Responsabilidade social nas organizações públicas e privadas
*Adm. Fatima Ribeiro
O presente trabalho tem o propósito de fomentar uma compreensão crítica sobre o tema Responsabilidade Social, buscando envolver todos na questão. No entanto, antes de abordar o tema propriamente dito, precisamos falar sobre algumas questões que levam a questão sobre a Responsabilidade Social, como:
DESIGUALDADE SOCIAL – Atribuída à falta de oportunidades para alguns, ocasionando problemas que devem ser revistos com políticas públicas e planos que demonstrem a preocupação em mitigar os efeitos que decorrem desses problemas, através de evidências bem definidas:
Desigualdades socioespaciais (Favelas) evidentes na paisagem urbana brasileira, com a disseminação de condomínios residenciais de luxo e o crescimento de bairros pobres, caracterizados por moradias em favelas ou loteamentos clandestinos com pouca ou nenhuma infraestrutura;
Discriminação e marginalização social da população mais carente;
Baixo acesso e até mesmo ausência de redes de serviços essenciais, que vão desde saneamento até o transporte urbano;
Fragilização de áreas de risco, como encostas de morros, o que pode ocasionar deslizamentos de terra com consequências graves para os moradores dessas áreas;
Problemas como alagamentos, enchentes e enxurradas;
Falta de acesso à educação de qualidade faz com que indivíduos com pouca ou nenhuma formação enfrentem dificuldades para melhorar sua condição ao longo da vida, enquanto aqueles que nascem em famílias mais abastadas têm mais oportunidades de estudar e, consequentemente, alcançar uma posição socioeconômica mais favorável na vida adulta.
Desemprego – A taxa de desocupação do trimestre encerrado em janeiro de 2024 ficou em 7,6%. Este resultado representa a menor taxa para o período desde 2015. O índice está abaixo do registrado no trimestre terminado em janeiro de 2023, que foi de 8,4%.
Saúde Pública – No que diz respeito à organização da saúde pública no Brasil, existem três níveis de atenção: básica/primária, secundária/especializada e terciária/hospitalar. Os problemas de saúde podem ocorrer em todos esses níveis, muitas vezes em uma sequência em cascata, em que as complicações surgem como consequência umas das outras, resultando em uma situação de deterioração progressiva. O principal afetado por esse sistema é o paciente, com:
- Falta de assistência básica no cuidado ao paciente
- Falta de leitos disponíveis para os atendimentos
- Atendimento pouco humanizado
- Alta rotatividade dos profissionais de saúde
- Sucateamento dos recursos tecnológicos em saúde
- Gestão ineficiente do sistema de saúde
- Desconhecimento da população sobre o acesso a medicamentos
- Lentidão e muita burocracia para atendimento ao paciente
Entretanto a Responsabilidade Social, tenta resgatar o conceito de CIDADANIA, que define os direitos do cidadão (direitos civis, políticos e sociais) essenciais para garantir uma sociedade justa e equitativa. Esses direitos fundamentais asseguram a liberdade, a participação democrática e o acesso a serviços e oportunidades básicas para todos os membros da sociedade, promovendo a igualdade de direitos e oportunidades.
Assim define-se como Cidadão pleno aquele que possui os três direitos fundamentais: civis, políticos e sociais. Isso implica ter acesso e desfrutar dos direitos civis, que garantem liberdade de expressão, de locomoção e outros direitos fundamentais; dos direitos políticos, que englobam o direito ao voto e à participação no governo; e dos direitos sociais, que incluem acesso à saúde, educação, moradia digna e outros benefícios sociais.
E infelizmente nesse cenário, também se encontram os cidadãos incompletos, aqueles que possuem apenas alguns desses direitos. Por exemplo, alguém pode ter direitos civis e políticos, mas não ter acesso adequado aos direitos sociais, ou vice-versa. Essa situação de desigualdade na garantia e exercício dos direitos pode resultar em uma sociedade fragmentada e injusta. Portanto, é essencial trabalhar para garantir que todos os cidadãos tenham acesso pleno e igualitário aos direitos civis, políticos e sociais.
Assim alguns autores entendem como essência da responsabilidade social adotar atitudes benéficas e proativas para a sociedade e o meio ambiente com estratégia que engloba ações voluntárias realizadas por empresas visando o benefício da sociedade como um todo. Essas ações não se restringem apenas ao âmbito externo da organização (pública e privada), mas também incluem iniciativas voltadas para o público interno, dando significado ao artigo. Devido a peculiaridade do assunto a Responsabilidade Social pode ser trabalhada em três segmentos, a saber:
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA- RSC – que envolve a criação e implementação de estratégias e ações diretamente relacionadas ao ambiente de negócios da empresa, visando não apenas o lucro, mas também o bem-estar das pessoas e a sustentabilidade do meio ambiente. Isso inclui práticas como o respeito aos direitos humanos, a promoção da diversidade e inclusão, a redução do impacto ambiental das operações empresariais, entre outras iniciativas que contribuem para um mundo mais justo, equitativo e sustentável.
