O contínuo ciclo de degradação do Rio de Janeiro a cada chuva
Há décadas a questão das chuvas é uma preocupação para a população do Estado do Rio de Janeiro. A tragédia ocorrida no último sábado foi apenas mais um capítulo dessa triste história que vemos e vivemos, sempre culminando em mortes e perdas irreparáveis para a classe mais vulnerável dos nossos municípios.
Segundo o Mapa da Desigualdade 2023, elaborado pela ONG Casa Fluminense, que analisa dados de base pública, em 2021 e 2022, 2,2 milhões de pessoas foram afetadas pelas enchentes no Estado do Rio. Nesse período, 16,2 mil casas foram danificadas ou completamente destruídas por eventos climáticos. Num ciclo contínuo de degradação e empobrecimento das famílias, a maior parte delas concentrada na Baixada Fluminense. Como isso acontece há tanto tempo e ainda não conseguimos mitigar os impactos das tempestades, que sempre irão ocorrer?
Obviamente, já houve progressos, principalmente com o mapeamento das áreas de risco, implementação de sistemas de alerta e até algum investimento na manutenção e regulação das infraestruturas de redes de drenagem e sistema de esgotos. No entanto, ainda falta muita, muita coisa, que a gestão do Estado precisa investir fortemente, para ontem!
Também é importante ressaltar que a abordagem para evitar tragédias causadas pela chuva deve ser integrada, envolvendo ações preventivas, preparação, resposta e recuperação. Além disso, a participação ativa da comunidade e o envolvimento de múltiplos setores da sociedade são fundamentais para o sucesso dessas medidas.
A primeira coisa que se pergunta é: como ter verba para implantar essas atividades? Não é simples, mas é extremamente necessário. Por isso, obter financiamento para iniciativas de prevenção de desastres e melhoria da infraestrutura requer uma abordagem estratégica e a busca de diversas fontes de financiamento, não ficar dependendo apenas de Recursos do Governo Federal (imprescindíveis, necessários e de direito de todo povo, mas não único). Parcerias Público-Privadas, Captação de Recursos Internacionais, Fundo Nacional de Calamidades Públicas, Incentivos Fiscais para Empresas, Fundos Ambientais etc. são saídas que podem e devem ser colocadas em ação o quanto antes em uma estratégia multifacetada, combinando diferentes fontes de financiamento para garantir a sustentabilidade e eficácia das iniciativas de prevenção de desastres.
Repito, isso é para ontem. Não podemos mais ver a população de todo Estado do Rio de Janeiro sofrer a cada chuva e perder tudo que tem, inclusive, a vida.
*Adm. Wagner Siqueira é presidente do CRA-RJ e membro efetivo da Assembleia do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam).