Qualidade para a Educação Básica

O Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro, sob a dinâmica e esclarecida presidência do Dr. Wagner Siqueira realizou, com apoio do Conselho Federal, o XXII Encontro Brasileiro e o VIII Congresso Mundial de Administradores, nos dias 5, 6 e 7 de novembro, no VIVO RIO e no Museu de Arte Moderna.

Dois mil e quinhentos administradores participaram, interessadamente do Evento, cujo tema foi “Pacto Global: a contribuição da administração para uma sociedade mais justa e sustentável”.

A programação incluiu uma Conferência Magna, proferida pelo sociólogo Domenico De Mais, sobre o tema “Uma Era de Justiça Social: como promover um crescimento forte, sustentável, equilibrado e igualitário”, e onze painéis. Ao final do Evento foi apresentada a “Carta do Rio”.

Certamente, por saberem da importância de uma Educação Básica de Qualidade para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável, os organizadores incluíram entre os painéis, um, sobre este tema.

Tive o privilégio de ser convidada para participar deste painel, ao lado de dois grandes educadores – a Dra. e Conselheira Professora Malvina Tuttman e o Magnífico Reitor Padre Jesus Hortal Sanchez.

O painel foi presidido por Dr. Sérgio Bartolani, que o abriu apresentando um panorama sobre a Educação Básica na Itália.

Para mim, foi uma oportunidade única falar sobre a Educação Básica brasileira para 2500 administradores.

Comecei por dizer-lhes que a educação é tão importante que não deve ficar somente sob a responsabilidade dos educadores, tanto assim que a Constituição brasileira de 1988 diz que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da Família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

1 Reafirmando que sem Educação Básica de qualidade para todos não se pode falar em sociedade mais justa e sustentável, apresentei um retrospecto, com base nas Constituições de 1824, 1891, 1926, 1934, 1937, 1946, 1967, Emenda de 1969 e a de 1988, abordando os artigos dedicados à educação obrigatória e gratuita. Chamei atenção para o fato de que, durante 147 anos, no Brasil, a educação considerada obrigatória, portanto básica, foi a educação primária. Só com a edição da Lei 5692, de agosto de 1971, que legislou sobre a educação de 1º e 2º graus, é que o Brasil passou de 4 ou 5 anos de educação obrigatória para oito, na faixa etária dos 7 aos 14 anos, reunindo o ensino primário e o ginasial. E, nesta linha do tempo mostrei que, só a partir da Constituição de 1988, com a Emenda aditiva nº 14, de 1996, por força do que dispôs a Lei 9394/96, é que o Brasil passou a considerar como Educação Básica, a que engloba a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, já não mais mencionando a faixa etária. Com este grande passo, embora continuasse a conferir obrigatoriedade ao ensino fundamental, já acenava com a extensão da mesma para as demais etapas da Educação Básica. De 8 anos de educação obrigatória e gratuita, os brasileiros passavam a ter 16 anos de educação obrigatória, incluindo dois anos de creche.
Utilizando os dados do Censo Demográfico de 2010, apresentei um quadro mostrando a matrícula em cada etapa, o que leva a Educação Básica a ter matriculados 51.530.091 brasileiros, da creche ao ensino médio; um contingente maior do que a população de vários países. Além de universalizar o acesso ao ensino fundamental, conseguimos ampliar, significativamente, as matrículas na pré escola e no ensino médio. Avançamos quantitativamente, sem entretanto conseguir a permanência dos alunos até o final de cada etapa e a conclusão de curso, o que realmente marca a produtividade de um sistema de ensino. Continuamos convivendo com índices altos de reprovação, repetência, distorção série-idade e evasão escolar.

Estamos distantes ainda de oferecer uma Educação Básica de Qualidade a todos os brasileiros. Os resultados das avaliações nacionais e internacionais evidenciam esta triste realidade.

2 Apresentei a um plenário atento, os resultados do IDEB, de 2011, e do SAEB, comparando os índices de 2007 e 2011, que deixam ver avanços nos anos iniciais do ensino fundamental, embora ainda não tenhamos atingido o índice obtido pelos países mais bem sucedidos; a força que perde nos anos finais do ensino fundamental, e a estagnação que vem ocorrendo a partir de 2009, no ensino médio, quer no que se refere ao IDEB, quer no desempenho em Língua Portuguesa e Matemática revelados pelo SAEB. Com essas informações e comentários procurei apresentar uma visão da Educação Básica, em termos quantitativos e qualitativos, preparando o pano de fundo para as palestras que se seguiram a minha, no painel “Educação Básica de Qualidade”.

No decorrer de minha fala, chamei atenção para o fato de que, atualmente, há oferta de trabalho. Nossa escassez é de pessoas com a qualificação desejada para atender às novas exigências do mercado: capacidade para resolver problemas práticos, facilidade para se comunicar e trabalhar em grupo, empreendedorismo, criatividade, capacidade de pensar, escolher, comparar, raciocinar, divergir e, sobretudo, aprender.

O mercado de trabalho procura o que a escola não está ensinando. Não há o diálogo necessário entre a agência formadora – a escola – e a agência empregadora – a empresa.
Alvin Toffler, há muitos anos previu que “o desafio do século XXI seria aprender, desaprender e reaprender”. Ele, certamente, baseou-se no fato do conhecimento tornar-se obsoleto com muita rapidez pelas mudanças que ocorreriam, velozmente, pelos avanços da ciência e da tecnologia.

A escola brasileira ainda não conseguiu adequar-se ao ritmo vertiginoso do progresso.
Ao terminar minha exposição no XXII Encontro Brasileiro e no VIII Congresso Mundial de Administração realizado no Rio, com absoluto sucesso, deixei com os 2500 administradores presentes algumas considerações para reflexão.

Passo a enumerá-las:
– Negar Educação Básica de Qualidade aos nossos jovens é fechar-lhes as portas
do mercado de trabalho e da universidade;

3 – Sem Educação Básica de Qualidade, sem emprego e renda não há como falar em sociedade justa e sustentável;
– Sem Educação Básica de Qualidade não conseguiremos romper com o triste legado da exclusão social;
– Não podemos aceitar, em pleno século XXI, que um país que conseguiu ascender a uma das maiores economias mundiais, tenha um povo dividido entre exitosos e fracassados, entre incluídos e excluídos.

Fecho este artigo, cumprimentando os organizadores e realizadores do XXII Encontro Brasileiro e do VIII Congresso Mundial de Administração, e os que conceberam a programação, nas pessoas de Wagner Siqueira e Wallace Souza Vieira, pela importância e relevância do Evento, pelo cumprimento fiel da programação, agradecendo mais uma vez, o honroso convite para participar do Painel sobre Educação Básica.

Estou certa de que os 2500 administradores que participaram do Evento, ao lado de muitas lições, saíram convencidos de que é na Educação Básica de Qualidade que mora o futuro. É nela que está o desafio do presente.

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