Estoicismo

Estoicismo – o mundo perfeito

EstoicismoCerta vez, durante uma aula, um aluno me fez uma pergunta: “Como encontrar o mundo perfeito?” Dei uma resposta simples e direta: “Tire o homem do mundo”. O que distorce a paz, a harmonia, e outros fatores de equilíbrio são os sentimentos negativos que tomam conta das pessoas, tais como, ganância, inveja, vaidade e maldade. Senão, fora isso, o mundo seria perfeito, tal qual a concepção divina.

Na Grécia Antiga floresceu uma escola filosófica que pregava a virtude para alcançar a “eudaimonia”: uma vida bem vivida, isto é, a felicidade. Os “estoicos” indicavam o caminho para alcançá-la através da prática de quatro virtudes na vida cotidiana: coragem, temperança, justiça e sabedoria. Esta escola foi criada na Ágora (praça principal) de Atenas por Zenão de Cítio (333 a.C. – 263 a.C.), filósofo grego. O estoicismo, isto é, o mundo perfeito, é baseado na resiliência, numa ética vigorosa tendo a natureza como modelo. Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.), filósofo e intelectual romano, disse certa vez: “A riqueza não consiste em ter grandes posses, mas em ter poucas necessidades”, completando com outra frase: “Se um homem não sabe para qual porto navega, nenhum vento lhe é favorável”. Aí está a grande verdade da vida, as pessoas nunca estão satisfeitas, sempre querem mais, e isto as tornam infelizes.

A busca pelo poder e riquezas tem tirado o homem do foco do verdadeiro sentido da vida; encontrar a harmonia, em todos os sentidos. Assim nos ensina a natureza, pois está em perfeito equilíbrio. A Bíblia tem o registro de um período em que a humanidade encontrou esta estabilidade, quando as necessidades foram iguais à sua satisfação. Relatado no livro de Êxodo, capítulo 16, o texto diz que Deus enviava todas as manhãs o “Maná” que servia como alimento para todo o povo. A quantidade era conforme a necessidade das famílias e servia apenas para Clésio Guimarães um dia. Quem colhia além do que necessitava, perdia, pois estragava. Não havia ganância, exploração do homem pelo homem, todos ficavam satisfeitos e felizes.

No século XVI surgiu o comunismo, retratado pelo escritor e poeta Thomas Moore (1779 – 1852), quando, em sua obra Utopia, retratou uma sociedade baseada na propriedade comum, cujos governantes administravam por meio da aplicação da razão. Entretanto, o comunismo perdeu seu sentido ao se tornar movimento socialista, no momento em que se confrontou com o avanço do capitalismo, impulsionado pela Revolução Industrial (século XVIII), transformando-se em luta de classes; em lugar de unir, acabou dividindo a sociedade, sendo demonizado nos países capitalistas. Mas o comunismo, na sua forma pura, nada mais é do que o estoicismo, em razão da sua atemporalidade por abordar temas sempre presentes na vida de todos os seres humanos, como ensinar a lidar com a adversidade e com as emoções negativas, ajudando as pessoas a se conhecerem melhor.

Quando observamos as promessas, no discurso dos candidatos a cargos políticos eletivos, temos a impressão de que entraremos num mundo perfeito, todos os problemas resolvidos, povo feliz, salários justos, educação, saúde, esporte e lazer para todos, de forma igualitária. Passadas as eleições, os eleitos de primeiro mandato se deparam com a realidade, constatando a inviabilidade de realizar suas propostas, e os de carreira, que continuaram, simplesmente retiram a máscara de benfeitores, ignorando as promessas. No entanto, ser estoico não significa ser deprimido, apenas é não se deixar enganar com as promessas do mundo.

Bem disse Zenão de Cítio, pai do estoicismo: “É melhor tropeçar com os pés do que com a língua”.

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