Ética e modelos de gestão aplicados

Em a ‘Ética à Nicômaco’, Aristóteles pressupõe que a vida deve pautar-se por elaboração de normas morais que conduzirão a comportamentos virtuosos e retos em busca da verdade, o bem supremo e a perfeição.

Dessa forma, percebemos que tal pensamento deve ser reproduzido às organizações públicas e privadas, objeto de nossas pesquisas e atividades profissionais para as quais a ciência da Administração preconiza que estruturas formais de organização deverão ser um dos pilares de sua existência na medida que conterão normas, rotinas e procedimentos para todas as atividades e, consequentemente, o comportamento das pessoas.

Para tanto, ao elaborar-se e realizar-se o trabalho organizacional são primordiais três fundamentos iniciais:

  1. Estrutura formal de organização;
  2. Comportamento humano na organização;
  3. Integração de pessoas à organização formal.

No item primeiro, há a elaboração de estrutura formal com suas departamentalizações, funções, normas rotinas e procedimentos. Este item será portanto o construtor da excelência moral, o discernimento e a prudência, segundo preconizado por Aristóteles, extensivo aos funcionários das organizações.

No aprofundamento do pensamento anterior o comportamento humano deverá ser pautado por aquela estrutura formal e balizará a vida organizacional em seu percurso.

Todavia, para que não se torne rígida a estrutura formal dever-se-á conduzir o comportamento humano conforme o item segundo dos fundamentos anteriormente descritos. Para tanto, serão necessários programas de capacitação técnica nas funções e aqueles referentes à personalidade. Programas voltados ao autoconhecimento, conhecimento do outro, também conhecidos por inteligência emocional.

Na estrutura da personalidade tem-se o ego, a parte consciente de si e do outro; o superego que proporciona o aprofundamento do ego e o id, o substrato inconsciente no qual residem os instintos humanos. Tais instintos podem ser responsáveis por grandes males causados ao ego próprio ou ao outro, na forma de agressões, dissimulações, boicotes e maiores danos psicomentais.

As organizações conhecedoras destes fatos deverão empreender atividades como Laboratórios de Sensibilidade (Moscovici,1965) ou Psicodramas Pedagógicos no sentido de promover autoconhecimento aos seus funcionários e diminuir os componentes nocivos da personalidade e, consequentemente aumento da inteligência emocional e maior produtividade. Neste ponto, observa-se que de acordo com Chris Argyris, os conflitos entre personalidade e organização formal serão caracterizados por refugos , perdas de material, absenteísmo alto e retrabalho que deverão recair justamente na queda de produtividade final ou em outras palavras, avaliação de processo e avaliação de produto final.

O terceiro ponto desta reflexão que aborda a interação entre personalidade e organização formal, um dos objetivos maiores dos modelos de gestão referir-se-á aos demais instrumentos de gestão de pessoas, além daqueles relativos à personalidade. Estes instrumentos eminentemente técnicos, vêm ao encontro da permissão de autonomia e descentralização preconizados por Douglas McGregor (1960) através de círculos de controle de qualidade também conhecidos por equipes de aperfeiçoamento contínuo no qual as sugestões sobre melhorias são tomadas por quem as executa.

Os times de trabalho que são profissionais de diferentes setores da organização que reúnem-se esporadicamente para decidirem sobre grandes questões organizacionais é outro instrumento que segue o pensamento de McGregor.

Dessa forma, nota-se que tais instrumentos proporcionam além de integração à organização, com também, induzem o pensamento criativo.

A integração entre indivíduo entre indivíduo e organização formal dar-se-á pela participação dos funcionários na dinâmica organizacional que permitirá perceber-se como parte de sua vida e a importância do trabalho para satisfação de necessidades humanas mais altas daquelas nocivas e instintuais.

*Adm. Julio Sergio dos Mares Guia Raposo é Bacharel e Mestre em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (Ebape FGV/RJ). Diplomado pela The Industrial Society in Training Techniques and Administration / The British Council / Londres~Inglaterra.

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