Aplicação da Logística Reversa na Desmobilização do Contingente Brasileiro de Fuzileiros Navais, na Missão Minustah-Haiti

Adm. Leonardo Kaiser Sá Nunes

RESUMO

Este artigo tem como finalidade maior trazer à reflexão da importância do Brasil na missão de paz e a implantação de um processo de Logística Reversa na desmobilização, como ponto positivo, frente aos desafios em tempos de crise financeira em que o país vem passando. A missão tratou de promover o desenvolvimento social e econômico do Haiti, embora não dispusesse de mandato específico, interpretando suas atribuições de maneira abrangente. A Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) foi a mais importante contribuição do país na história da ONU. Nas Forças Armadas, adotou-se uma nova postura frente aos desafios do novo método logístico e sustentável, para com isso adquirir vantagens quanto à economia e ao patrimônio que têm como responsabilidade, no que tange ao seu comprometimento para a redução de custos na aquisição de materiais e equipamentos em novas missões. O objetivo central deste artigo é refletir sobre a função que tem a Logística Reversa nos tempos de crise financeira aos quais o Brasil atualmente se encontra. Os  objetivos abordados são: analisar as necessidades e visualizar a complexidade de retorno de materiais e equipamentos militares a seu ponto de origem, usado após os 13 (treze) anos de presença militar no Haiti, se adaptarem a um novo método de logística para o retorno do material não usado no meio militar, como forma de amenizar os impactos em tempos de crise financeira, seguir padrões estabelecidos pela ONU e, após, o reuso total do material empregado. Acredita-se que os resultados deste novo processo de Logística Reversa, repercutirão trazendo um reflexo positivo econômico no envio das Forças Armadas em novas missões.

Palavras-chave: Logística Reversa. Redução de custos.

Orientador: Professor Helio Rodrigues Valim, Mestre.

Niterói
2019

1.   INTRODUÇÃO

O Brasil cumpriu seus deveres como país latino-americano e como ator na cena internacional, em seu sentido mais amplo, durante os 13 (treze) anos de presença militar no Haiti.

Na realidade, esperava-se muito menos do que foi efetivamente obtido pela Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah).

O Brasil já participou de 47 (quarenta e sete) missões da Organização, incluindo 43 (quarenta e três) operações de manutenção da paz, e enviando cerca de 50.000 (cinquenta mil) homens e mulheres uniformizados.

A participação do Brasil nas Missões da Organização das Nações Unidas (ONU) passou por, pelo menos, quatro fases ao longo de sete décadas: (a) 1947-1967; (b) 1968-1989; (c) 1990-1999; e (d) 2000-2017.

A quarta fase é a mais importante da história da participação do Brasil nas missões da Organização das Nações Unidas, feito que se deve ao tamanho dos contingentes brasileiros e, sobretudo, às funções estratégicas exercidas por nossos compatriotas em duas importantes missões: a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) e, de maneira sem precedentes, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah).

Por mais de uma década, foi uma fonte inestimável de aprendizado para o Brasil a participação em Missões de Paz e sua relevância de um efetivo reaproveitamento do material aplicado no decorrer das missões, trazendo um beneficio econômico para o Brasil no surgimento de novas Operações de Paz.

O presente trabalho traz a preparação da logística reversa da tropa e material após

13 anos de missão de Paz no Haiti, buscando maximizar o seu reaproveitamento, caracterizado como um instrumento de desenvolvimento econômico.

Neste sentido, o objetivo central deste artigo é visualizar a complexibilidade de retorno de materiais a seu ponto de origem, garantindo a integridade no seu efetivo reaproveitamento em nova missão, bem como, refletir sobre a função que tem a Logística Reversa nos tempos de crise financeira a qual está se passando na atualidade no Brasil. Dessa forma, é notório afirmar que há necessidade das organizações se adaptarem a um modo de produção mais econômico e sustentável, como forma de amenizar os impactos da crise nas organizações. O termo, doravante intitulado neste artigo, tem grande importância para todo o meio econômico.

