A incerteza e o impacto do empreendedorismo

A situação atual da economia global tem gerado, nos mercados, uma das maiores incertezas já vista na história das nações do planeta. Em contrapartida, para permanecerem competitivas, as empresas utilizam mecanismos de controle cada vez mais sofisticados para garantir o seu retorno financeiro.

Os sistemas estão, crescentemente, mais hábeis para oferecer investimentos em tecnologias que aumentam o poder das empresas em lidar com essa turbulência. E, este poder está associado ao fortalecimento da capacidade de sobreviver, tornando o desequilíbrio menor e menos duradouro, em comparação com os modelos geridos pelo controle humano. Existem autores afirmando que a substituição de pessoas pela tecnologia adequada faz com que a “curva” do desequilíbrio tenda a se tornar uma reta, linear e ascendente (Tom Bellinson; 2010).

Esse procedimento traz incerteza para quem trabalha nas organizações. Essa tremenda incerteza associada a essas práticas tem gerado, sensivelmente, insegurança e insatisfação nos trabalhadores, em todos os setores da indústria.

A pouca compreensão sobre o conceito de “empregabilidade” faz com que muitos trabalhadores sacrifiquem carreiras para poder atender uma expectativa social e organizacional que lhe é requerida. O trabalhador, quando percebe suas dificuldades e sente a frustração de manter determinados padrões de conduta organizacional, sem ter os resultados esperados, procura opções de melhorias nas suas relações de trabalho.

O seu primeiro desafio é decidir se deve continuar, formalmente, como empregado ou procurar outra solução.

Nos tempos atuais, a opção de partir para um empreendimento próprio tem ocorrido com uma freqüência que merece registro. Marcos Aurélio Queiroz comenta que uma significativa quantidade de trabalhadores brasileiros “por falta de alternativa satisfatória de ocupação ou renda” (empreendedorismo por necessidade), optam por esse tipo de ação.

Por outro lado, é importante levar em consideração que nem todo o novo empreendimento tem esse tipo de motivação. Com toda essa incerteza, muitos novos negócios são criados e estabelecidos a partir de uma idéia, a partir de uma oportunidade (Marcos Aurélio Queiroz; 2006).

Quando o trabalhador resolve empreender, normalmente parte de uma idéia sobre um determinado negócio (geralmente pequeno), um nicho no qual ele dispõe praticamente de todas as informações para a execução.

Grande parte desses negócios tende, no primeiro momento, a prosperar e, paulatinamente, o novo empreendedor vai sentir as vantagens e os benefícios do seu crescimento. Porém esse crescimento esbarra, geralmente, na pouca prática do trabalhador sobre a gestão do negócio.

Essa ignorância muitas vezes leva o empresário a um novo desafio: quanto ele deve investir em “cultura organizacional” para manter a sua empresa lucrativa, num ambiente de desequilíbrio e incertezas?

(Segundo Jim Collins, o empresário brasileiro tem uma impressionante naturalidade e um relativo conforto em lidar com a incerteza. Collins comenta que “o poder de resistência e reação que os empresários brasileiros desenvolveram ao sobreviver à hiperinflação, será um valioso ativo” nesses tempos de turbulência).

Mas, mesmo tendo essa dinâmica e vivência com o desequilíbrio, o empresário precisa se preocupar com os obstáculos que restringem essa sua grande capacidade de empreender:

a) saber que lidar bem com a burocracia e as imposições que são exigidas pelas leis e estruturas das instituições reguladoras dos negócios é decisivo para o empreendimento;

b) entender que ainda está se consolidando a organização do processo de empreendedorismo: escolas de administração, capital de risco, investidores e fundos de pesquisa (Jim Collins);

c) compreender que não se trata apenas de dom, vocação ou questão de personalidade. O empreendedorismo, além de motivação, exige muita disciplina e trabalho. Empreendedorismo pode e deve passar por um processo de aprendizado.

Sabemos que muitos dos novos empresários partem para o aprendizado sobre a gestão de negócio sem muito critério. Eles vão procurar o aprendizado que tem a maior atratividade. Geralmente, tendem a adotar as práticas da moda. A obtenção dessas novas informações tem efeito positivo, mas, podem não satisfazer as reais necessidades do empreendedor. Alguns empresários tendem a adaptar, por conta própria, o aprendizado ao seu negócio, podendo perder, assim, as vantagens, na implantação das práticas.

Desta forma, ficam as seguintes questões sobre o assunto:

a) Os modelos de aprendizado para empreendedores, da forma como são projetados, têm, de fato, acrescentado conhecimento ao negócio do empresário?

b) Eles estão preparando o empreendedor para enfrentar o atual desequilíbrio?

c) Não estarão tais modelos dando prioridade, de forma intensiva e adaptada, às práticas consolidadas pelas estruturas organizacionais clássicas?

d) O empreendedor resiliente e competente conseguirá desenvolver disciplina necessária, utilizando conceitos que não atendem às necessidades da complexidade atual?

e) Para que o empreendedorismo seja realmente eficaz, a aprendizagem da complexidade das organizações não deverá ultrapassar os modelos atuais?

Bibliografia

Bellinson, Tom. The self-organization supply chain. Site BPTrends.com. Edição de dezembro, 2010.

Collins, Jim. A era da tremenda incerteza. Entrevista para a revista Veja. Edição de 1º de dezembro, 2010.

Queiroz, Marcos Aurélio Campos. Repensando o empreendedorismo: necessidade ou vocação? Uma análise a partir do cadastro central das empresas do IBGE. Site CRA-RJ. Espaço Opinião. Dissertação de Tese. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. RJ, 2006.

Comissão de empreendedorismo. Criação da comissão de empreendedorismo. Site CRA-RJ. Edição de dezembro, 2010.

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