Um Novo Olhar sobre a Inclusão – Diversidade e Trabalho Decente no Mercado de Trabalho de Pessoas com Deficiências
Sou administrador e um pesquisador, que motivado por experiências pessoais e pela crescente demanda por inclusão, mergulhei no universo da inserção de Pessoas com Deficiência (PcD) e neurodivergentes no mercado de trabalho, especificamente no setor varejista, onde pude estar presente por alguns anos. Por meio de um estudo de caso em uma grande rede de supermercados brasileira, analisei as práticas e políticas de inclusão adotadas por uma empresa do segmento educacional, voltada para o campo das capacitações.
Desafios e oportunidades
A pesquisa revelou que, apesar dos avanços proporcionados por leis como a Lei de Cotas, a inclusão de PcD ainda enfrenta desafios significativos. Preconceitos, falta de acessibilidade e a necessidade de adaptações no ambiente de trabalho são algumas das barreiras encontradas. No entanto, o estudo também destaca as oportunidades que a inclusão representa para as empresas, como a construção de uma imagem positiva, a atração de novos talentos e o cumprimento de metas de sustentabilidade.
Resultados promissores
Os resultados da pesquisa indicam que as ações de capacitação e inclusão implementadas pela empresa varejista e pelo instituição capacitadora foram eficazes em desenvolver as habilidades e competências em jovens aprendizes, inclusive naqueles com PcD e neurodivergentes. Além disso, o estudo identificou boas práticas e tecnologias que podem ser replicadas em outras empresas do setor.
Impacto da ESG
O estudo também analisa a relação entre a inclusão de PcD e os critérios ESG (Environmental, Social and Governance), que avaliam o desempenho ambiental, social e de governança das empresas. A pesquisa demonstrou que a inclusão de PcD pode contribuir para o cumprimento das metas ESG, como a diversidade e a inclusão social.
A Inclusão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho
Ao longo da história, a visão sobre a deficiência e o papel das pessoas com deficiência na sociedade sofreu diversas transformações. Desde a antiguidade, passando pela Idade Média e pela modernidade, a concepção de deficiência era influenciada pelos valores e crenças de cada época.
A partir da segunda metade do século XX, com o surgimento de leis e políticas de inclusão, a situação das pessoas com deficiência começou a mudar. No entanto, ainda existem muitos desafios a serem superados, como a falta de acessibilidade, o preconceito e a discriminação.
Percebi diversos benefícios da inclusão para as empresas, como o aumento da produtividade, a melhoria da imagem institucional e o desenvolvimento de um ambiente de trabalho mais humano. No entanto, alerto para os desafios enfrentados pelas empresas ao incluírem pessoas com deficiência, como a resistência de alguns gestores e a falta de preparo para lidar com a diversidade.
Em suma, destaco a importância de políticas públicas, ações afirmativas e mudanças culturais para garantir a plena inclusão dessas pessoas.
Neurodiversidade e Acessibilidade Comportamental
Abordei também a discussão sobre neurodiversidade e a importância da acessibilidade comportamental para a inclusão de pessoas com diferentes perfis neurocognitivos.
Inicialmente, destaco a necessidade de romper com estereótipos e preconceitos em relação às pessoas neurodivergentes, como aquelas com autismo ou TDAH. A acessibilidade comportamental emerge como uma ferramenta crucial para promover a inclusão dessas pessoas, indo além de adaptações físicas e arquitetônicas. Ela implica em criar ambientes sociais e educacionais que respeitem as individualidades e diferenças neurocognitivas, garantindo que todos se sintam acolhidos e valorizados.
A autonomia socioeducacional é outro ponto central abordado. Ao oferecer suporte individualizado, recursos adequados e um ambiente inclusivo, é possível que as pessoas neurodivergentes desenvolvam suas habilidades, expressem suas opiniões e participem ativamente da sociedade.
Percebi a importância da formação de professores e profissionais da área para a promoção da inclusão. Ao sensibilizar e capacitar esses profissionais, é possível criar ambientes de aprendizagem mais acolhedores e que respeitem as diferenças.
A construção de relações baseadas na confiança e no respeito mútuo é fundamental para uma convivência harmoniosa e inclusiva. A educação libertadora, que valoriza a diversidade e a autonomia, é essencial para a formação de cidadãos mais conscientes e empáticos.
O conceito de neurodiversidade é aprofundado, destacando que se trata de uma variação natural da neurologia humana e não de uma doença. O movimento da neurodiversidade busca a valorização das diferenças e a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
A Lei Berenice Piana, que instituiu o uso do cordão de fita com desenhos de girassóis para identificar pessoas com deficiências ocultas, é mencionada como um avanço na busca por maior visibilidade e compreensão das necessidades dessas pessoas.
Enfatizo a importância de superar a visão médica da deficiência e adotar um olhar mais social e humano. A inclusão de pessoas com deficiência é um processo contínuo que exige a colaboração de todos os setores da sociedade. Ao promover a acessibilidade comportamental e valorizar a neurodiversidade, estamos construindo um futuro mais justo e equitativo para todos.