2.   REFERENCIAL TEÓRICO 

2.1 As funções desempenhadas pelo contingente brasileiro

Segundo Danilo Marcondes de Souza Neto (2012, p.250), desde o início da atuação na Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (Minustah), o Brasil enfrentou grandes desafios. Quando o primeiro contingente de tropas desembarcou no Haiti no final do mês de maio de 2004 com 1.200 (mil e duzentos) militares, sua área de responsabilidade incluía toda a cidade de Porto Príncipe e algumas áreas no interior, incompatível, portanto, com o tamanho do efetivo, agregando ao contingente um grande desafio de caráter logístico para o sucesso da missão.

Aos poucos, contudo, com a chegada dos demais contingentes, foi realizada uma distribuição mais adequada das áreas de responsabilidade entre os diferentes países que compunham a missão (NETO, 2012, p.250).

A atuação da tropa brasileira abrange: a) operações militares (patrulhas a pé e motorizadas); b) operações de cerco e vasculhamento; c) patrulhas marítimas; d) operações aéreas de reconhecimento; e) atuação em postos de controle; f) atividades de assistência humanitária por ocasião de catástrofes naturais (até 2010 principalmente furacões e tempestades tropicais); g) atividades cívico-sociais; e h) projetos de engenharia de rápido impacto.

Dentre as atividades descritas, destacou-se o patrulhamento a pé com  equipamento básico individual, fundamental tanto por proporcionar um maior contato com a população local quanto para possibilitar melhor acesso às áreas restritas a veículos militares.

2.2 Retirada da tropa e dos materiais utilizados

Em agosto do ano de 2011, antes de assumir o cargo de Ministro da Defesa, Celso Amorim mencionou a necessidade de se pensar uma estratégia de saída do Haiti, principalmente devido à bem-sucedida transição entre Préval e Martelly (ex-presidentes do Haiti). Concordou com esta opinião o chanceler brasileiro, que também mencionou a possibilidade de redução da participação.

Já O. Hirsch (2004) afirma que em julho de 2011, a imprensa brasileira havia sinalizado concordância com o objetivo de reduzir a presença no Haiti. A Folha de São Paulo

considerou positivo o balanço da presença brasileira e reconheceu uma modificação gradual da situação caótica do imediato pós-terremoto. Sinalizou também apoio à afirmação de Martelly de que a manutenção da segurança no país deveria passar para uma força nacional.

2.3 Visões sobre as Práticas Operacionais e introdução da Logística Reversa

À proporção que se desdobrou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah), houve um aumento considerável no acervo das Forças Armadas, principalmente após o Terremoto em 2010, em que devido à necessidade da catástrofe que assolava o país foram enviados e adquiridos mais equipamentos.

Com a necessidade de se pensar em uma estratégia de saída do Haiti, foi estabelecida a logística reversa como uma ferramenta intensificada no processo de pós-uso desse material para uma futura missão de paz.

Segundo Marcelo José de Souza (2011, p.108), a Logística Reversa é uma área da Logística Empresarial e está em expansão. Surgiu como um diferencial em relação à competitividade das empresas e para agregar valor à cadeia de suprimentos, pois haverá um melhor aproveitamento dos materiais que são descartados fazendo com que os mesmos possam voltar a ser utilizados.

A logística reversa pode ser definida como a parte da logística que objetiva relacionar tópicos como: redução; conservação da fonte; reciclagem; substituição; e descarte às atividades logísticas tradicionais de compras, como suprimentos, tráfego, transporte, armazenagem, estocagem e embalagem (LAMBERT, 1998).

O que na verdade trata-se de um diferencial. Atualmente não é apenas um novo fenômeno, mas uma necessidade das organizações perante a crise financeira a qual está  passando atualmente o Brasil. Trata-se de um diferencial e que será implantada em sua cadeia logística o processo reverso, sendo este não só de satisfazer no tocante à questão econômica, mas também para sua destinação final ambientalmente adequada.

Com a sanção e regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, estabelecida pela lei 12.305 de 02/08/2010), a logística reversa pode ser definida como “Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos

produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada”. A lei entrou em vigor no ano de 2014,  programando para que todas as empresas se adequassem a essa lei até 2015.