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL – R S E – cujo conceito é bastante semelhante ao de RSC, vai além do desenvolvimento da responsabilidade social apenas para os indivíduos diretamente envolvidos no negócio, ampliando seu campo de atuação. São elaborados campanhas e planejamentos que beneficiam não apenas os stakeholders (todos os grupos interessados na empresa, como funcionários, clientes, fornecedores, acionistas, entre outros), mas também a sociedade em geral.
RESPONSABILIDADE SOCIAL AMBIENTAL – RSA – pode ser considerada uma das maneiras mais atuais e completas de uma empresa ser socialmente responsável.
Os três segmentos de Responsabilidade Social – RSC, RSE e RSA – podem ser aplicados em diferentes instituições, permitindo que contribuam de maneira significativa para o desenvolvimento sustentável e o progresso social.
Essas abordagens não apenas beneficiam a empresa em termos de reputação e competitividade, mas também geram impactos positivos duradouros nas comunidades e no meio ambiente em que operam.
Quando se fala em Responsabilidade Social se faz necessário abordar a Ética Empresarial como princípios e padrões que orientam os procedimentos no mundo dos negócios. O comportamento ético das organizações é a base da responsabilidade social.
Nas Organizações Públicas a Responsabilidade Social é vista como o cumprimento e a superação das obrigações legais pertinentes à organização, que representam os anseios da sociedade.
Já nas Organizações privadas é entendida como forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e corresponsável pelo desenvolvimento social.
Uma Empresa Sustentável preocupa-se desde o impacto ambiental até a responsabilidade social perante funcionários, consumidores, fornecedores e investidores.
A sustentabilidade nas empresas pode ser alcançada quando são considerados quatro pilares principais:
- Econômica e financeiramente viáveis: Isso implica que as empresas devem ser capazes de operar de forma rentável e sustentável ao longo do tempo, garantindo lucratividade e continuidade dos negócios.
- Socialmente justas: As empresas devem adotar práticas e políticas que promovam a equidade, a diversidade e o respeito aos direitos humanos. Isso inclui proporcionar condições de trabalho seguras e dignas, remuneração justa, oportunidades de desenvolvimento e contribuições positivas para as comunidades em que estão inseridas.
- Culturalmente aceitas: Isso significa que as empresas devem respeitar e valorizar as diversas culturas presentes em suas operações, evitando práticas discriminatórias e promovendo a inclusão e o diálogo intercultural.
- Minimizar seu impacto ambiental: adotando medidas para, incluindo a redução do consumo de recursos naturais, a minimização da geração de resíduos, o uso de energias renováveis e a adoção de práticas de produção limpa. Isso contribui para a preservação dos ecossistemas e para a mitigação das mudanças climáticas.
Quando uma empresa considera esses quatro aspectos em suas operações e estratégias de negócios, ela está agindo de forma sustentável, promovendo o equilíbrio entre os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais do desenvolvimento.
Ação Social surge quando os problemas se apresentam de forma urgente, exigindo uma resposta imediata e direta para lidar com as necessidades imediatas da comunidade ou de um grupo específico. Essas ações geralmente são tomadas de forma rápida e muitas vezes emergencial para fornecer assistência imediata, como distribuição de alimentos, abrigo temporário em situações de desastre, assistência médica de emergência, entre outras intervenções diretas.
Projetos Sociais são iniciativas mais estruturadas e planejadas que envolvem uma análise detalhada dos problemas, o desenvolvimento de objetivos específicos e a elaboração de um plano de ação com etapas a serem cumpridas e resultados a serem alcançados ao longo do tempo. Esses projetos geralmente têm um escopo mais amplo e visam resolver problemas sociais de forma mais abrangente e sustentável. Eles podem envolver diversas atividades, como capacitação profissional, educação, promoção da saúde, geração de renda, entre outras, e são geralmente desenvolvidos em colaboração com várias partes interessadas, incluindo membros da comunidade, organizações não governamentais, setor privado e governo.
