O Nobel de economia e o papel da Administração no Brasil
O Prêmio Nobel de Economia de 2024, concedido a Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robinson, confirma o papel crucial das instituições no desenvolvimento econômico das nações. Os laureados demonstraram, ao longo de suas pesquisas, que instituições inclusivas são aquelas que promovem a participação política e econômica ampla, protegem os direitos de propriedade e criam um ambiente de oportunidades equitativas para todos. Em contrapartida, as instituições extrativas concentram poder e riqueza nas mãos de pouco, limitando o crescimento econômico sustentável.
O Brasil, infelizmente, se enquadra historicamente no grupo de países com instituições extrativistas, onde o poder e a riqueza tendem a ser concentrados nas mãos de poucos, limitando as oportunidades de desenvolvimento para uma maior parte da população. Esse cenário reflete desigualdades sociais profundas e desafios estruturais que impedem um crescimento econômico mais inclusivo e sustentável. A persistência de práticas que favorecem as elites econômicas e políticas destaca a necessidade urgente de reformas institucionais que promovam a inclusão, a justiça social e a igualdade de oportunidades, condições essenciais para que o país alcance um desenvolvimento pleno e sustentável.
Essa distinção entre tipos de instituições tem implicações diretas para o campo da administração, tanto pública quanto privada. Empresas e organizações que operam em ambientes com instituições inclusivas se beneficiam de maior segurança jurídica, previsibilidade nas regras do mercado e, muitas vezes, de acesso a mercados mais amplos e competitivos.
Além disso, o trabalho dos laureados ressalta que as instituições inclusivas criam um ciclo virtuoso de crescimento econômico para garantir que os benefícios do desenvolvimento sejam amplamente distribuídos pela sociedade. Nesse contexto, a administração profissional se torna não apenas uma beneficiária de instituições inclusivas, mas também uma área que pode contribuir efetivamente implementar e reforçar esses princípios.
Embora o foco principal das pesquisas de Acemoglu, Johnson e Robinson seja no desenvolvimento das nações, há lições valiosas para a administração de empresas. A governança inclusiva e transparente, por exemplo, contribui para a criação de ambientes mais seguros e previsíveis, que fomentam a inovação e o crescimento sustentável, ao turno que empresas com políticas voltadas para a inclusão e diversidade estão melhor posicionadas para atrair talentos, reduzir desigualdades e gerar resultados positivos nas comunidades onde operam.
No setor público, os administradores podem aplicar os conceitos centrais do estudo premiado ao planejamento urbano, às políticas sociais e ao desenvolvimento regional, criando cidades e ambientes que promovam oportunidades para todos. Políticas públicas que garantem acesso à educação de qualidade, saúde e infraestrutura adequada são fundamentais para a construção de sociedades mais justas e prósperas, e isso reforçam a importância da gestão profissional como agente de mudança na implementação dessas políticas.
Por fim, ainda que os estudos premiados não abordem diretamente a regulação de novas tecnologias, como a inteligência artificial e a automação, o conceito de instituições inclusivas também pode ser aplicado ao contexto da economia digital. Os profissionais de administração precisam estar preparados para adaptar suas estratégias à era digital, adotando práticas que promovam o uso responsável das tecnologias e que garantam que os benefícios desse progresso sejam amplamente compartilhados.
O Prêmio Nobel de Economia de 2024 nos oferece uma oportunidade de reflexão sobre como as instituições moldam o sucesso econômico e como a administração pode contribuir para um futuro mais próspero, justo e sustentável.
*Adm. Wagner Siqueira é Presidente do CRA-RJ.