A reversão estimula a operacionalizar o retorno de materiais e também de diversos resíduos produzidos após a sua geração, bem como os direciona para o seu ponto de partida, com o objetivo de reuso, realizar o descarte definitivo ou se possível, dependendo do tipo de material, reciclar estes resíduos e reaproveitá-los para outro fim.

Diversos são os motivos que fazem da logística reversa um assunto tão relevante nos dias atuais, entre eles estão a redução do ciclo de vida mercadológico dos produtos; o surgimento de novas tecnologias e de novos materiais em suas constituições; a obsolescência precoce; a ânsia descontrolada dos consumidores por novos lançamentos; os altos custos de reparos dos bens diante de seu preço de mercado; o fator econômico no reaproveitamento; entre outros.

A logística dispõe-se como o gerenciamento do fluxo de materiais do seu ponto de aquisição até o ponto de consumo. No entanto, existe também um fluxo logístico reverso, do ponto de consumo até o ponto de origem, que precisa ser gerenciado. O gerenciamento de materiais em sua cadeia de consumo não necessariamente é o término de seu uso, para simples descarte. Muito se ouve falar em reciclagem e reaproveitamento dos materiais utilizados.

Esta questão hoje está muito ligada a movimentos no meio empresarial e cada vez com mais destaque, estimulando a responsabilidade de cunho sustentável para empresas sobre o fim e o reaproveitamento de seus materiais de consumo e produtos. Em uma visão ecológica, existe seriedade, pois os impactos naturais que consumo e descarte irresponsáveis são vistos sempre como uma agressão à natureza.

A Logística Reversa classificava-se apenas como uma versão contrária da Logística como a conhecemos. De fato, o que acontece é que um planejamento reverso utilizando os mesmos processos que um planejamento convencional. Ambos tratam de nível de serviço, armazenagem, transporte, nível de estoque, fluxo de materiais e seus possíveis reaproveitamentos. No entanto, a Logística Reversa que citamos aqui deve ser observada como um recurso econômico.

A importância em gerar retorno econômico, contribui para a sustentabilidade do planeta, principalmente quando consideramos que após o processo logístico direto são  gerados diversos resíduos, tanto de bens no final de sua vida útil, como também de bens sem ou com pouco uso.

Ressalta Hugo Ferreira Braga Tadeu et al. (2013, p.79) que a logística reversa tem seus benefícios, pois proporciona vantagens do ponto de vista econômico, ambiental e social. Mesmo havendo a necessidade de grandes investimentos, se bem implementada, o retorno do investimento ocorrerá a médio e longo prazo.

Do ponto de vista econômico, seria possível atribuir valores para a não aquisição de novos materiais e equipamentos, quando após o seu retorno ao local de origem tornar possível o reaproveitamento em novas missões a serem desempenhadas em missões militares e até em novas missões de paz como a da Missão de Estabilização do Haiti.

Segundo a Assessoria de Defesa, foi gasto pelo Brasil mais de R$ 2 bilhões nos seus 13 anos, com a missão de paz no Haiti, e para o envio do primeiro contingente cerca de mais de R$ 180 milhões. Na diminuição dos custos iniciais para envio de tropas para uma possível nova missão de paz na República Centro-Africana, o Ministério da Defesa criou um grupo de trabalho para planejar a logística reversa do material e equipamentos utilizados na missão do Haiti, de maneira eficaz e eficiente, maximizando o reuso de todo o material.

Segundo Rogério Valle e Ricardo Gabbay (2014, p.33), a logística reversa é uma ferramenta estratégica que bem explorada pelas organizações auxiliará na preservação do meio ambiente, contribuirá para o desenvolvimento econômico e social, trazendo valores relevantes com o seu uso.

2.4 Desmobilização do Contingente Brasileiro no Haiti

Em decorrência da finalização da participação militar na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) e por ocasião da desmobilização e consequente reversão de pessoal e material foi criada a Diretriz de Desmobilização e Reversão do Contingente Brasileiro da Força de Paz no Haiti, tendo como base no Memorandum of Undersatanding (MOU) para o planejamento e execução das medidas necessárias à desmobilização do contingente em que o Comando de Força de Fuzileiros Navais estabeleceu diretrizes a serem observadas para retirada dos meios empregados.

