Uma decisão pública cada vez mais complexa!

Assistimos ao aquecimento dos debates sobre a volta presencial ou a permanência no modelo online, ou até o híbrido, nas instituições de ensino da rede federal. Imagino que você tenha sua opinião sobre o assunto, mas quero te convidar a fazer o exercício de estar na pele de quem toma a decisão sobre o “volta ou não volta” nestas instituições.

A partir de agora você tem muitos lados a escutar, te pressionando, cada um com a sua verdade e suas pautas.

Favoravelmente à volta presencial, tens a seu lado a vacinação avançando, pareceres de comitês científicos, diversas outras instituições já tendo voltado, seja de educação ou não, o que faz a imprensa exercer uma pressão a mais. Diversos alunos e docentes que não se adaptaram ao modelo online e sentiram que o aprendizado não se deu o melhor possível, além de laços afetivos que ficaram prejudicados.

Quando falamos de dinheiro, a economia local que gira em torno do dia a dia da comunidade acadêmica fica estagnada, e famílias humildes veem suas economias domésticas em dificuldades. Sem poder planejar, tiveram que arcar total ou parcialmente com custos para assistir às aulas online e ficam mais tempo em casa, gerando maiores gastos de energia elétrica, gás e de alimentação, que neste ponto em específico, era suprido pelo bandejão (restaurante universitário). Alguns outros podem estar em alojamentos durante toda a pandemia, com uma internet em qualidade menor do que a necessária para as aulas.

Contra a volta presencial, temos o avanço da ômicron e as possíveis novas variantes. Se felizmente o número de mortes é menor do que na 1ª onda, não exclui o fato de que diversos técnicos e docentes ao se contaminarem precisarão ser afastados, e isso afetará o dia a dia da gestão universitária. Será possível garantir o uso de máscara mesmo com populações universitárias de 10 mil, 30 mil, 60 mil? E se lembrarmos que a comunidade tem atividades esportivas e eventuais salas que pela sua característica não terão como garantir distanciamento e ventilação. Temos o restaurante universitário tão essencial para muitos alunos, e ninguém imagina que se comerá de máscara.

Temos uma série de argumentos de todos os lados e que aqui simplesmente os listei sem fazer julgamento de valor, mas meu ponto é que a gestão pública se viu durante a pandemia sendo ainda mais desafiada com problemas cada vez mais complexos. Isso significa um número crescente de variáveis para a sua resolução e não podendo depender da subjetividade ou do simples (embora importante) bom senso!

Dessa forma, é imprescindível investir mais e mais em governança, em compliance, na tomada de decisão com base em evidências e o uso intensivo de dados e tecnologia.

No entanto, tomando cuidado para não cair no espaço comum de colocar toda a energia em normas, formulários e processos e esquecer de como o principal usuário daquela política pública e suas necessidades se relacionarão com os instrumentos criados.

As organizações são feitas de gente e para atender os problemas das pessoas. Esse deve ser um ponto de vista inegociável.

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