Ensaio sobre alinhamento estratégico por meio da integração do propósito, processos e pessoas

1. INTRODUÇÃO

Alcançar o alinhamento estratégico ainda é um desafio para as organizações em busca de crescimento no cenário empresarial atual.

Henderson e Venkatraman (1993) e outros autores estabeleceram as bases para compreender a relação entre estratégia de negócios e tecnologia da informação, enfatizando que o sucesso organizacional depende da integração desses dois elementos. No entanto, essa abordagem evoluiu para incluir dimensões além das perspectivas tradicionais.

Em um ambiente organizacional marcado por uma constante transformação digital e dinâmicas empresariais crescentes, é essencial adotar uma visão mais abrangente na avaliação do alinhamento estratégico.

A abordagem proposta pelo autor se baseia em três pilares fundamentais: o propósito que guia a organização, os processos que sustentam o propósito e as pessoas, que são os agentes da transformação.

A sinergia resultante da integração desses elementos vai além da simples otimização do desempenho, incentivando a busca por uma vantagem competitiva duradoura que se torna um ativo valioso para o crescimento e a longevidade da organização diante dos desafios do mercado.

O objetivo deste artigo é apresentar uma nova forma de pensar sobre o alinhamento estratégico, de modo a torná-lo mais abrangente e alinhado com a gestão organizacional.

2. O PROPÓSITO: Fundamento da Coerência Estratégica

O propósito organizacional ultrapassa uma simples declaração de missão e representa o DNA estratégico que permeia a organização.

Simon Sinek (2009) argumenta que organizações orientadas por um propósito genuíno têm maior capacidade de inspirar colaboradores e stakeholders, facilitando a integração das iniciativas organizacionais e criando um pensamento comum, um modelo mental compartilhado, que facilitará o entendimento e a união (comunhão) de todos os envolvidos em uma mesma direção.

Do ponto de vista do alinhamento estratégico, o propósito atua como um critério decisório, definindo prioridades e influenciando comportamentos. Esse papel unificador do propósito é particularmente evidente em contextos complexos, onde estratégias competem por recursos e pela atenção da gestão.

A literatura sobre gestão estratégica reconhece que organizações com um propósito claro e amplamente internalizado possibilitam um desempenho superior. Essa vantagem não se limita à motivação dos funcionários, mas resulta da coerência estratégica que surge quando as decisões são informadas pelo propósito compartilhado.

3. PROCESSOS: Execução da Estratégia

Os processos organizacionais representam a expressão tangível da estratégia, ao transformarem as diretrizes em ações quantificáveis passíveis de um acompanhamento sistematizado.

Thomas Davenport (1993) demonstrou como a abordagem por processos pode melhorar a capacidade, contribuir para a geração de valor e estabelecer uma relação direta entre eficiência operacional e vantagem competitiva.

No contexto do alinhamento estratégico, os processos desempenham um papel essencial na implementação das estratégias e, além disso, fornecem feedback sobre a efetividade das decisões.

Essa interação transforma os processos e seus indicadores de desempenho em sensores organizacionais, capazes de detectar sinais tanto internos quanto externos e informar a necessidade de refinamento estratégico.

A aliança de processos com sistemas de informação possibilita o aprimoramento da capacidade de monitoramento e controle organizacional, permitindo que se redesenhem processos de forma a promover melhorias contínuas.

4. PESSOAS: Catalisadores da Transformação

O papel das pessoas no alinhamento estratégico é, por vezes, subestimado, apesar de sua grande importância para o sucesso organizacional.

Reich e Benbasat (2000) mostraram que o alinhamento entre as lideranças na comunidade interna é mais indicativo de sucesso do que estratégias formais. O alinhamento estratégico não é apenas consequência de uma estrutura organizacional ou de um planejamento, mas surge das interações sociais.

Competências individuais, valores compartilhados e relações interprofissionais influenciam a capacidade de uma organização de traduzir intenções estratégicas em resultados.

Nonaka e Takeuchi (1995) ressaltaram a importância da criação de conhecimento organizacional por meio de interações sociais. A importância do conhecimento como recurso  estratégico destaca o papel das pessoas no alinhamento organizacional.

5. DINÂMICA INTEGRATIVA: Sinergia entre Propósito, Processos e Pessoas

O potencial do alinhamento estratégico é realizado quando propósito, processos e pessoas operam de forma integrada e sinérgica. Essa interação não é resultado de um planejamento linear, mas de condições organizacionais que promovem padrões coerentes de comportamento e decisão.

Luftman (2000) propôs um modelo de maturidade para o alinhamento, abrangendo diversas dimensões organizacionais. A tecnologia da informação desempenha um papel essencial nessa integração, conectando processos e fornecendo visibilidade sobre o desempenho organizacional.

Desafios contemporâneos exigem abordagens ágeis e adaptativas para o alinhamento estratégico, enquanto novos modelos organizacionais redefinem os parâmetros tradicionais na busca da integração de propósito, processos e pessoas para o sucesso organizacional.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O alinhamento estratégico, fundamentado na integração de propósito, processos e pessoas, representa uma evolução natural das abordagens tradicionais à gestão estratégica.

Essa perspectiva integrativa reconhece que o desempenho organizacional superior emana da harmonia entre intenções estratégicas claramente definidas, processos eficientemente desenhados e pessoal adequadamente engajado e capacitado.

A contribuição acadêmica dessa abordagem reside em sua capacidade de sintetizar diversas correntes teóricas da gestão organizacional em um arcabouço coerente e aplicável.

Simultaneamente, oferece aos profissionais uma visão mais abrangente e humanizada da gestão estratégica, reconhecendo a complexidade inerente às organizações contemporâneas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAVENPORT, Thomas H. Reengenharia de processos: como inovar na empresa através da tecnologia da informação; tradução Waltensir Dut; Rio de Janeiro: Campus, 1994. 391 p.
HENDERSON, John C.;

VENKATRAMAN, N. Strategic alignment: leveraging information technology for transforming organizations. IBM Systems Journal, v. 32, n. 1, p. 4-16, 1993. Disponível em https://dspace.mit.edu/bitstream/handle/1721.1/49184/strategicalignme90hend.pdf Acesso em 25 de jul. 2025;

LUFTMAN, Jerry. Assessing business-IT alignment maturity. Communications of AIS, v. 4, n. 14, p. 1-50, 2000. Disponível em https://aisel.aisnet.org/cgi/viewcontent.cgi?article=2538&context=cais Acesso em 25 de jul. 2025;

NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. A empresa criadora do conhecimento: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Tradução de Ana Beatriz Rodrigues e Priscilla Martins Celeste. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 358 p.;

BENBASAT, Izak. Factors that influence the social dimension of alignment between business and information technology objectives. MIS Quarterly, v. 24, n. 1, p. 81-113, 2000. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/220260049_Factors_That_Influence_the_Social_Dimension_of_Alignment_Between_Business_and_Information_Tec chnology_Objectives/link/0deec5293c23cb3940000000/download?_tp=eyJjb250 ZXh0Ijp7ImZpcnN0UGFnZSI6InB1YmxpY2F0aW9uIiwicGFnZSI6InB1YmxpY2F0aW9uIn19 Acesso em 25 Jul. 2025;

SINEK, Simon. Comece com o porquê: como os grandes líderes inspiram todos a agir. Tradução de Claudia Gerpe Duarte. Rio de Janeiro: Sextante, 2018. 256 p.

* Adm. Antonio Andrade D.Sc., Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Contato: antonio.andrade@unirio.br

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