Uma geração desperdiçada

Com frequência, o Ministério da Educação ou o Conselho Nacional de Educação fazem menção à necessidade de reformar o ensino médio. O assunto é extremamente complexo. O currículo é muito extenso, sobretudo se considerarmos uma jornada escolar diária de quatro horas.

Além disto, essa etapa de ensino tem dois objetivos conferidos por lei: dar prosseguimento aos estudos em nível superior e qualificar profissionalmente para abrir a porta do mercado de trabalho.

Problemas de evasão, baixo aproveitamento escolar, reprovação atingem níveis alarmantes no ensino médio. Os dois objetivos atribuídos a ele não são atingidos. Sem a expectativa de cursar a universidade e longe de buscar especialização profissional no ensino médio, muitos jovens abandonam os estudos para trabalhar, sem qualificação.

Os resultados de proficiência são baixos e há mais de dez anos não melhoram.

Em 2011, 13,1% de todos os alunos matriculados em alguma série do ensino médio estavam repetindo a mesma série feita em 2010. A média nacional de reprovação em 2011, ficou em 13,1%. A mais alta desde 1999.

Os resultados das últimas avaliações mostram que estamos longe de um ensino médio que cumpra suas finalidades. Completando a formação do aluno, iniciada na escola de ensino fundamental, habilitando o jovem para sua integração e participação na sociedade, qualificando-o para o trabalho e permitindo-lhe continuar os estudos em nível superior, a escola de ensino médio pode ser considerada a espinha dorsal de um sistema de ensino bem estruturado.

Não há mais lugar, no Brasil de hoje, para uma escola média que nem leva à universidade, nem prepara para o mercado de trabalho.

O currículo da escola que objetiva preparar para a universidade não pode ser igual ao da escola que tem como finalidade profissionalizar.

Se procurarmos uma redefinição do conceito de formação integral exigida pelo desenvolvimento das ciências e das técnicas, e pelas profundas transformações sociais de nosso tempo, veremos que nessa nova definição estarão contidas necessariamente o conhecer e o fazer, já que o homem não é puro intelecto contemplativo, mas um ser que necessita transformar seu ambiente natural para criar um mundo onde ele possa realizar-se plenamente.

A formação integral do jovem há que ser feita à luz de um humanismo que seja abrangente do pensar e do fazer.

É indispensável compatibilizar o ensino com a época atual, adequando a formação intelectual e profissional, preparando o jovem para o mundo em que vive, preparando-o para o exercício de um pensamento científico que lhe é absolutamente essencial. 

Li uma matéria no “O Globo” de domingo, comentando que até 2023, a população de jovens entre 15 e 24 anos chegará a mais de 33 milhões. É uma força de trabalho que tem potencial para aumentar o crescimento econômico do país. Na última década, o desempenho dos jovens, no mercado de trabalho, ficou aquém da média nacional. Eles estudaram mais, entretanto, tiveram maior dificuldade para obter emprego.

Levantamento do IBGE mostra que, entre junho de 2003 e junho de 2013, a taxa de desemprego dos jovens de 16 a 24 ano caiu 41,6%. E isso aconteceu num momento de maior crescimento econômico, forte redução de desemprego e avanço na escolaridade dos jovens. Em junho de 2003, pouco mais da metade dos brasileiros de 16 a 24 anos que estavam no mercado de trabalho tinham ensino médio. Hoje, entre os que estão empregados e os que procuram uma vaga, quase dois terços já concluíram o ensino médio.

Marcelo Nery, presidente do IPEA afirma que o país está desperdiçando a oportunidade de preparar esses jovens e aproveitar essa força de trabalho para empregar os jovens e aumentar o crescimento econômico do país. E conclui: “a janela demográfica favorável tem prazo para acabar. Será um desperdício. O jovem é a porta da entrada da economia e da sociedade.”

A professora da Universidade Federal de Pernambuco Tatiana Menezes destaca que “sem qualificação, os jovens poderão se constituir num problema. Perderemos uma oportunidade. À medida que o país cresce, se desenvolve, precisa de mão de obra produtiva.

Os jovens que não conseguem se colocar por falta de qualificação profissional terão cada vez mais dificuldade para se inserir, o que significa que estamos perpetuando a pobreza e a desigualdade.”

*Educadora

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