Mercado: Invenções e Inversões da Lógica de Funcionamento
Ao longo dos últimos anos tenho podido conviver, de forma consistente, com uma série de profissionais de mercado de diferentes camadas e extratos, que vão desde operários e comerciários até executivos e empresários bem-sucedidos. Esse convívio tem conferido a mim uma visão, claramente, ampliada a partir de diferentes visões, lógicas e experimentações. Falo sobre diferentes perspectivas de compreensão desta figura quase mítica, na sociedade atual, chamada “mercado”. Essa entidade que parece modelar ações e comportamento de pessoas e organizações.
Não se pretende aqui, a partir desta pequena reflexão, reconstruir visões, realidades e sociedade. Ninguém quer inventar a roda! Aliás, cada vez mais, as pessoas parecem procurar e procurar inventores de roda, ao mesmo tempo que parecem não aguentar mais inventores e inventores que se sucedem e que criam teias de facilidades e complexidades que parecem muito reais em meio a um contexto nebuloso de mudanças maiores pelas quais o mundo parece passar.
A questão é: será que tudo é diferente mesmo? Será que tudo mudou mesmo? Será que as pessoas são outras, mesmo? A partir disso, será que a roda precisa ser reinventada? E outra: a roda ser reinventada, quer dizer recriada, ou apenas adaptadas às progressões das necessidades em função do desenvolvimento da humanidade?
Qualquer que seja sua questão ou sua resposta para as questões acima, ela pode te colocar em uma grande bolha de lógicas e que se apoiam nas próprias “lógicas algorítmicas” que facilitam nosso trabalho de busca e encontros em meio ao mar de informações e conhecimento realtime existentes em nossa vida.
Se estivéssemos na época dos grandes filósofos, talvez fosse essa crise existencial um belo combustível para as discussões, contudo, os alicerces da construção que deu base às evoluções e revoluções já foi consolidado e cabe a nós o entendimento e recalibragem de comportamentos e ações a fim de manter-nos na trilha (não no trilho), da nossa evolução lenta e constante.
Visões diferentes podem ser muito interessantes para ajudar-nos no processamento individual da lógica vigente, bem como, na difusão de uma realidade ampliada e que nos proporcione foco. Aqui é onde desejaríamos dar o recorte: Realidade x Mercado! A entidade e a perspectiva que se tem deste.
Neste ponto, alguns questionamentos surgem: pode-se dizer que, de forma consistente, a humanidade mudou totalmente ao ponto de fazermos as coisas de forma diferente? Seja em termos de comportamentos ou de desejos? Nossas necessidades mudaram, claramente? Perdemos nossa vontade de pegar, de abraçar (mesmo que seja na tela), de cheirar, de provar, de arriscar (especialmente na juventude) ou de nos relacionar (mesmo que à distância)? Acredito que uma resposta sensata seria um desconfiado, porém lógico: não!
E, sendo assim, como poderemos imaginar empresas atendendo a essas pessoas migrando totalmente para um mundo online e que nos cerceie totalmente esta condição? Algumas coisas que nós vimos lá na década de 80, para não ir muito longe, estão presentes hoje e continuam fazendo sentido. Nada como pegar na prateleira da loja, antes de pagar! Nada como abraçar antes de beijar! Nada como dar a primeira ‘bola dentro” no trabalho! E como é legal quando a gente pode “comprar ali na esquina” o que a gente está precisando ou comer aquela pizza sem precisar entrar no carro e dirigir por 10 minutos!
Se esse raciocínio for lógico e, mais do que lógico, real, por que se busca, cada vez mais, uma visão distante e descolada da nossa realidade, atualmente? Porque a referência na tela do nosso celular é distante, longe do bairro, longe da realidade que vivemos, por vezes, longe de tudo que está a nosso alcance?
Tenho ouvido empresários que ajudaram a consolidar todo um modo de vida, um mercado de trabalho, uma realidade construída e que nos fez chegar até aqui e ainda há uma lógica irrefutável que permeia a visão que é: a vida acontece na vizinhança! No bairro! Não dentro do online! Online, podem até estar nossas fotos (reais ou fabricadas), nossas opiniões (próprias ou “roubadas”), mas nossos sentidos e sentimentos reais, estão “ao lado”.
Dessa forma e, para encerrar o início desta discussão, gostaria de propor uma reflexão que temos feitos nos grupos que convivo hoje em busca de compreender melhor transformação e mundo: é possível voltar a desenvolver mercados, percepção e pessoas à distância, olhando para outros contextos, vivendo vidas que não são nossas, com fotos que não correspondem ao nosso contexto? Até seria possível, se não abandonássemos as dores do real. “Olho para lá…. miro lá! Contudo parto daqui, destas dores, deste local e percorro a trilha!” Mas isso, a compreensão do local e do seu desenvolvimento como solução econômico-social do país, é papo para um outro texto! Chegaremos lá!
*Adm. Carlos Alexandre Duarte Correa é conselheiro do CRA-RJ, mestre em Administração e desenvolvimento empresarial e especialista em Gestão de Tecnologia e Negócios.