Um Dilema Equivocado

Um Dilema Equivocado: Estrutura X Comportamento?

Um dos mais flagrantes equívocos gerenciais que conheço no mundo das organizações é tentar resolver problemas de comportamento por meio de soluções e de estratagemas estruturais-funcionais. A perspectiva organogramática ou mesmo funcionalista oblitera a identificação e o equacionamento do verdadeiro problema, no pressuposto de que estruturas ideais ou adequadas são condições necessárias para a competência e a eficiência de desempenho.

Outro equívoco, justamente o inverso, é recorrer a soluções de natureza comportamental para tentar resolver questões estruturais. E aí as soluções vão de considerar que “vacas felizes é que dão bom leite”, no pressuposto de que quadros funcionais satisfeitos serão consequentemente competentes e eficientes.

Os estruturalistas acreditam que viabilizam suas estratégias por várias maneiras. Dentre elas, por exemplo: autonomização de funções e consequente desmembramento ou fusões de órgãos e de atribuições, com o objetivo manifesto de racionalização estrutural-funcional, se bem que o verdadeiro e implícito propósito – o mais das vezes – seja o de liberar do controle certas funções que reclamem liderança autônoma mais efetiva. Defendem a criação de órgão “mais nobre e enriquecido” – geralmente na nobreza vazia dos sarcófagos mumificados -, que exige a singularidade da experiência exclusiva do dirigente a ser “condecorado” para dar lugar a outro na condução das atividades. Muitas vezes atribuem “missões especiais”, normalmente sem metas e resultados mensuráveis, cujos heróis devem inelutavelmente se reportar ao dirigente de topo, a fim de conferir nobreza aos que vão realizar as novas funções.

Curtos-circuitos artificialmente legitimados por uma situação de crise também costumam garantir, em caráter excepcional, a transferência de atribuições e missões diretamente ao presidente da organização. Não importa qual seja a solução. O fato é que soluções estruturais para problemas de comportamento implicam sempre disfunções inavaliáveis para a realidade organizacional.

Já os comportamentalistas têm o mau hábito, porque oriundo de concepções equivocadas, de querer resolver todos os problemas pela via da motivação e da atitude. Esquecem-se de que a sinergia de uma equipe de incompetentes tem como resultante a “incompetência ao cubo”, por melhor ou mais adequada que seja a estrutura.

Todas as soluções comportamentalistas guardam sempre uma mesma característica: dependem de personalidades especiais, de gerentes exímios e tolerantes. As expectativas messiânicas do líder “salvador da pátria”, contaminado pelo viés comportamental, resultam em, pelo menos, duas disfunções gravíssimas: a primeira, por gerar dependências indevidas da organização em relação a ele, dirigente maior. A segunda, por gerar independências também indevidas, dele, em relação à organização. E’ o convite ao autoritarismo de um líder mandonista, sob a capa, a ele muito conveniente, de vítima. Aliás, o coitadismo no Brasil é uma disfunção cultural.

O devido equacionamento do problema da gestão não está nem só em estrutura quanto nem só em comportamento. Mas depende simultaneamente tanto de uma quanto de outro, de ambos atuando sinergicamente.

Estrutura e comportamento são variáveis indissociáveis do processo de gestão. Formar quadros para novos processos consistentes requer enorme esforço em estrutura e comportamento. Só assim poderemos vencer o enorme abismo, hoje existente, entre a tecnologia, que avança à velocidade orbital, em comparação à cultura do carro de boi que viceja, em geral, na mentalidade e no caráter do universo das organizações e da sociedade.

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