Um desafio real para a formação profissional superior no Brasil: como formar pensadores universais e não operadores de ferramentas!

*Prof. Adm. Carlos Alexandre Duarte Corrêa, M.Sc.

Ao longo das últimas décadas, temos testemunhado um crescimento exponencial na quantidade de profissionais formados pelas universidades ao redor do mundo. No entanto, mesmo com esse aumento na quantidade de diplomas concedidos, surge uma preocupação pertinente: estamos formando verdadeiros pensadores ou apenas operadores habilidosos de ferramentas? Será que nossos egressos conseguem pensar em questões locais e transversais? Ou apenas são tecnicistas preparados para operar tabelas de Excel ou Apps de soluções genéricas e globais?

É inegável que a habilidade técnica é fundamental em muitos campos profissionais, afinal, sem a aplicação final, na ponta, a discussão não terá um sentido muito prático e ficaríamos como o dito mais não feito. Isto nos levaria a uma sociedade dicotômica entre o fazer e o saber, sem sentido prático. 

Contudo, o valor de um diploma universitário vai além da simples capacidade de executar tarefas específicas. Deveria incluir o desenvolvimento de habilidades de pensamento crítico, análise profunda e resolução criativa de problemas. Infelizmente, em muitos casos, esses aspectos fundamentais têm sido negligenciados em prol do foco excessivo em habilidades técnicas.

As universidades, em sua missão de preparar os alunos para o mercado de trabalho, frequentemente se veem pressionadas a fornecer treinamento prático e especializado para garantir que os graduados sejam imediatamente empregáveis. Isso muitas vezes leva a um currículo centrado em habilidades específicas da profissão, em detrimento do desenvolvimento de uma mente crítica e inquisitiva. Talvez, a tão sonhada e discutida transversalidade, não seja temática, mas de competências!

É fato que a sociedade contemporânea enfrenta desafios complexos e em constante evolução, que exigem mais do que simplesmente a aplicação de técnicas aprendidas. Problemas como mudanças climáticas, desigualdade social e avanços tecnológicos sem desenvolvimento socioeconômico requerem soluções inovadoras e abordagens multidisciplinares. É aqui que os pensadores verdadeiramente se destacam.

Um graduado universitário que foi ensinado a pensar criticamente é capaz de abordar problemas de maneira holística, questionar suposições, analisar dados de maneira crítica e propor soluções criativas e eficazes. Eles não apenas aplicam o conhecimento adquirido, mas também o desafiam, expandem e adaptam conforme necessário.

Portanto, é imperativo que as universidades repensem sua abordagem e os modelos educacionais. Devem, através da busca pelas competências para o presente e numa prospecção para o futuro, equilibrar o ensino de habilidades técnicas com a promoção do pensamento crítico e da criatividade.

Isso pode ser alcançado por meio de uma variedade de métodos, como a integração de estudos de caso complexos, debates em sala de aula, projetos interdisciplinares e oportunidades de estágio que incentivem a aplicação prática do conhecimento em contextos do mundo real.

Além disso, é essencial que as universidades incentivem uma cultura de curiosidade intelectual, onde os alunos sejam encorajados a questionar, explorar e descobrir. Isso pode envolver a promoção de atividades extracurriculares, como clubes de debate, grupos de pesquisa e eventos de networking com profissionais de diversas áreas.

Para alcançar esse objetivo, é importante considerar as seguintes sugestões, para todo e qualquer tipo de formação universitária:

  • Tomada de Decisão: Introduzir estudos de caso e simulações que exijam que os alunos tomem decisões complexas, participativas em meio a diversidade profissional e em ambientes de incerteza.
  • Aprendizagem e Compreensão: Implementar métodos de ensino que promovam uma compreensão profunda de como aprender gradualmente, de forma autônoma, em vez de apenas memorização superficial e eternamente dependente.
  • Construção de Metodologias e Protocolos: Incentivar os alunos a compreenderem, analisarem e desenvolverem suas próprias abordagens metodológicas para resolver problemas, ao invés de simplesmente seguir protocolos predefinidos.
  • Liderança, Comunicação e Trabalho em Equipe: Promover atividades colaborativas que desenvolvam a compreensão de uma liderança, de uma comunicação profissional eficaz e de tudo que envolve a necessidade de se trabalhar em equipe.
  • Operação de Tecnologia: Integrar o uso de tecnologia de forma crítica, ensinando não apenas como usar as ferramentas, mas também como contribuir para o seu desenvolvimento, através de uma avaliação crítica de sua eficácia e impacto.

Estes pontos, podem não ser os definitivos para suprir esta discussão, mas sem dúvida, podem iniciá-la. A própria criação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), que funcionam como um balizamento estratégico para desenvolvimento do país apontam, ao se examinar criteriosamente cada curso por dentro dos parágrafos e incisos, estes grandes pontos de convergência. Afinal, por isso, universidade! O que há de universal por dentro das diretrizes de cada formação profissional no Brasil? O que alguns países mais desenvolvidos já viram e que nos falta um olhar mais atento, arrojado, contemporâneo e desapegado?

Ao fazer isso, as universidades não apenas garantem que seus graduados sejam profissionais qualificados, mas também cidadãos informados e engajados, capazes de enfrentar os desafios do mundo com confiança e criatividade. No final das contas, é essa capacidade de pensar criticamente e resolver problemas que impulsiona verdadeira inovação e progresso em todas as esferas da sociedade.

*Adm. Carlos Alexandre Duarte Corrêa é professor e conselheiro do CRA-RJ

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