A importância da gestão em órgãos públicos e privados nas questões hídricas
Não é replay. Mais uma vez, o sistema de abastecimento de água no Estado do Rio de Janeiro é interrompido por contaminação da água. Desde a quarta-feira (3), a CEDAE, em nota conjunta ao Instituto Estadual do Ambiente (INEA), sinalizaram a paralisação “em razão da alteração da qualidade da água bruta (ainda não tratada) no manancial de captação”, deixando as cidades de São Gonçalo, Niterói, Itaboraí, Maricá e a Ilha de Paquetá em situação extremamente difícil, agravada ainda pela ausência de previsão quanto ao retorno da normalidade do sistema.
A situação parece repetir outras tantas, como a do final do ano passado, em que uma “espuma de origem desconhecida” na Estação de Tratamento do Guandu deixou mais de 10 milhões de pessoas sem o abastecimento de água na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Se a situação se repete tanto e em intervalos cada vez menores, é claro que temos um grave problema de gestão, tanto por parte das empresas, que deveriam estabelecer mecanismos mais rígidos para controlar processos em que substâncias
possivelmente prejudiciais a saúde são utilizados, como também por parte do poder público, que já deveria estar mais atento e sendo mais rígido quanto a atuação dessas organizações e seus impactos nos sistemas de abastecimento de água em todo o Estado.
E não estamos falando de um problema de gestão que afeta apenas o Rio de Janeiro. Impactos como esse nas águas podem acelerar um processo de escassez que já vem sendo sinalizado há algum tempo, como mostrou o relatório da ONU, divulgado no ano passado, um dia antes do início da Conferência da Água da Organização das Nações Unidas.
De acordo com o relatório, “a escassez de água está se tornando endêmica, como resultado do impacto local do estresse hídrico físico, juntamente com a aceleração e a disseminação da poluição da água doce”, como cita o documento. A publicação cita ainda que mesmo locais onde há abundância de recursos hídricos, como partes da América do Sul (principalmente o Brasil), poderão observar temporadas mais longas de escassez de água nos próximos anos.
Para evitarmos que isso aconteça, é importante que as empresas se engajem em identificar os riscos socioambientais e climáticos (RSAC) inerentes ao seu negócio, que fortaleçam seus controles e treinamentos para as pessoas envolvidas em seus processos, além de estabelecerem planos de ação verdadeiramente efetivos para situações que, por ventura, ocorram de maneira indesejada. Somente dessa forma, com uma gestão realmente atuante, tanto do ponto de vista ferramental como de pessoas, é possível que situações como essas sejam evitadas e, quando ocorram, tenham seus impactos mitigados.
Do ponto de vista do poder público, é fundamental que os órgãos de controle e fiscalização sejam cada vez mais fortalecidos, tanto em capacitação como em valorização desses servidores. Também é válido que os controles hoje existentes sejam revisados, tanto em termos de recorrência como de efetividade, e que até novos meios de controle sejam estabelecidos, pois está claro que, da forma que hoje funciona, as empresas têm, consequentemente, afrouxado seus controles, e com isso, situações como essa, de comprometimento do sistema de abastecimento tem se tornado cada vez mais recorrentes.
Não há fórmula mágica. Somente com uma gestão efetiva, com a correta utilização das ferramentas de administração, processos e controles bem definidos, e com pessoas capacitadas, tanto nas empresas como nos órgãos públicos, será possível que tenhamos cada vez menos ocorrências relacionadas aos recursos hídricos, evitando assim os impactos decorrentes desses problemas para a população em todo o Estado, a qual tem o seu dia a dia totalmente afetado no aspecto pessoal, com impactos na saúde física e mental, e também no aspecto profissional, colocando inclusive seus empregos em risco por não terem as condições mínimas e adequadas para o exercício de suas funções.
De momento, o que se espera é que as perguntas relacionadas a esse episódio – que já vem sendo denominado de “crise do tolueno” – sejam prontamente respondidas, e que a comunicação com a população seja clara e funcional, não omitindo os possíveis responsáveis pela origem dessa contaminação, se há outros pontos de contaminação e, principalmente, quando o sistema retornará a sua normalidade, com total segurança para as pessoas que necessitam desse bem vital.
*Adm. Diego Carbonell é coordenador da Comissão Especial de Sustentabilidade do CRA-RJ