As negociações foram feitas entre o Departamento de Operações de Paz das Nações Unidas (DPKO/ONU) e a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), por intermédio do Ministério da Defesa do Brasil, para alinhar os planejamentos, já como primícias, previa o prazo de 90 (noventa) dias para a desativação da missão, desmobilização e conclusão da reversão para o Brasil.

No documento, estabelece que materiais sensíveis e controlados seriam transportados prioritariamente pelo modal aéreo militar para o Brasil.

Foi estabelecida a criação de um grupo de trabalho com a finalidade de acompanhar a operação de desmobilização e reversão (integração das ações de planejamento, transporte, desembaraço alfandegário e controle patrimonial).

2.4.1 Repatriação

Alinhou-se em reuniões que o retorno do material do contingente seria de total responsabilidade da ONU, porém a ação foi realizada em parceria com o Ministério da Defesa do Brasil, mediante a contratação de Navio Mercante Roll-on/Roll-off, navio para entrada de veículos sobre rodas (fig. 1 e 2), tendo como data estimada para chegada ao Porto do Rio de Janeiro o dia 13 de outubro de 2017 e, posteriormente, o desdobramento do material para o Complexo Naval Caxias Meriti, conforme contrato da ONU.

Figura 1: Navio Mercante Roll-on/Roll-off

“Ulusoy 5” de bandeira Turca.

Figura 2: Navio “Ulusoy 5” atracado no Porto do Haiti.

Fonte: Arquivo pessoal

Fonte: Arquivo pessoal

2.4.2 Sobre o material repatriado

Os seguintes documentos foram confeccionados: packing list QR-Code (fig.4); relação de cargas perigosas; MSDS (Material Safety Data Sheet); FISPQ (Ficha de

Identificação de Segurança de Produtos Químicos); um conhecimento de embarque (B/L) para a carga normal e um para carga perigosa; e um mapa da carga.

O material repatriado foi acondicionado em contêineres (com identificação internacional de quatro letras e sete dígitos), no interior do contêiner foi fixado em sua porta direita o packing list QR-Code (fig. 3 e 4), o mapa da carga que visa possibilitar uma rápida identificação e localização do material no interior do contêiner, facilitando a conferência na inspeção da Receita Federal. Nas partes externas, suas arestas pintadas com código de cores pré-estabelecidos (cor dourada – Gpto Op Fuz Navais) e marcados com uma âncora com dois fuzis cruzados (fig. 6). Cada contêiner foi estufado respeitando o limite de 21 m³ de capacidade, com no máximo 5 a 6 caixas grandes e 10 a 12 pequenas, com o limite de peso do material a ser transportado (7.400 Kg) no contêiner, de forma a não ultrapassar o peso total (peso da carga + peso do contêiner) de 10 toneladas exigido pela ONU. Para as cargas soltas (geradores), cada equipamento foi identificado por etiqueta, a fim de facilitar o reconhecimento da carga na chegada ao Brasil.

Figura 3: Preparação final da carga antes da selagem Figura 4: Extrato de Packing List QRCode

Fonte: Arquivo pessoal

Fonte: Diretriz de Desmobilização e Reversão do Contingente Brasileiro da Força de Paz no Haiti

Figura 5: Proposta de procedimento de materiais para repatriação

Fonte: Diretriz de Desmobilização e Reversão do Contingente Brasileiro da Força de Paz no Haiti

Figura 6: Contêineres com identificação internacional de quatro letras e sete dígitos e marcados com uma âncora com dois fuzis cruzados

Fonte: Arquivo pessoal

De acordo com normatização existente, a carga perigosa foi removida do Porto do Rio de Janeiro como descarga direta, ou seja, assim que o navio atracou, esta carga foi imediatamente colocada em caminhões e seguiu até o destino final no Complexo Naval Caxias Meriti em Duque de Caxias (CNCM).

Figura 7: Carga perigosa sendo removida do porto do Rio de Janeiro como descarga direta

Fonte: Arquivo pessoal

Foram utilizadas, para embalagem, caixas padrões de dois tamanhos: pequenas (20) e grandes (10); e de medidas especiais (vários tamanhos) em compensado (madeira processada), a fim de evitar entraves junto ao Ministério da Agricultura (fig. 8). Cada caixa recebeu um número para sua melhor identificação.

