A crise dos correios, a importância da Gestão e a sabedoria da coruja de Minerva

Essa situação chama atenção para a necessidade de uma gestão pública mais lúcida, técnica e baseada em diagnóstico realista, capaz de diferenciar fatos de narrativas, prioridades de ilusões. Na administração, convivemos diariamente com múltiplas versões da realidade: a realidade objetiva dos dados, a ficção das narrativas políticas, a fantasia de soluções improvisadas e o virtual das simulações e promessas tecnológicas. Sem capacidade crítica, qualquer gestor — público ou privado — corre o risco de interpretar mal o cenário e tomar decisões tardias, custosas e desconectadas das verdadeiras necessidades da organização.
A parábola da Coruja de Minerva, associada à sabedoria filosófica de Hegel, ilustra esse desafio. A coruja que só alça voo ao crepúsculo simboliza dois caminhos: (1) o olhar sábio, capaz de compreender o final de um ciclo e antecipar o início de outro; (2) o olhar tardio, que só enxerga os problemas quando já anoiteceu demais para agir. No caso dos Correios, o Estado brasileiro tem se comportado como a coruja que chega atrasada: reage quando o colapso já é inevitável, bloqueia bilhões do orçamento quando o rombo já se impôs e insiste em manter um formato que perdeu sentido no novo tempo. Falta-lhe a mentalidade do alvorecer — aquela que antecipa tendências, reconhece limites e conduz transformações estratégicas antes que a crise se torne irreversível.
A gestão moderna exige essa postura antecipatória: leitura correta da realidade, rigor estratégico, coragem para romper modelos ultrapassados e visão para construir novos caminhos. Por isso, discutir a privatização ou concessão dos Correios não é apenas um debate ideológico, mas um imperativo gerencial. É a busca por eficiência, modernização, redução de custos e entrega de melhores serviços à população. Assim como a Coruja de Minerva simboliza a sabedoria que enxerga além da escuridão, a gestão pública precisa evoluir para olhar o cenário de forma clara, crítica e responsável. Persistir no modelo atual é voar no escuro; transformar a estatal é permitir que o país avance com a luz do alvorecer — onde decisões são
baseadas em fatos, e não em mitos; em eficiência, e não em nostalgia.
*Adm. José Carlos de Freitas é membro da Comissão Especial de Recuperação Judicial, Extrajudicial e Falência do CRA-RJ.