Conogon
Nos tempos antigos, primórdios da humanidade, os homens tinham como costume agradar seus deuses através do sacrifício de animais, quer queimando suas carnes, ou espargindo seus sangues. Não seria difícil reunir milhares de exemplos de maus-tratos de animais, como nas cobaias de laboratórios, semoventes em diversas áreas, rinhas de galo, tração de carroças, touradas, rodeios, etc. Ainda bem que, em todo o mundo, avança a percepção da necessidade da erradicação dessas práticas. Leis severas vêm sendo criadas, principalmente no Brasil, onde a legislação se faz rígida, em alguns casos mais do que em relação aos próprios indivíduos.
Um dos casos famosos, registrado pela história, foi a cruel exploração dos cavalos que nunca viam a luz do dia, utilizados nas minas de carvão da Inglaterra. Eles eram privados de experimentar a luz do sol e o ar fresco, permaneciam na escuridão subterrânea, confiando nos seus instintos e na orientação dos trabalhadores mineiros. Estes cavalos eram conhecidos como “conogonos”, trabalhavam e pereciam na escuridão, submetidos a atividades intensas. Um único cavalo era obrigado a puxar até oito vagões de carvão. Tal situação gerou o surgimento de uma frase que se popularizou: “Se os animais tivessem uma religião, o homem seria o diabo”.
Entretanto, apresentavam um comportamento curioso, pois possuíam uma notável sensação de tempo, sabendo quando o seu dia de trabalho deveria terminar e encontrando o caminho de volta para os estábulos, que ficavam no subterrâneo, mesmo com a total escuridão. Felizmente, no dia 3 de dezembro de 1972, a tecnologia chegou às minas e o último cavalo foi levado para ver a luz do dia. Seu nome era Ruby, e emergiu na entrada da mina adornado com uma coroa de flores, sendo recebido por uma multidão acompanhada por uma orquestra. Em sua homenagem foi erigida uma obra escultural chamada “Conogon”, Clésio Guimarães dentro do Museu-Reserve “Red Hill”, localizado no Condado de Surrey, Inglaterra.
Lembro que em meus tempos de criança, morando no bairro Portinho, existia à beira da Lagoa o Matadouro Municipal. Era uma construção rústica, sem qualquer cuidado higiênico, com um pequeno curral ao lado, onde os bois ficavam guardados até a hora de serem mortos e escarnados. A crueldade acontecia no momento em que os animais eram direcionados a um pequeno corredor, e ali recebiam marretadas na cabeça até morrer. Cena muito triste que nunca consegui esquecer, principalmente os mugidos de dor que exprimiam. Jeremy Bentham (1748 – 1832), filósofo iluminista e jurista inglês, assim se expressou: “Não importa se os animais são incapazes ou não de pensar. O que importa é que são capazes de sofrer”.
Não menos cruéis são as chamadas “rinhas de galo”, amplamente praticadas na antiguidade entre os gregos e romanos. No Brasil também eram muito populares, mas foram proibidas em 1934, no Governo Getúlio Vargas. Em 1941 passaram a ser consideradas contravenção penal. Posteriormente, no Governo Jânio Quadros, foram formalmente proibidas pelo Decreto n.º 50.620/1961. Entretanto, ainda existem na clandestinidade.
Na Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada em 1978 pela Unesco, foi tornada abominável toda forma de maus-tratos e exploração dos animais para divertimento do homem (art. 10º).
Encerro com uma citação de Chico Xavier (1910 – 2002), médium e filantropo brasileiro:
“Nós, seres humanos, estamos na natureza para auxiliar o progresso dos animais, na mesma proporção que os anjos estão para nos auxiliar. Portanto, quem chuta ou maltrata um animal é alguém que não aprendeu a amar”.