Ética: Teoria x Prática

Como falar de Ética e percebê-la no mercado de trabalho perante tantas ambiguidades?

Ética, palavra derivada do grego ethos, significa modo de ser, caráter, comportamento, um modo correto de viver expresso pelo pensamento humano. Mas e o pensamento humano? Aquele gerado a partir de conhecimentos, razão, intuição e por que não dizer instintos de sobrevivência cada vez mais aguçados pelo próprio sentido da palavra. A filosofia tem como fundamento a contemplação, a vontade de conhecer, o deslumbramento pela realidade, e como método primordial, a rigorosidade do raciocínio permitindo atingir a estruturação do pensamento e a organização do saber. O que nos remete crer que o profissionalismo, bem como as competências adquiridas ao longo da vida, sejam fatores diferenciais possibilitando uma colocação no mercado. Infelizmente não é bem assim.

Ao profissional jovem é requerida a experiência que o próprio mercado não permite adquirir. Ao contrário, um profissional com currículo repleto de títulos, encontra-se em uma faixa salarial alta e sua experiência é considerada “viciosa”. Ao inciar em um processo seletivo, o candidato qualificado fica diante de uma porta aberta, mas geralmente a “indicação” é responsável pela escolha de outro candidato para a ocupação do cargo pretendido. Grande parte das empresas possuem hoje código de ética e conduta, missão e visão, mas algumas não os executa, nem tão pouco respeita os princípios básicos de sua cultura.

O que diferencia um vendedor de produtos e um assessor comercial que vende serviços? Ambos são vendedores. Na oportunidade de um processo seletivo interno, após a contratação do vendedor de produtos, que “coincidentemente” é amigo do gerente, colaboradores com anos de experiência e competências requeridas para assumir o cargo de supervisão são preteridos a este novo funcionário com nível de escolaridade inferior aos demais. Qual seria o critério de seleção utilizado nesta situação? A resposta é clara e direta: A ética foi desprezada.

Um líder geralmente possui todas as ferramentas para alavancar a empresa e manter sua equipe altamente motivada, porém desperdiça talentos pela sede de poder que assola grande parte de quem detém a liderança. O mundo está diante de um funil captando uma mão de obra nem tanto qualificada, mas que de alguma forma tem o privilégio do protecionismo e contribui para desvalorizar categorias capacitadas e expurgá-las para recolocações informais resultando uma remuneração abaixo daquela requerida pelas mesmas.

Quando profissional atuante, o ser humano desfruta de benefícios que dificilmente nesta fase, reconhece como vantagens. Plano de saúde, plano odontológico, ticket refeição, auxílio moradia, ajuda de combustível, plano de previdência, auxílio-funeral, dentre outros, são alguns dos atrativos que motivam o colaborador a optar entre uma ou outra empresa. Salário também é fator importante.

Mas e o ambiente interno?

O colaborador em muitas ocasiões não consegue executar suas tarefas com perfeição porquevivencia discrepâncias relacionadas as políticas da empresa e a realidade do que efetivamente ela oferece.

É necessário que todo profissional se pergunte ao longo de sua carreira: Qual objetivo quero atingir? Qual fator constitui maior peso na escolha de uma empresa: remuneração ou reconhecimento? Respostas que caem por água quando se está fora do mercado à procura de uma oportunidade. A expressão é providencial: “Matando cachorro a grito”.

Segundo IBGE ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) o emprego industrial registrou em novembro de 2009 a maior taxa de crescimento desde janeiro de 2001. Confrontando alguns setores porém, 13 das 14 áreas e 16 dos 18 segmentos avaliados tiveram corte de pessoal. São Paulo exerceu o maior impacto negativo na taxa global seguido por Minas Gerais.

O levantamento mostrou ainda que a folha de pagamento real dos trabalhadores da indústria encolheu cerca de 2,7% em novembro de 2009, comparado ao mesmo mês de 2008. Nos idos tempos de 1908 já dizia Schumpeter: “’Ninguém dá importância ao pão pela quantidade de pão que existe num país ou no mundo, mas todos medem sua utilidade de acordo com a quantidade disponível para si, e isso, por sua vez, depende da quantidade total”.

Talvez estejamos passando por um momento de transição. Onde os valores reconhecidamente moral e éticos nos permitam justiça e igualdade. São necessárias oportunidades reais. Não cabem mais hipocrisias nem tão pouco interrogações sobre um futuro recoberto por incertezas. É tempo de esperança. Tempo de fazer a teoria ser colocada em prática. As pessoas porém, sem exceção, devem inspirar confiança e transpirar honestidade. Segundo Bonald “O mais difícil para um homem honesto não é cumprir o dever, é conhecê-lo”.

Referências:

Louis-Gabriel-Ambroise Bonald (vicomte de) – A. LeClere et cie., 1847 – 570 páginas.

Mercado de Trabalho no Brasil. Disponível em . Acesso em 13 de jun. 2010.

SCHUMPETER, Joseph E. On the Concept of Social Value. in Quarterly Journal of Economics, volume 23, 1908-9. Pp. 213-232.

Sugestões de leitura: