Episteme

Episteme

Episteme“Só sei que nada sei” é uma frase atribuída ao filósofo grego Sócrates (470 a.C. – 399 a.C.), porém sua autoria não encontra unanimidade no meio filosófico, mas isso é irrelevante diante da profundidade da citação. O conhecimento é algo subjetivo, pois o que é hoje pode não ser mais amanhã, portanto, nada sabemos, sempre estamos aprendendo. Na filosofia grega, o conhecimento verdadeiro, de natureza científica, que se opunha à opinião infundada e irrefletida, era denominado de “Episteme”. Friedrich Nietzsche (1844 – 1900), filósofo alemão, sobre o conhecimento disse: “Não há fatos, apenas interpretações”.

Por acaso chegou-me às mãos um exemplar da revista Exame, edição do dia 15/07/2009, onde, em entrevista, o diretor global de tecnologia do banco Santander, José Maria Bendegem, tece algumas considerações a respeito do futuro da tecnologia bancária. Entre algumas questões abordadas, ele disse: “os cheques não vão desaparecer”; “os celulares são bons para falar, mas ruins como meio de pagamento”. Quatorze anos se passaram e vemos que ele estava equivocado, claro que sua opinião era fundamentada no conhecimento disponível à época. Hoje, praticamente não se usa mais cheques, os aparelhos celulares representam o principal meio de acesso aos bancos para efetuar pagamentos, contrair empréstimos, entre outras funções. Isso prova que nenhum conhecimento é absoluto ou definitivo. Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), já dizia: “O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo que diz”. Por isso, qualquer conceito, descoberta ou opinião deve ser manifestado com reserva, pois no dia seguinte pode não mais ser sustentada. Um dia, o homem afirmou que a terra era quadrada, e não era; depois afirmou que o sol girava em torno da terra, era o contrário. E tantas outras afirmações equivocadas que acabaram sendo reformuladas.

Na área econômica, o conhecimento é tão efêmero que o Clésio Guimarães estudo da economia é chamado de “teoria”; a história das nações, contada e ensinada desde os primeiros anos escolares, teve que ser reescrita por conta das novas revelações agregadas com o uso da tecnologia; nas ciências, cada dia surge uma nova descoberta desconsiderando conhecimentos anteriores. O homem sábio sabe que quanto mais aprende, mais descobre que nada sabe, diferentemente do tolo que acha que sabe tudo. Um caso muito conhecido envolveu a Kodak, gigante mundial de produtos fotográficos. Seus engenheiros criaram a máquina de fotografia digital. Quando foi apresentada para a alta direção, foram aconselhados a engavetar o projeto, pois o foco da empresa era a fotografia por película e que esta nova tecnologia não prosperaria. Aconteceu que os concorrentes partiram na frente e a Kodak nunca mais os alcançou, culminando por falir. A causa, excesso de confiança e falta de conhecimento.

Contrapondo-se à “Episteme”, encontramos a “Doxa”, que é a opinião do povo, os mitos transmitidos por gerações. No Brasil Colonial, como exemplo, o leite era um alimento caro e mais escasso, enquanto a manga, uma fruta facilmente encontrada. Os senhores de engenho não queriam que os escravos consumissem o leite e por isso começaram a disseminar a história de que quem ingerisse leite e chupasse manga morreria, fazendo com que os escravizados ficassem longe do alimento. Até hoje ainda existem pessoas que pensam assim.

Nos ambientes corporativos, públicos e até religiosos, encontramos lideranças que acham que sabem tudo; por isso, cometem tantos erros, por falta de humildade de reconhecer que nada sabem.

Certo estava a poetisa Cora Coralina (1889 – 1985) quando disse:

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

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