Figura 8: Caixas padrões em compensado (madeira processada)

Fonte: Arquivo pessoal

Todos os móveis e madeiras foram segregados num único contêiner, tendo sido realizado o procedimento de fumigação (descupinização), estando o certificado original colado no interior do contêiner para inspeção no Porto do Rio de Janeiro em sua chegada.

Os geradores, tanques de combustível, armários de aço, academia de ginástica e outras mercadorias especiais foram acondicionadas no interior de contêiner, fora das embalagens, porém, de maneira adequada e segura.

Os contêineres foram todos ovados, calçados com madeira processada e peados com fitas catracas e, após, fechados com cadeado e lacre, sendo que cada um foi identificado com o respectivo packing list no interior, na frente e na porta de traseira (fig. 9).

Figura 9: Materiais pesados com fitas catracas dentro dos contêineres

Fonte: Arquivo pessoal

2.4.3 Desembarque

No desembarque do material repatriado no Porto do Rio de Janeiro, a segurança da área foi atribuição do Comando do 1° Distrito Naval. Cabe ressaltar que todo o material, nesta fase, ainda é de responsabilidade da ONU. Tal responsabilidade permanece com a empresa contratada pela ONU até a sua entrega no CNCM. O reforço da segurança no deslocamento Porto do Rio ao CNCM foi provido por escolta da Divisão Anfíbia do Corpo de Fuzileiros Navais, com apoio da Companhia de Polícia do Batalhão Naval de Fuzileiros Navais (CiaPolBtlNav), no qual foi prevista, por ocasião do planejamento, segurança para o deslocamento da carga perigosa e para o restante do material. Instrução específica no qual detalhou o planejamento do deslocamento.

Figura 10: Planejamento da escolta do material para o CNCM (Navio Roll-on/Roll-off )

Fonte: Arquivo pessoal

2.4.4 Armazenamento

O material repatriado ficará, temporariamente, nos contêineres que serão dispostos no interior do CNCM (fig. 11 e 12) até a sua destinação final, que será determinada pelo (ComFFE). Tal disposição deverá permitir a abertura dos mesmos sem restrições físicas. As portas deverão estar voltadas do Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra para o interior das quadras desportivas.

Os contêineres só puderam ser abertos, após a liberação da Receita Federal que foi feita no CNCM conforme entendimento junto à mesma.

Figura 11: Local sendo preparado para colocação dos contêineres do CNCM

Figura 12: Contêineres no interior

Fonte: Arquivo pessoal

Fonte: Arquivo pessoal

O material bélico e controlado, ou seja, armamentos, capacetes, coletes balísticos e munição, foram retirados dos contêineres, tempestivamente, sendo seu local de destino, o paiol do próprio CNRM, até que seja providenciada sua distribuição. Do mesmo modo, o material de Comunicações e Informática, sob o controle da Seção de Inteligência e Informática e supervisão da Seção de Logística do Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE), foi retirado dos contêineres e armazenado em local estabelecido no Complexo, até sua devolução/distribuição.

As viaturas e geradores foram armazenados em local abrigado (fig. 13), a fim de evitar a deterioração do material, até a sua destinação final, que será determinada pelo Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE).

Figura 13: Viaturas e geradores armazenados em local abrigado

Fonte: Arquivo pessoal

2.4.5 Gerenciamento e Controle

A Seção de Logística do Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE) é o setor responsável pelo Gerenciamento e Controle do Material. As tarefas decorrentes serão

executadas pelo Batalhão de Logística de Fuzileiros Navais (BtlLogFuzNav) através dos seus militares.

2.4.6 Inspeção na chegada

A Seção de Logística do Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE) planejou e executou a Inspeção de chegada do material. Nesta etapa, atenção foi dispensada não somente ao quantitativo, mas também à situação da integridade do material. Esta inspeção deu origem a um relatório que cerificou a situação do material. Avulta em importância o registro fotográfico e filmagem desta inspeção, uma vez que tais elementos poderão ser utilizados em futuras demandas junto a ONU.

