Como lidar com a política?
Segundo Maquiavel em seu clássico O Príncipe, política é “a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo”. E porque será que algo que pode ser tão importante na vida de qualquer pessoa é considerado tão negativo, desprezível, repugnante e de baixo nível pela nossa sociedade?
A resposta é porque as pessoas estão acostumadas com a política partidária, que é feita de forma, muitas vezes, imoral e desqualificada e são vistas apenas como coisa dos “políticos”. Os que veem desta maneira, não se dão conta de que este é um erro que, muitas vezes, pode ser fatal. Fatal nas relações afetivas, fatal nas relações profissionais e até no âmbito familiar. Quando uma criança em casa quebra o vaso de sua mãe, e ao vê-la com um chinelo em punho querendo saber quem foi que cometeu o ato, responde, com a cara mais deslavada do mundo, que foi o irmão, isso nada mais é do que fazer política. E assim, enquanto muitos enchem a boca para dizer que não gostam da política, não notam que estarão sendo comandados pelos que gostam. O mundo não é um local onde vivem apenas pessoas belas, gentis e que respeitam seus semelhantes. Dar e receber “cotoveladas” faz parte do dia a dia, aprenda a se defender e também a atacar. Não estou aqui defendendo um mundo de posturas ignorantes e mal intencionadas, ao contrário disso, o objetivo deveria ser sempre construir relações e sociedades estabilizadas, plurais e coletivas, mas nem sempre este é o caminho natural, e ai é precioso jogar o jogo.
E quando passamos a olhar as empresas, corporações e instituições? Seriam diferentes as relações de poder? Absolutamente não. O ser humano é o mesmo e as relações de poder seguem o mesmo modelo. Costumo dizer que temos três tipos de pessoas nas empresas, os ruins, os bons e os bonzinhos. Os ruins são rapidamente identificados nas organizações, não tem compromissos com os resultados, procuram logo se “encostar” e fogem, conforme o diabo da cruz, quando tentam lhes impor tarefas que tragam responsabilidades. Uma vez identificados serão expurgados, ou se for o caso, tolerados e deixados à margem. Os bons ao contrário são respeitados pela sua capacidade profissional, recebem as maiores cargas de trabalho (afinal é mais sensato entregar um trabalho novo ao empregado que já esta cheio de demandas mas que dará conta de todas elas, mesmo com algum atraso, do que entregar para aquele que não tem “nada para fazer”, que certamente fará o trabalho pela metade, exigirá revisão detalhada para se identificarem os possíveis erros, comprometendo o resultado final), e colhem frutos na carreira com progressão salarial e ascensão funcional. Agora se você for um empregado considerado “bonzinho” a maior chance é que fique pelo caminho e vire um empregado meio que invisível para a empresa e mesmo com todo o empenho, com a qualidade profissional com o respeito às normas e aos horários, com zelo ao que lhe é confiado, fica esquecido na hora das promoções e da aplicação do mérito. Normalmente o Bonzinho não sabe fazer o jogo político, é isso lhe custa um alto preço.
Uma questão importante a destacar, é que nem sempre o bom avança e nem sempre o ruim perde. Mas o “bonzinho” tende a ficar sempre em segundo plano com o que sobrar da disputa de cima.
Invariavelmente na disputa política temos três polos, quem esta no poder, ou seja, quem o exerce, quem governa; Quem é contra o poder estabelecido, ou seja quem o contesta, quem é oposição; e o grupo maior, que são aqueles que são liderados e seguem a quem tiver as melhores propostas ou melhor discurso de convencimento, são os oscilantes. Claro que muitas subdivisões podem ser identificadas nestes três grupos gerando necessidades específicas que devem ser consideradas na disputa política.
A questão central na disputa política são os interesses envolvidos, o famoso “o que eu ganho com isso?”, que faz com que o ser humano se movimente por estes interesses que podem ser econômicos financeiros ou pessoais ou uma conjugação de ambos. Desses interesses surge a corrupção, o privilégio, o nepotismo entre outras mazelas.
Se retornarmos a 20, 30 nos atrás, veremos que as campanhas eleitorais tradicionais ainda tinham um aspecto de eleger aqueles que tinham as melhores ideias e projetos para nossas Cidades, Estados ou País, hoje temos, para os interessados diretamente, um verdadeiro toma lá da cá que passa por cargos, contratações para trabalhar no período eleitoral, vantagens indevidas, promessas de nomeação e comissões em futuras vendas de produtos e serviços. Para os “não interessados” na política, resta a abstenção do voto e os lamentos e murmúrios.
Fundamental é a luta por um modelo mais transparente, mais coletivo, mais educacional para podermos preparar as novas gerações para um novo momento onde não esteja na pauta o vale tudo.