O Estímulo à Inovação
Embora pareça óbvio que ao constituir uma empresa seu fundador deseje prosperidade, crescimento e que a empresa permaneça viva, só há pouco tempo o conceito de Sustentabilidade Organizacional vem sendo considerado no meio empresarial e acadêmico. Enquanto isso, quantas empresas nasceram, algumas até prosperaram e cresceram, mas não se sustentaram ao longo do tempo?
Há algum tempo, a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpaei) declarou em um dos seus manifestos que “a inovação é necessária para garantir a longevidade de qualquer organização. Aqueles que ignorarem este fato, certamente não sobreviverão às contínuas mudanças que estamos vivendo. Não existe atalho! Não existe solução mágica! Não existe uma única receita de bolo! Cada empresa precisa percorrer a sua própria jornada na construção e evolução de um modelo de gestão da inovação, que reflita suas características, suas particularidades e mais importante, que funcione em seu contexto específico”.
Embora não exista uma receita de bolo, identifico alguns ingredientes que, nas porções adequadas e manipulados pelo desejo de acertar, levam ao sucesso.
Planejamento estratégico está presente, sem dúvida, mas não a forma onde colocamos nossos ingredientes. Serve como um norte, mas permite que doses de flexibilidade sejam acrescentadas na medida em que a evolução se dá e novos ingredientes possam ser inseridos, seja pelo aprendizado contínuo, seja por novas tendências ou quaisquer outras possibilidades.
Nessa linha, compactuo com a importância da inovação no processo, e considero que o berço da inovação é a criatividade. No entendimento do que seja criatividade, sigo o pensamento da educadora estadunidense Mary Lou Cook: “Criatividade é inventar, experimentar, crescer, correr riscos, quebrar regras, cometer erros, e se divertir.”
Essa poderosa ferramenta tem se mostrado cada vez mais presente nas organizações, mas para que uma ideia criativa seja transformada em resultados — como um novo produto, processo, serviço, como influência positiva no aumento da produtividade, na otimização da performance, na elevação do padrão de qualidade, na redução de custos, entre tantos outros — é preciso um grande trabalho das lideranças na estimulação das pessoas que atuam na e para a organização.
A mente criativa é livre, mas muitas vezes as pessoas precisam de incentivos para atuarem de maneira espontânea, sem se desviar do direcionamento traçado no plano organizacional. Esse direcionamento requer da liderança três ações: Ensinar, Influenciar e Flexibilizar.
Para prolongar a vida de uma organização, ou seja, torná-la uma organização sustentável, a inovação tem que estar inserida no processo e ser um dos elementos da cultura. Isso efetivamente acontece, quando os gestores são capazes de gerar, difundir e transformar a cultura da organização.
Nessa linha de pensamento, há cerca de 30 anos, o renomado consultor Ichak Adizes já afirmava que “Gerenciar significa lidar com pessoas que resolvem problemas, e não apenas resolver os problemas sozinho.”
Uma das alternativas para vencer o desafio de superar barreiras e estimular o trabalho, tornando o ambiente propício à criatividade, é a aplicação das recomendações do autor José Cláudio Cyrineu Terra:
- Estimular a atitude criativa;
- Estimular a flexibilidade intelectual, encarando a solução de problemas sob várias formas;
- Pressionar e facilitar a aprendizagem contínua;
- Postergar julgamentos;
- Auxiliar cada empregado a compreender, aceitar e superar seus fracassos e limitações;
- Estimular a boa convivência entre personalidades divergentes;
- Eliminar atitudes e meio autoritários;
- Encorajar a autorrealização do processo individual.
Relembrando, é por meio da criatividade que chegamos à inovação. Portanto, e em consonância com o pensamento de diversos estudiosos do assunto, creio que a inovação se constitui numa vantagem competitiva sustentável quando a empresa adota e estimula a criatividade nos seus processos, produtos, serviços e a insere em sua cultura. Esse é o alicerce, mas a criatividade só se transforma em inovação quando é adequadamente gerenciada. A fórmula é simples: Criatividade + Gestão = Inovação.
