Distopia

Distopia

DistopiaEm 1868, John Stuart Mill (1806 – 1873), filósofo e economista inglês, num discurso no Parlamento da Inglaterra, citou e popularizou o termo “distopia”, como o oposto de utopia. Disse ele à época: “É, provavelmente, demasiado elogioso chama-los utópicos; deveriam, em vez disso, ser chamados “distópicos”. O que é comumente chamado utopia é demasiado bom para ser praticável; mas o que eles parecem defender é demasiado mau para ser praticável”. Estas palavras parecem ter sido feitas para a atualidade.

Enquanto na utopia esperamos pelo melhor, o Eldorado, o Paraíso, o Pote cheio de moedas de ouro no final do Arco Íris, na distopia esperamos por um futuro imaginado movido por um mau comportamento, ignorância, falta de respeito e amor. Por isso, utopia significa “lugar nenhum”, e distopia “lugar ruim”.

O termo, não tão conhecido pelo nome, mas de há muito explorado pela literatura e cinegrafia, nos leva a pensar na chamada teoria do caos: “Quanto pior melhor”. Filmes como Mentes sombrias, Matrix, Os 12 Macacos, Mundo em caos, entre outros; livros como Laranja Mecânica (Anthony Burgess), Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), 1984 (George Orwell), Fahrenheit 451 (Ray Bradbury), apresentaram enredo e tema focados na distopia.

Durante o carnaval deste ano, a cantora e pastora evangélica Baby do Brasil, convidada a subir ao palco pela também cantora Ivete Sangalo, aproveitou para anunciar a vinda do Apocalipse. Tal intervenção acabou por provocar grande repercussão na mídia, onde alguns se manifestaram a favor e outros contra, alegando que o local não era apropriado para isso. Fato é que sua mensagem foi percebida e discutida, levando muitos a refletirem sobre o assunto. No Apocalipse, referenciado por Baby, há menção do Armagedom, ou batalha final associada a uma catástrofe global ou a uma guerra nuclear, o que, podemos ter como factível.

Não precisamos esboçar esforços para ter uma visão distópica do que está por acontecer. Por toda parte percebemos o desmantelamento da sociedade com a banalização da vida, isto é latente ao acompanhar os noticiários diários. Um simples jogo de futebol é motivo de confrontos violentes entre as torcidas; discussão no trânsito que gera agressão é até morte; a rede social sendo utilizada para disseminação de notícias fake, maculando a honra de cidadão inocentes, e tantas outras ocorrências que apontam para a existência de uma sociedade em conflito, até mesmo partindo para o confronto bélico, como os que envolvem na atualidade Rússia/ Ucrânia e Israel/Hamas.

As religiões deixaram de cumprir seu papel aglutinador do ser humano; a escola perdeu o propósito formador para ser informadora; o mundo político imerso num mar de corrupção, traição, perseguição e falsidade, pouco acrescentando para o bem-estar dos cidadãos.

Apesar de frequentemente se referir a um mundo imaginado, a distopia estabelece conexão com nosso mundo, engendrado pela ação ou falta da ação humana. Interessante notar que a literatura e a cinegrafia distópica, ao apontar para um mundo paralelo, apresenta traços comuns com o mundo atual, como: violência banalizada e generalizada; discurso pessimista; poder mantido por uma elite.

O poeta Clay Werley muito bem sintetizou este mundo de falsa utopia, ou distópico, com os versos: “Ninguém é dono de seus próprios passos/ Nossa liberdade não passa de uma mentira, somos impulsionados por ganância, inveja e ira, e nos digladiamos num cotidiano de percalços/ Mundo doente, onde prosperam os falsos/ A esperança de outrora há tempos já partira, e toda moralidade que havia se extinguira/ Terreno fértil a moldar nossos fracassos/ Eis que tudo gera urgência, tudo é fisiológico”.

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