Tragédia da Linha Amarela: Responsabilidades e Convite à Reflexão

A comoção em torno do triste acidente ocorrido na Linha Amarela trouxe à tona uma série de reações da imprensa, órgãos de Governo e população em geral.

Para contextualizar, a Linha Amarela é uma via do Rio de Janeiro onde transitam cerca de 120 mil veículos por dia e que “corta” diversos bairros importantes e comunidades carentes da cidade. Sua relevância é alta para a população e economia locais.

De volta às reações e notícias que temos observado, creio que merecem uma análise mais detalhada:

– responsabilidade das autoridades: é comum neste tipo de situação que logo se apontem as falhas do Governo- protestos contra a falta de fiscalização, existe desordem urbana, falta repressão às irregularidades. Sem dúvida que são verdades, mas seria este o principal ângulo para enxergar esta tragédia? Pois me pergunto quantos fiscais e mecanismos seriam necessários para coibir em tempo real as irregularidades cometidas pela população brasileira, não apenas no trânsito como no espaço público em geral. Milhares de fiscais e os sistemas mais sofisticados de monitoramento talvez fossem insuficientes e de custo bastante elevado ao contribuinte. As autoridades precisam ser mais efetivas e presentes para evitar as irregularidades e a impunidade, mas não creio que neste caso seja a principal causa do acidente. Não podemos colocar toda a culpa no Governo por crimes cometidos pelos seus cidadãos;

– sobre a (ir)responsabilidade do condutor: o motorista de um equipamento desrespeita o horário de circulação em via expressa, utiliza o celular enquanto dirige, comete excesso de velocidade e age sem a concentração mínima requerida de um profissional no exercício de sua atividade. Este sim é o incrível conjunto de fatos gravíssimos causadores do acidente. O pior é que isso tudo nós vemos diariamente nas ruas. Por que acontece? Pela falta de educação, noção de cidadania e capacitação profissional de boa parte da população e consequentemente dos profissionais que estão no mercado de trabalho. O pior é que nós já estamos acostumados com estes absurdos e não nos chocamos mais;

– a empresa Arco da Aliança precisa ser investigada: os indícios de que o caminhão possuía problemas mecânicos causadores do levantamento da caçamba, a capacitação do motorista, tudo isso precisa ser rigorosamente apurado;

– a passarela que caiu não estava presa aos pilares de sustentação: Um erro grave de projeto que precisa ser bem explicado. A estrutura estava apenas apoiada nos pilares, daí a facilidade com que a passarela inteira veio abaixo. E logo penso, indignado, que a corrupção e o desvio de verbas públicas são um dos motivos de encontrarmos tantas obras de baixa qualidade no Brasil;

– a logística de cargas é atividade essencial: o trânsito de caminhões e as atividades de carga / descarga não podem ser demonizados, pois são atividades essenciais para abastecer e atender às necessidades da população. Esta atividade precisa ser entendida e disciplinada, mas não pode ser inviabilizada.

Por fim, as cinco mortes de inocentes obrigam a uma reflexão geral- do cidadão comum, que precisa enfim entender que seguir as regras é algo natural,uma obrigação de cada um. Dos empresários e executivos, que devem garantir equipamentos conformes e investir muito mais em treinamento, capacitação e conscientização da mão-de-obra. E das autoridades, que devem regulamentar, fiscalizar e punir os abusos. O Brasil em algum momento precisa aprender as lições.

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