A Perene Relevância dos Clássicos da Administração: Uma Crítica ao Ensino Necrófilo e aos Palpites Organizacionais

A Perene Relevância dos Clássicos da Administração: Uma Crítica ao Ensino Necrófilo e aos Palpites Organizacionais

A Perene Relevância dos Clássicos da Administração: Uma Crítica ao Ensino Necrófilo e aos Palpites OrganizacionaisEm um panorama dominado por modismos e “soluções mágicas”, a administração se vê frequentemente presa a uma armadilha: a desvalorização de suas próprias raízes. As escolas de pensamento, em sua busca por inovar, muitas vezes se distanciam dos clássicos, tratando-os como relíquias de um passado distante e irrelevante. No entanto, essa postura “necrófila” em relação aos autores fundadores da administração não apenas ignora a riqueza de suas contribuições, como também perpetua um ciclo de superficialidade e repetição no campo.

A teoria das organizações, em sua essência, não se limita a um exercício intelectual abstrato. Ela é um mergulho profundo na dinâmica das relações de trabalho, um engajamento espiritual com a complexidade da vida organizacional. Estudar os clássicos não é revirar textos mortos, mas sim dialogar com mentes brilhantes que lançaram as bases para a compreensão do mundo corporativo.

No contexto brasileiro, o ensino da administração frequentemente cai na armadilha da “velharia”. Obras seminais são apresentadas como peças de museu, desprovidas de valor para os desafios contemporâneos. Essa abordagem empobrecedora não apenas priva os estudantes de um aprendizado profundo, mas também perpetua a ilusão de que a inovação surge do vácuo, ignorando a evolução do pensamento administrativo ao longo do tempo.

É preciso reconhecer que muitos dos “livrinhos modernos” que inundam o mercado não passam de releituras disfarçadas dos clássicos. Ideias são recicladas, conceitos são reaproveitados, e as fontes originais muitas vezes são omitidas. Pior ainda é o caso dos livros de autoajuda, que se vendem como frutos de experiência e pesquisa, mas na realidade são meras “sacadas intelectuais” e “palpites organizacionais” de seus autores.

Em vez de perpetuar essa superficialidade, devemos resgatar o valor dos clássicos da administração. Fayol, Taylor, Weber, Mayo, Ford, Douglas McGregor, Herzberg, Chester Barnard, William F. Whyte, Blake&Mouton, Tannenbaum, Likert, Argyris, Herbert Simon, Amitai Etzioni, David Mcclelland, e tantos outros não são figuras do passado, mas sim pensadores visionários cujas ideias continuam a ecoar no presente. Suas obras oferecem um tesouro de insights sobre liderança, organização, motivação e eficiência, que podem ser aplicados de forma criativa aos desafios atuais.

Ao invés de buscar a próxima “bala de prata” ou se render aos modismos efêmeros, a administração precisa revisitar suas raízes, reconhecendo a perene relevância dos clássicos e integrando seus ensinamentos à prática contemporânea. Somente assim poderemos construir um futuro sólido, baseado em conhecimento profundo e respeito pela história da disciplina.

*Wagner siqueira é o atual presidente do CRA-RJ, membro acadêmico da ABCA- academia brasileira de ciência da administração e da ANE- academia nacional de economia.

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