TERMOS USADOS EM RESPONSABILIDADE SOCIAL
O BALANÇO SOCIAL é um instrumento de divulgação utilizado pelas organizações para apresentar informações detalhadas sobre seus projetos e ações sociais, bem como o uso e aplicação concreta dos recursos destinados a essas iniciativas. Além disso, o balanço social registra informações que são legalmente obrigatórias, como indicadores de desempenho social, ambiental e econômico, visando fornecer uma visão abrangente das atividades e do impacto da empresa em diferentes áreas da sociedade. Essa ferramenta é importante não apenas para prestação de contas aos stakeholders, mas também para promover a transparência e a responsabilidade social corporativa.
Marketing Social é o conjunto estratégico de peças e instrumentos utilizados para divulgar as ações das organizações socialmente responsáveis, tanto internamente, entre os colaboradores e membros da organização, quanto externamente, em suas relações com a comunidade e demais partes interessadas. Essa forma de marketing tem como objetivo principal promover e comunicar os valores sociais da organização, destacando seu compromisso com a responsabilidade social e seu impacto positivo na sociedade. Por meio do marketing social, as empresas buscam não apenas fortalecer sua imagem e reputação, mas também engajar stakeholders e estimular a participação em iniciativas sociais e ambientais.
Funcionários voluntários são os colaboradores internos que se dedicam, de forma voluntária e sem nenhum tipo de ônus ou obrigação, a participar em projetos de natureza social promovidos pela organização. Eles podem realizar essas atividades durante o período normal de trabalho ou fora dele, conforme a política e os procedimentos estabelecidos pela empresa. Esses funcionários contribuem com seu tempo, habilidades e energia para apoiar iniciativas sociais, demonstrando seu compromisso com a responsabilidade social corporativa e ajudando a promover o engajamento da empresa na comunidade e na promoção do bem-estar social.
…SOMOS TODOS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS
- Socialização familiar: Os valores de responsabilidade social podem ser transmitidos desde cedo, ensinando as crianças sobre empatia, solidariedade, respeito ao próximo e cuidado com o meio ambiente.
- Educação formal: As instituições educacionais desempenham um papel crucial na promoção da responsabilidade social, incorporando temas como cidadania, direitos humanos, sustentabilidade e ética em seus currículos.
- Grupos de convivência social: Participar em grupos de convivência social, como clubes, associações de bairro ou organizações comunitárias, pode oferecer oportunidades para engajar-se em projetos sociais e contribuir para o bem-estar da comunidade.
- Formação profissional: Empresas e organizações podem promover a responsabilidade social entre seus funcionários, oferecendo programas de voluntariado, incentivando práticas sustentáveis no local de trabalho e envolvendo-se em iniciativas de responsabilidade social corporativa.
- Ambiente: A conscientização sobre a importância da sustentabilidade ambiental pode influenciar o comportamento das pessoas em relação ao uso de recursos naturais, reciclagem, redução de resíduos e adoção de práticas ambientalmente responsáveis.
Ao integrar a Responsabilidade Social em todas essas esferas da vida, podemos contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, solidária, sustentável e ética.
A AGENDA 2030
É um importante guia adotado pela comunidade internacional para promover o desenvolvimento sustentável em escala global até o ano de 2030. Foi adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas(ONU) em setembro de 2015 e é composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), acompanhados por 169 metas específicas. O objetivo geral da Agenda 2030 é garantir uma vida digna para todos, dentro dos limites do planeta, promovendo um desenvolvimento sustentável que leve em consideração as necessidades das gerações presentes e futuras. Os ODS e suas metas fornecem um plano de ação abrangente e integrado que orienta os esforços dos governos, organizações da sociedade civil, setor privado e cidadãos em direção a um futuro mais justo, próspero e sustentável para todos. A implementação eficaz da Agenda 2030 requer uma abordagem colaborativa e coordenada em todos os níveis, desde o local até o global, visando alcançar um progresso significativo em todas as áreas contempladas pelos objetivos até o ano de 2030.
Apoio
- FURTADO, Tania Regina da Silva (colaboradores) – Responsabilidade Social e ética em organizações de Saúde – FGV, 2011
- TENÓRIO – Fernando Guilherme (org.) – Responsabilidade social organizacional – teoria e prática, Rio de Janeiro, Edit. FGV, 2004
- CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2004.
- FISCHER, M. F. O Desafio da Colaboração, Práticas de Responsabilidade Social entre Empresas e Terceiro Setor, São Paulo, Gente, 2002,
- TENÓRIO – Fernando Guilherme. Tem Razão a Administração? Rio Grande do Sul: Unijui, 2002
- MELO Francisco Paulo e FROES, César – Gestão de Responsabilidade Social Corporativa: O Caso Brasileiro – Rio de Janeiro, Qualitymark, 2001
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*Adm. Fatima Ribeiro é coordenadora da Comissão Especial em Administração de Serviços de Saúde do CRA-RJ.