2.4.7 Manutenção

Até a distribuição definitiva, foi estabelecido que os militares do Batalhão de Logística de Fuzileiros Navais  (BtlLogfuzNav) e outros que, porventura, detenham sua guarda provisória do material deverão realizar os trabalhos necessários à preservação, principalmente daqueles sensíveis a altas temperaturas (comunicações/informática etc.).

2.4.8 Destinação

O Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE) emitiu posteriormente uma ordem de destinação do material repatriado. Com a finalidade de manter o controle da carga do material, o BtlLogFuzNav ficará responsável por toda documentação de transferência, sendo a responsabilidade da retirada a cargo da Organização Militar (OM) de destino.

2.4.9 Segurança

A Segurança do material repatriado é de responsabilidade da Base de Fuzileiros Navais do Rio Meriti (BFNRM). Para tal, seu Plano de Segurança Orgânica deverá incorporar medidas de Segurança Física e do Material. Com tal propósito, poderá ser utilizado material repatriado do Haiti, tais como: Light Tower (torre de luz), câmeras, sensores, alarmes etc. A utilização deste material deverá ser solicitada à Seção de Logística. A Seção de Inteligência deverá realizar uma Verificação de Segurança Orgânica na área de armazenamento de contêineres, a fim de identificar discrepâncias e vulnerabilidades.

3.   METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste estudo caracteriza-se como descritiva com o qual foi analisada a preparação para a logística de reversa do material que foi utilizado na missão de paz no Haiti, quais os maiores empecilhos para o retorno do contingente, estratégia para preparar o material para o embarque, seu desembarque, transporte, armazenamento após chegada ao Brasil e a sua reutilização, diminuindo impactos econômicos e sustentáveis, buscando maximizar o seu reaproveitamento, caracterizado como um instrumento de desenvolvimento econômico utilizado pela Marinha do Brasil.

3.1 Análises do processo logístico

Com base no estudo desenvolvido, buscou-se analisar um processo logístico reverso de acordo com a escolha do modal disponível e mais recomendável para o retorno de materiais militares empregados na missão de paz no Haiti, com preocupação na complexidade de armazenamento e transporte até o navio mercante. Ao chegar ao país, os bens foram recepcionados em um terminal portuário no Rio de Janeiro com todo planejamento para que fosse feita sua nacionalização e, após essa etapa, o transporte interno que conduziu até o local de destino escoltado.

Reconheceu-se a grande dificuldade em executar todo o processo, devido à grande quantidade de acervo militar adquirido nos 13 anos de Missão para Estabilização no Haiti (Minustah).

Em cada fase do preparo, atentou-se no cuidado com a armazenagem dos materiais e equipamentos, assim como a confecção dos documentos necessários para o embarque e recebimento alfandegário no qual se buscava maior agilidade para saída do porto e chegada ao seu lugar de origem. Destacou-se também a importância da logística reversa na

desmobilização do contingente, no que tange o reuso de equipamentos e materiais na aplicação em novas missões que venham a surgir, estratégias de relocação dos meios e, com isso, a considerável redução de custos.

4.   CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Observou-se neste artigo o trabalho desempenhado pelo Departamento de Operações de Paz das Nações Unidas (DPKO/ONU) e a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) por intermédio do Ministério da Defesa do Brasil para alinhar os planejamentos, já como premissa prévia, o prazo de 90 (noventa dias) para a desativação da missão, desmobilização e conclusão da reversão para o Brasil.

Com a finalização da participação militar no Haiti, a desmobilização e reversão do material do contingente brasileiro da Força de Paz, as forças armadas conseguiram que fosse realizado o processo de logística reversa, que trouxe benefícios financeiros com o reaproveitamento do material e de imediato o uso de boa parte deste material na preparação de uma possível futura missão de paz na República Centro-Africana.

O retorno do material do contingente foi de responsabilidade da Organização das Nações Unidas (ONU), bem como a segurança do material repatriado da Marinha, no qual teve o apoio direto da Base de Fuzileiros Navais do Rio Meriti (BFNRM), valorizando a capacidade administrativa de recebimento e guarda do material.

