Deepfake

As imagens adulteradas são usadas comumente na política. Em 2019, a ex-presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, foi vítima de um deepfake baseado em um vídeo autêntico para sugerir que a representante democrata tinha dificuldades na fala em um discurso. O autor dessa fraude desacelerou o vídeo original e editou a fala para dar a entender que ela estava tropeçando em suas palavras. O conteúdo com esta desinformação teve ampla circulação nas redes sociais, provocando constrangimento para a deputada, e chegou a ser removido do YouTube.
Os próximos três meses que antecedem as eleições municipais no Brasil exigirão dos eleitores um cuidado especial para identificar e separar as notícias falsas das verdadeiras, e isto não é tarefa fácil, pois as falsas, como “fogo no mato”, espalham- -se sem controle, e o desmentido não tem a mesma repercussão da primeira notícia.
Mas a vida real, fora do ambiente digital, nos tem revelado um lado fake (falso) em que muitos protagonistas, de “cara limpa”, apresentam-se como outros, ou se transvestem de Clésio Guimarães personagens como se verdadeiros fossem. A sociedade tem produzido muitos figurões que vivem uma irrealidade ao quererem ser o que não são. Pepe Mojica, ex-presidente do Uruguai, é autor de uma frase curiosa: “O pior inimigo do pobre é outro pobre que se acha rico e que defende aqueles que os tornam pobres”.
É interessante observar o comportamento dos seguidores de algumas denominações religiosas que incorporam a fala, as vestimentas e os gestos de seus líderes; correligionários de políticos que assimilam comportamentos e trejeitos de seus chefes. Há até um ditado que diz que donos de animais de estimação, com o passar do tempo, ficam parecidos com seus bichinhos. Se na vida real isto acontece, imagine no meio virtual com manipulação de voz e imagem!
Fato é que há motivo real de preocupação. Ainda que o alvo principal da comunidade em torno da ferramenta sejam pessoas públicas, nada impede que alguém realmente mal-intencionado pegue um vídeo de uma pessoa comum e a coloque em uma situação constrangedora. Como se proteger? Simples: não ser famoso, não ser político em evidência, não ter inimigos, não ostentar socialmente, não ser ninguém!
Curioso é que há aproximadamente 70 anos o filósofo gaulês Bertrand Russel (1872 – 1970), já dizia: “A maioria dos maiores males que o homem infligiu ao homem veio do fato de as pessoas se sentirem bastante certas de algo que, na verdade, era falso”. Em que pese o hiato temporal, ele estava absolutamente certo.
Vai chegar o dia em que ao olharmos nossa imagem no espelho teremos que perguntar: “será que você sou eu mesmo?”.