Paralisação de obras fundamentais coloca cidade do Rio sob ameaça de enchentes e desmoronamentos

Estamos todos transtornados e solidários à tragédia que acontece atualmente no Rio Grande do Sul. Exatamente por isso, mais do que nunca, precisamos ficar atentos com o que acontece na Cidade Maravilhosa, que já se encontra sob a sombra de um perigo iminente: a completa paralisação de obras cruciais de prevenção contra inundações e desmoronamentos que vêm sucessivamente ocorrendo desde 2008.

O túnel extravasor da Tijuca, projeto de macrodrenagem iniciado na década de 60 com o objetivo de direcionar as águas das chuvas para o costão do Vidigal, na Avenida Niemeyer, encontra-se completamente estagnado há 40 anos. Não houve avanços significativos na retomada do projeto, deixando a cidade vulnerável a enchentes e deslizamentos. Essa obra representa mais do que um mero projeto de engenharia, é um símbolo da negligência e da falta de compromisso com a gestão pública, governo após governo.

Já o Rio Trapicheiros continua a transbordar a cada chuva mais forte e constante, devido à paralisação da obra do piscinão que está projetado para ser construído no estacionamento do supermercado Assaí, na Rua Heitor Beltrão, na Tijuca. Essa estrutura é essencial para conter o excesso de água, mas foi abandonada. A sua conclusão impediria grandes inundações na região, uma vez que o piscinão feito na Praça da Bandeira não é suficiente para dar conta do volume de água que desce dos diversos morros da Tijuca.

Outro ponto de alerta é que nas décadas de 60 e 80, o Instituto Geotécnica/Georio realizou um trabalho fundamental de sustentação de encostas na cidade do Rio de Janeiro. No entanto, essa iniciativa que deveria consistir em um programa permanente também foi abandonada a partir de 2008, colocando em risco áreas propensas a desmoronamentos. Não se vê obras novas, sequer manutenção dos escoramentos feitos há mais de 50 anos e limpeza permanente dos morros, bem como a plantação de vegetação para sustentação das encostas e a coleta de lixo adequada.

A paralisação dessas obras não é apenas um problema de infraestrutura, mas sim um reflexo da falta de planejamento e investimento em medidas de proteção à vida e ao patrimônio. É inadmissível que, em pleno século XXI, a vida de milhões de pessoas esteja sob a constante ameaça de enchentes e desmoronamentos, seja aqui no Rio de Janeiro ou em qualquer outra região do Brasil.

O efeito “eu sou você amanhã” é real. As infelizes e dolorosas tragédias recentes no Rio Grande do Sul podem se repetir no Rio de Janeiro se obras significativas de prevenção não forem retomadas com urgência.

*Adm. Wagner Siqueira é presidente do CRA-RJ e ex-secretário de Administração da Cidade do Rio de Janeiro.

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