Sob a ótica da inovação, a gestão tem que ser capaz de reformular pressupostos básicos e tradicionais da organização e, também, de explorar as necessidades dos clientes e mercados para reinventar o próprio negócio. Dessa forma, produzirá um novo conjunto de processos estratégicos relacionados ao desenvolvimento e renovação. O resultado poderá ser a obtenção isolada ou combinada de:
- Novo produto ou serviço;
- Novo processo organizacional;
- Novo processo de gestão organizacional;
- Nova abordagem de marketing ou de comercialização;
- Novo modelo de negócios ou melhoria do existente.
E, seguindo essas e outras considerações, como saber se sua empresa é inovadora?
O gabarito para essa pergunta está na definição do eterno guru empresarial, e merecidamente considerado o Pai da Administração Moderna, Peter Ferdinand Drucker. Ele definiu que:
“A organização inovadora compreende que a inovação começa com uma ideia, e estimula e orienta os esforços para transformar uma ideia num produto, processo, numa empresa ou numa tecnologia. Ela mede as inovações não por sua importância científica ou tecnológica, mas pelo que contribuem para o mercado e para o cliente. Considera a inovação social tão importante quanto a inovação tecnológica.”
A transformação que nos é imposta pelo e para o avanço da sociedade, avanço aqui entendido apenas em seu contexto literal de ir para adiante, também exigiu a transformação dos fatores críticos de sucesso. Antes Preço, Qualidade e Entrega eram suficientes para que uma empresa fosse posicionada no mercado mas, atualmente, mais dois vêm sendo exigidos: Flexibilidade e Inovação.
Preço, Qualidade e Entrega são processos e podem ser facilmente repetidos e copiados. Para que a empresa constitua uma vantagem competitiva sustentável, precisa atender aos outros dois, tendo a Flexibilidade necessária para se adaptar às mudanças que ela mesma promove ou àquelas provocadas pelo mercado. E estimular suas atividades num ambiente criativo, onde a Inovação possa surgir como resultado.
Nesses dois fatores críticos de sucesso, a base não é mais um processo, mas algo muito mais complexo. Toda flexibilidade depende de quanto as pessoas estão dispostas a usá-la. De igual modo, não há processo inovador sem a intervenção de pessoas. É aí que reside a complexidade. Nas empresas, indivíduos precisam ser estimulados a atuar com suas características individuais, mas formando um corpo único. São diferentes atuando por e para um objetivo igual. O sucesso depende de como a gestão está atenta e conduz as diversas relações que são originadas nessa relação de interdependência entre indivíduos.
Isso exige tempo, paciência, perspicácia e persistência. Nem sempre uma ideia genial surge num “momento iluminado”. As grandes e boas ideias necessitam de tempo para amadurecer. Muitas vezes dependem ainda de uma conexão entre ideias de duas ou mais pessoas.
Outro ponto a ser considerado é a tolerância com possíveis falhas que surgem no processo criativo. Para melhor compreensão, recomendo observar o que foi dito ex-Presidente da Índia, Dr. Avul Pakir Jainulabdeen Abdul Kalam, sobre o assunto:
“Se você falhar, nunca desista porque FALHAR (FAIL) significa ‘primeira tentativa na aprendizagem’. FIM (END) não é o fim. Na verdade, FIM (END) significa ‘Esforço Nunca Morre’. Se você obtiver NÃO (NO) como resposta, lembre-se NÃO (NO) significa ‘próxima oportunidade’.”
A criatividade requer um processo relativamente simples, apenas liberdade para produção de ideias. Já a inovação tem alto grau de complexidade. Gerenciá-las pode parecer difícil, mas impossível não é.
Aquele que acredita em seus sonhos é o primeiro a ter oportunidade de realizá-los.