainda seguindo o exemplo do iPhone11. Com as margens de crédito exorbitantes que os governos oferecem, um aposentado se vê impelido a comprar um iPhone 11, mesmo que não seja para ele ou que não precise, mas para o seu netinho. Ele fica sem comprar seu remédio para poder comprar o telefone novo para o netinho pela oportunidade de consumo e pela facilidade do crédito. E isso pode acontecer em diversas outras situações.

É bom que nós reflitamos sobre isso, pois nossa área, a Administração, não pode ficar apenas na parte técnica. É preciso pensar e entender os fenômenos da sociedade como um todo. E, acima de tudo, pensar na transformação que está ocorrendo agora, a cada minuto.

*Adm. Wagner Siqueira é conselheiro federal pelo Rio de Janeiro e diretor-geral da UCAdm

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