Gestão estratégica: Planejar é preciso, improvisar não é preciso

“Navegar é preciso, viver não é preciso”

Inspirado na frase de antigos navegadores portugueses e magistralmente usada em famoso poema de Fernando Pessoa, ouso criar um jargão para introduzir o meu tema: PLANEJAR É PRECISO, IMPROVISAR NÃO É PRECISO. Que fique entendido que o primeiro preciso é no sentido de ser imprescindível e o segundo como imprecisão e, portanto, inadequado na prática de um bom gestor.

As organizações que cuidarem da sua gestão, entendendo que precisam ter visão holística e atuação sistemática e participativa, terão fatalmente melhor desempenho. Elas lidam com tal complexidade na interação entre o ambiente externo e interno, que se torna impossível uma correta tomada de decisões no dia a dia, sem um estudo prévio profundo e acompanhamento sistemático de dados, gerando informações consistentes para ação.

Muitos autores e palestrantes da ciência da administração utilizam fatos históricos importantes para exemplificar processos de gestão bem-sucedidos e muitas vezes deixam a impressão que apenas a capacidade de improvisar e bom senso são suficientes. Descartes no ‘Discurso do Método’, escrito em 1637, já alertava para o perigo disso.

Um dos fatos mais explorados é o terremoto de Lisboa, em 1755. Além da magnitude do desastre que causou, tornou-se também um marco de mudança do pensamento filosófico, sob vários ângulos. O Sismo ocorre no dia 1º de novembro, Dia de Todos os Santos, e a população de Lisboa em sua maioria estava nas igrejas. A quantidade de velas acesas aumentou também os incêndios, agravando os danos. Foi um dos desastres naturais mais mortal do mundo.

A interpretação inicial era de que Lisboa, uma grande metrópole de um grande Reino, com mosteiros e castelos monumentais e importantes, estava sendo punida por Deus pela opulência e licenciosidade. Kant, Voltaire e Rousseau, filósofos iluministas, conseguem mudar tal entendimento na Europa, defendendo e escrevendo intensamente sobre ele. Defendem até que se houvesse que ter punição, não seria Lisboa e sim Paris ou Londres, muito mais libertinas. O terremoto, então, passa a ser encarado como uma ação da natureza e não divina.

O evento também se torna famoso pela gestão de reconstrução da cidade. Tudo começa com a famosa frase, em resposta ao questionamento do que fazer do Rei D. José I, que muitos atribuem ao Marquês de Alorna, general Pedro D’Almeida, e outros tantos ao Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo: “SEPULTAR OS MORTOS, CUIDAR DOS VIVOS E FECHAR OS PORTOS”. O inegável é que a reconstrução foi conduzida por Pombal.

A frase, em muitas pessoas, soa com o sentido de rápidas ações sem planejamento, o que é um grande engano. Pombal, como cartesiano e simpatizante das teorias iluministas, fez os engenheiros do Reino percorrerem toda a área destruída e conversar com os sobreviventes. Ele é considerado o precursor dos estudos sismográficos. Após entenderem como se deu a destruição, Lisboa foi reerguida com novos conceitos de engenharia. Paredes com colunas e vigas de madeira, para dar flexibilidade, e ruas mais largas, para evitar o efeito dominó em sismos.

A gestão estratégica tem sido objeto de estudos ao longo do desenvolvimento da Ciência da Administração, muitas práticas e tecnologias surgem, mas nada que fuja de atuar em: PROCESSOS — PESSOAS — TECNOLOGIA. Os processos organizacionais e o correto equilíbrio entre a utilização das pessoas e da tecnologia são os fatores que permitem a otimização do desempenho e consequente eficácia. O próprio processo de ajustamento da organização e estratégia precisa ser constante, principalmente em função da velocidade das mudanças no mundo atual. O ciclo PDCA (planejar, executar, controlar e agir) de forma sistemática precisa ocorrer para uma adequada Gestão estratégica.

Em muitos países criaram-se metodologias para poder comparar a gestão das organizações, sem prescrição da tecnologia mais adequada, para poder premiar as de melhor desempenho, com os conhecidos Prêmios Nacionais da Qualidade. No Brasil, a FNQ (Fundação Nacional da Qualidade) vem desde 1991 aprimorando uma metodologia e concede um prêmio anual, que hoje se chama, Prêmio de Excelência em Gestão. A FNQ utiliza oito princípios que as concorrentes precisam demonstrar que realizam e como fazem, para pontuar. Entendo que, se servem para comparar e premiar, servem também como modelo para implantar uma gestão com excelência. Os princípios são: desenvolvimento sustentável, adaptabilidade, pensamento sistêmico, compromisso com as partes interessadas, liderança transformadora, gestão por processos, aprendizado organizacional e inovação e geração de valor.

As organizações precisam entender que sua sobrevivência está intimamente ligada ao adequado modelo de gestão que adotam.

*Adm. Luiz Cezar Vasques é Conselheiro e Diretor de Planejamento e Relações Institucionais do CRA-RJ

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