Assédio, não! Isso é um vexame!

Assédio, não! Isso é um vexame!

Assédio, não! Isso é um vexame!No artigo “Um vexame!”, que escrevi por ocasião do Dia Internacional da Mulher, trouxe um fato que escandalizou as mulheres. Vi no fato um alerta aos Administradores, em especial os da área de RH. Como se já não fosse difícil a realidade das mulheres para serem reconhecidas e valorizadas na sociedade, dias antes da comemoração de seu dia, as mulheres sofreram um desrespeito, por imagens e por ações ocorridas dentro da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp).

Em 16/12/2020, com gravação ao vivo pelas câmeras da Alesp, o Deputado Fernando Cury (Cidadania-SP) assediou a Deputada Isa Penna (PSOL-SP): apalpou seu corpo, sem constrangimento. Um comportamento absurdo para um homem; absurdo para um homem público; absurdo por ocorrer no local de trabalho.
Com as cenas divulgadas, inúmeras declarações condenaram, veementemente, o comportamento do Deputado Fernando Cury, inclusive o presidente do seu partido. Apesar das imagens flagradas, o deputado negava as acusações e, ainda, em sua defesa apresentou uma descrição do fato que assusta, tais como:

“Não há aspectos ou elementos técnicos que permitam afirmar que houve apalpação ou ‘encoxada’ [….];

“Se houve um toque na região lateral direita, ele ocorreu sem pressão, de forma leve, tanto que no momento não foi ao menos percebido pela Deputada Isa Penna, que não esboçou uma mínima reação para o seu lado direito” [….];

“Não houve intenção de assediá-la sexualmente, não tendo havido má-fé, intenção libidinosa nenhuma [….];

“Não ocorreu violação do decoro parlamentar”.
Ou seja, para o deputado não vale o flagrado pelas câmeras, nem pelos outros deputados, mas apenas a sua descrição do fato e suas intenções.

E apesar das imagens e da argumentação absurda da defesa do deputado, o Conselho de Ética da Alesp aprovou, por cinco votos contra quatro, um abrandamento da punição do Deputado Fernando Cury.

A Deputada Isa Penna, a vítima do assédio, afirmou: “Abre a porta para os assediadores. […] . Isso mancha a história da Assembleia Legislativa de São Paulo”.

Entretanto, o plenário da Alesp, em 01/04/2021, em decisão inédita, por unanimidade, não aprovou o relatório da Comissão de Ética e determinou a perda temporária do mandato do Deputado Fernando Cury, por 180 dias.

Vimos nesta decisão da Alesp a vitória dos valores éticos, dos valores morais, dos valores democráticos e do respeito às mulheres em geral. Foi um recado claro de “Assédio, não!”.

Achei relevante trazer este fato para nós, Administradores e Gestores de Pessoas, pois nas organizações públicas e privadas os assédios ocorrem, e sempre há risco de serem descaracterizados pelas artimanhas de defesa, com descrições técnicas e subjetivas apresentadas pelos assediadores, como foi a defesa do Deputado Fernando Cury, para sobrepor a forma sobre o conteúdo.

A importância deste fato para os Administradores e Gestores de Pessoas está na atenção a ser dada ao único elemento de valor absoluto e incontestável nestas situações de assédio - a presença ou não de consentimento entre as partes. Valorizar o consentimento é o caminho mais seguro para não corrermos o risco de compactuarmos com comportamentos desrespeitosos dentro das organizações.

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