O que a gestão deve aprender com a tragédia de Brumadinho*

Foto: Agência Brasil

O Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro está profundamente abalado com o ocorrido com a barragem de Minas Gerais que deixou a cidade de Brumadinho debaixo de lama e rejeitos de mineração, onde foram perdidas centenas de vidas humanas, animais e toda a vegetação local. Tal qual já havia ocorrido há três anos, em Mariana (MG).

O que foi aprendido nesse período pela gestão das empresas mineradoras? O que ainda pode acontecer? O que será feito para evitar novos desastres e crimes ambientais dessa monta? É preciso que todo o Conselho Administrativo dessas grandes organizações se movimente e seja extremamente eficaz no combate a esta crise, mas, e principalmente, no que deve ser feito daqui para frente a fim de respeitar as leis ambientais, respeitar o meio em que cada barragem está inserida e, acima de tudo, respeitar aqueles que estão trabalhando, já que este, sem dúvidas, foi o maior acidente de trabalho de toda a história brasileira.

É evidente que o futuro deverá ser devidamente analisado pelos gestores desta e de todas as empresas mineradoras do país. No entanto, como profissional de Recursos Humanos que fui durante grande parte da minha vida, preciso declarar que muito me preocupa a forma com que os colaboradores e familiares de mortos e desaparecidos serão tratados. É preciso ter humanidade e capacidade gestora nesse momento já tão difícil para todos.

Foto: Isac Nóbrega/PR – Agência Brasil

No que tange ao Rio de Janeiro, também me deixa apreensivo saber da existência de barragens tão ou mais prejudicadas do que a de Brumadinho e que precisam ser extremamente bem vistoriadas e analisadas pelos respectivos órgãos de controle, conforme matéria publicada ontem no Jornal O Dia. É imprescindível que esta tragédia seja um marco, um turn point para que a gestão das empresas responsáveis passe a enxergar de forma clara que a segurança e a infraestrutura destas construções devem ser alvo de projetos, programas e de constantes vistorias e manutenções.

Infelizmente, é a segunda vez que passamos por algo tão doloroso e catastrófico em tão pouco tempo, mas que o grande Carlos Drummond de Andrade já parecia prever, nos idos de 1984, pouco antes da sua morte. À época, diversas empresas, atraídas pelas reservas de ferro e nióbio, se instalaram em sua cidade natal, Itabira, em Minas Gerais. Isto levou nosso poeta a escrever o seguinte poema:

“Lira Itabirana”

I

O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV

Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

O progresso? Ah, é inevitável e certamente necessário. Contudo, fatores ambientais/naturais, humanos e de responsabilidade social precisam ser altamente levados em conta por todos os gestores, de todas as coordenadorias e de todas as empresas que assim trabalham e extraem da natureza o seu potencial.

Fica aqui nosso profundo consternamento pela tragédia do dia 25 de janeiro de 2019 e também nossa esperança de que melhores condições e decisões sejam tomadas a partir de agora.

*Adm. Wallace Vieira
Presidente do CRA-RJ

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