O exemplo da Coreia do Sul

Não é de hoje que se aponta a Coreia do Sul como um exemplo de país que, por priorizar a educação, saiu de uma guerra, na década de 60, que levou a uma trágica divisão de seu território, saiu de uma economia agrária pobre e tornou-se, nos últimos anos, um dos maiores PIBs da Ásia, transformando-se numa potência, cujos produtos competem em igualdade de condições com outros países, como por exemplo, o Japão.

A prioridade conferida à educação é apontada como um dos fatores fundamentais para o rápido desenvolvimento da Coreia do Sul. Atualmente, o ensino oferecido no país é olhado como modelo para o mundo. Li recentemente uma reportagem intitulada “A febre educacional que salvou a Coreia do Sul” que vale a pena ser comentada neste artigo; embora o exemplo da Coreia já seja conhecido.

Barack Obama, num discurso, que ficou famoso, pediu que os Estados Unidos seguissem o exemplo das crianças sul-coreanas, cujo ano letivo tem um mês a mais do que as escolas frequentadas pelos alunos americanos. Sabemos que o crescimento de um país é fruto da convergência de vários fatores; mas no caso da Coreia do Sul, os analistas apontam que os investimentos em educação e na formação de capital humano, foram os principais responsáveis pela arrancada de Seul.

O desenvolvimento educacional sul-coreano, a partir da década de 60, precedeu e guiou o crescimento econômico. Em 1945, com o fim da colonização japonesa, apenas 22% da população eram alfabetizadas. Hoje, o índice é superior a 98%.

O ensino sul-coreano é considerado excelente e isto é ratificado por vários estudos e avaliações mundiais. Para os pais coreanos, a educação de seus filhos é prioridade absoluta. Os que analisam os avanços alcançados pela Coreia do Sul usam uma expressão que mostra a importância que a educação tem para os jovens e para a sociedade: “febre educacional”.

Vejamos alguns indicadores que mostram a excelência do modelo educacional. Os alunos sul-coreanos estão entre os melhores do mundo em matemática, ciência e leitura, revelam os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA).

De acordo com dados liberados pela OCDE, 97% dos estudantes concluem o ensino médio, o maior percentual entre os países pesquisados. O índice de pessoas com nível universitário, considerando a faixa etária de 25 a 34 anos, é de 60%.

O livro “Febre educacional: sociedade, política e o exercício da escolaridade na Coreia do Sul”, do professor Michael Seth, da Universidade James Madison, em Virgínia, explica que o sistema educacional na Coreia do Sul foi desenvolvido de forma sequencial, a começar pelo ensino fundamental. Só depois de sua universalização é que o Estado passou a investir no ensino médio. O modelo concentra sua força na educação básica. A parte mais fraca do sistema é o ensino superior, diz o professor, mas isto é compensado pelo fato de os coreanos buscarem as melhores universidades internacionais para estudarem, e pelos programas de treinamento financiados pela iniciativa particular.

Pode-se ler, ainda, no livro do professor americano, que o sistema de ensino sulcoreano é homogêneo e uniforme. As escolas adotam o mesmo currículo, e recebem o mesmo montante de recursos públicos. Existe um sistema de rodízio entre os professores, para evitar que os melhores fiquem concentrados em algumas escolas. Além disso, foi criado um programa de assistência especial para as áreas rurais, para evitar grandes diferenças em relação à região metropolitana.

Outros fatores importantes são o investimento no treinamento dos professores. Cem por cento dos profissionais são recrutados entre os melhores alunos de ensino médio. Para lecionar as crianças menores do ensino fundamental, só são aceitas na Universidade de Educação, os 5% com melhor desempenho no ensino médio.

Apesar do treinamento ser rigoroso, há compensação: bons salários, prestígio, possibilidade de crescimento profissional. Há um provérbio coreano que diz: “Nem sequer pise na sombra de um professor.”

O respeito ao professor é uma questão cultural. Os salários dos professores que lecionam nas primeiras séries do ensino fundamental (o primário) são os mais elevados do mundo, equiparáveis aos salários de médicos e engenheiros.

Um outro dado que mostra a eficiência do sistema educacional sul-coreano: só 1% dos estudantes desistem do curso, por ano. Os anos equivalentes ao ensino fundamental no Brasil, isto é, nove, são gratuitos.

As escolas de ensino médio são financiadas através de impostos. É comum, mesmo entre famílias mais humildes, o investimento em professores particulares para ajudar as crianças depois do horário escolar e até nos fins de semana. Como o grande investimento é feito na educação básica, é expressivo o número de estudantes sul-coreanos que deixam o país para estudar no exterior, na idade universitária. Segundo dados de 2007, 350 mil estudantes sul-coreanos estudavam em renomadas universidades de outros países, sobretudo Estados Unidos e Japão.

Este artigo sobre o sistema educacional sul-coreano não tem a intenção de estabelecer qualquer comparação com o sistema educacional brasileiro. Primeiro, porque não aprecio rankings. Segundo, porque não me parece correto estabelecer comparação entre países com expressivas diferenças em extensão territorial e população, por exemplo.

O que me levou a abordar este assunto, que independe de extensão territorial, número de habitantes, culturas diversas, é a importância conferida à educação, na Coreia do Sul, notadamente a educação básica; a valorização do principal agente da educação – o professor, e a consciência coletiva que o desenvolvimento de um país está condicionado a um bom e eficiente sistema educacional.

Quando o Brasil terá governos que priorizem a educação, ampliando as oportunidades, sem perda de qualidade do ensino e do desempenho dos alunos? Quando a sociedade brasileira, em geral, e as famílias dos alunos, em particular, compreenderão a importância da educação, prestigiando o trabalho desenvolvido pelas escolas e pelos professores? Quando as famílias dos milhões de brasileiros que frequentam a educação básica se empenharão em acompanhar o percurso educacional de seus filhos, colaborando e apoiando o trabalho desenvolvido pelos professores? O exemplo da Coreia do Sul evidencia que o sucesso educacional obtido não se deve, apenas, a políticas públicas; mas foi resultado, também, da obsessão pela educação que tomou conta de todos os sul-coreanos.

Este é um exemplo que deve ser seguido pelos governos e pela sociedade brasileiros.

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