A Evolução da Educação Profissional e a Inclusão de Jovens Aprendizes
Inicialmente, a educação profissional era destinada a ensinar ofícios a crianças e adolescentes órfãos ou considerados desvalidos, com o objetivo de integrá-los à sociedade e reduzir a criminalidade. Com o passar do tempo, a educação profissional passou a ser vista como uma forma de preparar a mão de obra para as demandas da indústria, mas ainda mantendo uma forte divisão entre a educação para as elites e a educação para os trabalhadores.
A criação de instituições capacitadoras no século XX, marcou um marco importante na profissionalização no Brasil, oferecendo cursos técnicos e profissionalizantes para jovens trabalhadores. No entanto, a inclusão de pessoas com deficiência ainda era um desafio, e essas pessoas eram geralmente segregadas em instituições especializadas.
Com a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), a educação passou por transformações significativas, garantindo o direito de todos à educação, incluindo as pessoas com deficiência. O Atendimento Educacional Especializado (AEE) foi institucionalizado, visando atender as necessidades específicas desses alunos.
Destaco o papel da capacitação de jovens aprendizes com deficiência, oferecendo cursos e capacitando seus professores para atender a essa demanda. A experiência que tive acesso demonstra que é possível promover a inclusão de jovens com diferentes perfis, respeitando suas individualidades e necessidades.
Afirmo que a educação profissional no Brasil evoluiu ao longo do tempo, passando por diferentes fases e concepções. Atualmente, a inclusão de jovens com deficiência é uma realidade cada vez mais presente, graças às políticas públicas e às iniciativas de instituições promotoras de ensino qualificado. No entanto, ainda há desafios a serem superados para garantir que todos os jovens tenham acesso a uma educação de qualidade e oportunidades de trabalho.
Aspectos Legais, Normativos e ESG na Inclusão de Pessoas com Deficiência
A interseção entre a legislação sobre deficiência, os conceitos de capacitismo e acessibilidade, e a importância das práticas ESG (Environmental, Social and Governance) no contexto da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Inicialmente, destaco a complexidade da deficiência, que varia em tipo, gravidade e temporariedade. A acessibilidade é definida como a possibilidade de uma pessoa com deficiência utilizar espaços e serviços de forma segura e autônoma. A ausência de acessibilidade é diretamente ligada ao capacitismo, um conceito que descreve a discriminação e o preconceito contra pessoas com deficiência, baseados na crença de que um corpo perfeito é sinônimo de capacidade.
A origem e a evolução do termo capacitismo, que se tornou fundamental para entender as barreiras enfrentadas pelas pessoas com deficiência. O capacitismo se manifesta de diversas formas, desde barreiras físicas até atitudes preconceituosas.
A importância das práticas ESG (Environmental, Social and Governance) para a inclusão de pessoas com deficiência. As empresas que adotam práticas ESG demonstram um compromisso com a diversidade, a inclusão e a sustentabilidade. Ao investir em acessibilidade, capacitação e criação de um ambiente de trabalho inclusivo, as empresas contribuem para um mundo mais justo e equitativo.
Destaco que a inclusão de pessoas com deficiência não se limita ao cumprimento de leis e normas, mas envolve uma mudança cultural e a adoção de práticas que valorizem a diversidade. Ao promover a inclusão, as empresas podem colher diversos benefícios, como a melhoria da imagem institucional, o aumento da produtividade e a atração de talentos.
Demonstro a importância de uma abordagem multidisciplinar para a inclusão de pessoas com deficiência, que envolve aspectos legais, sociais, culturais e econômicos. As práticas ESG oferecem um framework para as empresas que desejam promover a inclusão e construir um futuro mais sustentável e equitativo para todos.
Desafios da Inclusão de Jovens com Deficiência em Programas de Aprendizagem
Os desafios encontrados na implementação de um programa de aprendizagem para jovens com deficiência em uma empresa. Destaco o desafio no entendimento da importância da sensibilização e capacitação dos envolvidos, a necessidade de adaptar o ambiente de trabalho e a importância das práticas de gestão inclusivas.
Um dos principais desafios identificados foi a superação de preconceitos e mitos relacionados à capacidade das pessoas com deficiência. A pesquisa que pude realizar mostra que a sensibilização e a capacitação dos funcionários foram fundamentais para mudar essa percepção e criar um ambiente mais inclusivo.
A pesquisa que realizei destacou a importância de adaptar o ambiente de trabalho para atender às necessidades das pessoas com deficiência, garantindo a acessibilidade física e comunicacional. Além disso, a pesquisa ressaltou a necessidade de oferecer suporte individualizado aos jovens aprendizes, considerando suas particularidades e necessidades.
Enfatizo a importância de uma gestão inclusiva para garantir o sucesso da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. A empresa estudada serviu como exemplo de como é possível promover a inclusão através de práticas como a capacitação de funcionários, a adaptação do ambiente de trabalho e a criação de um clima organizacional inclusivo.
Ao compartilhar essas impressões reforço o desafio para implementar programas de inclusão. A pesquisa demonstra que a inclusão é possível e traz benefícios para todos os envolvidos. No entanto, é importante destacar que a inclusão é um processo contínuo que exige um esforço conjunto de empresas, governo e sociedade.
REFERÊNCIAS
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*Adm. Dr. Marcio Cesar Franco Santos é Coordenador Adjunto da Comissão Especial do Trabalho e Empregabilidade do CRA-RJ.