Logrou-se êxito a reutilização do material repatriado oriundo do Haiti, assim como uma administração eficaz e eficiente de todo o processo, e foi criado um plano de segurança orgânica que incorporou medidas de segurança física, armazenagem, nível de estoque, fluxo de materiais, reuso e direcionamento do descarte apropriado de materiais e equipamentos sem utilização, pois, na de entrega da base, o comandante do contingente realizou uma inspeção minuciosa em todos os locais, certificando-se que nenhum lixo ou resíduo tenha sido deixado de ser recolhido, gerando pela ECU (Unidade de Conformidade Ambiental da ONU) o respectivo certificado de conformidade ambiental, finalizando com isso, o sucesso da missão como um todo, e um início nesta nova fase de logística reversa de materiais e equipamentos militares vindos de Missões de Paz.

Além de se constituir como um marco importante do envolvimento brasileiro nos esforços em prol da manutenção da paz e da segurança internacional reconheceu-se que a experiência na desmobilização da Missão de Paz das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, no tocante a logística do material, foi importantíssimo para minimização de gastos em compra de novos materiais e equipamentos, contribuindo assim com diminuição de impactos em meio a grande crise financeira que afeta o Brasil, assim como experiência na aplicação da logística reversa na Marinha do Brasil.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Diretriz Inicial de Desmobilização e Reversão do Contingente Brasileiro de Força de Paz no Haiti, de 03 de junho de 2016, Ministério da Defesa.

                               Diretriz Médico-sanitário para Mobilização e Desmobilização dos efetivos militares da MINUSTAH, de 09 de junho de 2008, da Diretoria de Saúde.

                               Portaria nº 012 de 17 de agosto de 2010, Ministério da Defesa.

GUARNIERI, Patrícia. Logística Reversa: em busca do equilíbrio econômico e ambiental. Recife: Clube de Autores, 2011.

HIRSCH, O. Tropa brasileira em baixa no Haiti. Jornal do Brasil, 8 out. 2004. Disponível em: http://www.jb.com.br felicidade-com-a-selecao-brasileira/Acessado em 30.01.2018 ás 21h 30min.

LAMBERT, D. M.. Administração estratégica da logística. São Paulo: Vantine Consultoria, 1998. Disponível em: http://www.unisalesiano.edu.br/ 320881F.pdf/Acessado em 04.02.2018 ás 20h 30min.

NETO, Danilo Marcondes de Souza. O Brasil e as Operações de paz em um Mundo Globalizado: entre a tradição e a inovação. Organizadores: Kai Michael Kenkel; Rodrigo Fracalossi de Moraes; prefácio: Antônio de Aguiar Patriota. Brasília: IPEA, 2012.

OLIVEIRA, E.; CELESTINO, H.; COHEN, S. Sob o comando da cacica – Dilma: entrevista com Antônio Patriota. O Globo, 7 ago. 2011. Disponível em: http://oglobo.globo.com/mundo/antonio-patriota-sob-comando-da-cacica-dilma-2705884. Acessado em 31.01.2018 ás 18h30min. PASSARELLI, Hamann Eduarda; TEIXEIRA, Carlos Augusto Ramires et al. A Participação do Brasil na MINUSTAH (2004-2017) Percepções, Lições e Práticas Relevantes para Futuras Missões. (Edição especial, Coletânea de artigos. https://igarape.org.br/ 2017.pdf. Acessado em 23.01.2018 ás 20h 40min.

PATRIOTA, Antônio de Aguiar. O Brasil e as Operações de paz em um Mundo Globalizado: entre a tradição e a inovação. Organizadores: Kai Michael Kenkel, Rodrigo Fracalossi de Moraes; prefácio: Antônio de Aguiar Patriota. – Brasília: IPEA, 2012.

PINHEIRO, A. P. A atuação do Batalhão  brasileiro  após  o  terremoto  do  Haiti. Military Review, jan./fev. 2011.

TADEU, Hugo Ferreira Braga et al. Logística reversa e sustentabilidade. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

VALLE, Rogério; SOUZA; Ricardo Gabbay. Logística Reversa: processo a processo. São Paulo: Atlas, 2014.

Sugestões de leitura: