REBORN
Uma mulher chega ao posto de saúde com um bebê no colo, e, no ato de ser atendida pelo médico, diz: “doutor, meu bebê está com febre”. O profissional, ao examinar a criança, percebe que se trata de uma boneca. E agora? Esta cena inusitada, que até poderia ser classificada como uma paranoia, tem se repetido em várias cidades no Brasil e vem se tornando uma rotina no meio social. Esta boneca é classificada como “reborn”, termo em inglês que significa “renascido”. No contexto, refere-se ao processo de transformar uma boneca comum em uma representação hiper-realista de um bebê recém-nascido, onde recebe pintura, detalhes de pele, cabelos e outras características para assemelhar com uma criança de verdade.
Os bebês reborn surgiram na década de 1990 como peça de arte, caracterizados pela alta qualidade técnica empregada na sua fabricação. Inicialmente eram utilizados como objetos de decoração e de colecionadores. Com o passar do tempo começaram a ser empregados como ferramentas terapêuticas para situações de luto, demência, isolamento e até mesmo Alzheimer, sob a justificativa de que a representação de um bebê ajuda a externalizar emoções complexas e proporcionar conforto emocional. Para a Psicóloga e Psicanalista Larissa Fonseca, os bebês reborn podem funcionar como um “objeto transicional” em processos de luto ou no combate à depressão, além de estimular cuidado, afeto e retomada do amor.
Fato é que esta prática tem instigado manifestações de diversos setores da sociedade, do meio econômico ao médico; do político ao jurídico, passando pelo religioso. Em Goiás, conforme matéria publicada na Gazeta do Povo, uma advogada compartilhou um vídeo contando que uma cliente a procurou para regularizar a guarda de um bebê reborn com o antigo parceiro, alegando que outro não solucionaria a questão, em razão do apego emocional estabelecido.
Uma reportagem recente mostrou um especialista em trânsito orientando como transportar um reborn dentro de um carro. Disse ele que há necessidade de uma cadeirinha, porém justificou: “o deslocamento da boneca no carro em movimento pode tirar a atenção do motorista e contribuir para um acidente. Disse ainda que a ausência desse equipamento pode ocasionar multa”. E nas filas, onde mulheres com bebês no colo têm preferência? É uma pergunta que fica no ar.
No meio econômico existe um imenso caminho de oportunidades para empreendedores. Assim como acontece no nicho Pet, este novo segmento vem provocando demanda para casas de festas com temática reborn; acessórios de diversas espécies; salões de beleza, entre outros, e, é claro, vai fazer a festa dos psiquiatras.
Na Espanha existe uma empresa que fabrica bebês avatares e bebês robóticos com movimentos (animatrônicos) que, entre outras coisas, podem arrotar após ser amamentados, pedir colo e outras funcionalidades, acionados por sensores. Um novo modelo, o Babyclon AI 2.0, pode chorar, por sono ou para trocar fralda. Mas não para por aí, está sendo lançado agora o “adulto reborn”, homem ou mulher, cujos preços chegam a 50 mil reais.
Especialistas de diversas áreas estão estudando este fenômeno social, e a conclusão que têm chegado é de que acreditar no próximo tornou-se uma tarefa difícil. O evangelista bíblico Mateus escreveu, conforme registrado no capítulo 24, verso 12: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará”. Este apego ao bebê reborn está confirmando a relação das pessoas com as tecnologias, evidenciando a superficialidade das relações e a dificuldade de firmar relacionamentos afetivos com outros humanos.
Certo estava Albert Einstein ao dizer: “Se tornou aparentemente óbvio que nossa tecnologia excedeu nossa humanidade”.