Geração Y, a Geração Perdida

Como se destacar entre tantos e vencer no competitivo mercado de trabalho? Os obstáculos à gestão de carreira para a Geração Y.

A crise econômica de 2008 coloca ainda, de forma dramática, a questão do emprego para os jovens que ascendem ao mercado de trabalho. Com isso, podemos ainda dizer que esta Geração Y é realmente a Geração Perdida, já que presente e o futuro para ela são igualmente sombrios.

É claro que não me refiro aos jovens melhor qualificados em busca do tão almejado emprego. Para esses, normalmente, essa questão não se coloca. Mas a dificuldade é própria até por “excesso de qualificação”, os chamados over-qualified. São os ociosos ou dispensados por medo da concorrência dos selecionáveis ou por excederem em muito as exigências para a colocação no posto pretendido.

Ao contrário do maravilhoso porvir tão propalado por muitos analistas de RH em todo o mundo, também pela imprensa especializada ávida de casos de sucesso, o futuro da Geração Y não é um mar de rosas, pois certamente será marcado pela exclusão do mercado de trabalho.

O sentimento de rejeição, impregnado numa idade em que se está em plena construção de si mesmo, tem arrastado milhões de jovens ao desestímulo existencial, à perda de confiança nas instituições, ao incremento de atitudes radicalizadas de contestação e de extravasamento das frustrações acumuladas.

A Primavera Árabe, que brotou no jovem suicida da Tunísia, encheu a todos de esperança de democratização do mundo muçulmano, para logo se tornar o ‘Abre-te, Sésamo’ do endurecimento dos regimes totalitários fundados na Sharia.

As explosões destrutivas do Inverno Europeu, que arrastaram aos subúrbios das grandes cidades à violência e à intranquilidade produzidas por jovens nascidos na Europa, filhos de pais imigrantes, mas que se sentem apátridas em seus países de nascimento, apesar de mal falarem as línguas nativas de seus pais. O encrudescimento dos Black Blocks em todo o mundo leva à fúria destruidora sem direção e sem sentido na vida cotidiana dos grandes centros urbanos.

Por trás e por dentro, acima e por baixo, desses fenômenos sociais modernos sobrepairam e protagonizam os membros da Geração Y, a geração perdida de sonhos, de utopias e de ideais.

A ausência de estatísticas confiáveis no Brasil e, sobretudo, porque muitos jovens participam de economia informal em atividades lícitas e ilícitas, falseia-se a adequada compreensão das reais circunstâncias em que vive a parcela dominante da Chamada Geração Y. Agrava-se essa constatação porque sabemos que as estatísticas oficiais não computam aqueles que não procuram emprego há mais de 6 meses.

À guisa de ilustração, há menos de duas gerações, no entorno do conhecido Morro do Jacarezinho, no Rio Janeiro, existiam as fábricas da GE, com o seu famoso campo de manufatura de futebol, que tantos craques revelou para os clubes cariocas; a da Kibon e da Coca Cola, a Villejack Jeans, e tantas outras, muitas subsidiárias e empreendimentos terceirizados que orbitavam em torno das maiores. A favela cresceu para suprir a mão de obra necessária, sem necessidade de vale transporte, que sequer existia.

Hoje habitam no morro os velhos trabalhadores, agora aposentados e pensionistas, que sustentam com seus parcos rendimentos previdenciários os filhos e netos desempregados. A bem da verdade, muitos trabalham. Só que a serviço do tráfico, como seus soldados ou já promovidos como chefes da bandidagem. Outra parte bem expressiva não o são, porque já morreram na cruel guerra entre facções ou em confronto direto com a polícia.

Se você não tem um caso desses em sua família, por certo convive com situações próximas em seu círculo de relações.

Os dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) são alarmantes. Os jovens pobres que ainda conseguem trabalhar tendem a ocupar empregos precários, em que realizam longas jornadas de trabalho, com baixa produtividade, salários ínfimos, e frágil proteção social. O que precisa estar em debate não é somente a oferta de emprego, mas igualmente e acima de tudo a sua qualidade.

O malogro ao acesso ao mercado de trabalho tem exposto os jovens sem emprego à estigmatização permanente, vítimas do preconceito e da discriminação. A pior coisa que o preconceito faz com uma pessoa é fazê-la ser exatamente igual ao que o preconceito diz que ela é.

A melhor política social é o emprego. E agora, para agravar ainda mais este quadro de circunstâncias, ainda temos que tomar decisões profundas sobre o desenho de nossas políticas sociais, de nossa legislação trabalhista e previdenciária, o mais das vezes dispondo de informações imprecisas e incompletas porque não temos a cultura da mensuração e da avaliação.

Contingentes crescentes de jovens da Geração Y já desistem e entregam-se a um mau presente e a um futuro ainda pior. Nada tem com a glamourização tão propalada nas aulas de Administração, nas revistas especializadas e na grande imprensa para uma pequena elite de jovens privilegiados que tiveram acesso a uma educação diferenciada. Exaltam uma minoria como se fosse representativa do universo.

Legiões imensas, em todo o mundo, de jovens da Geração Y se tornam vítimas invisíveis e anônimas, fora dos registros oficiais, das estatísticas governamentais de emprego e de colocação profissional. Esses já não contam para se destacar entre tantos e vencer num competitivo mercado de trabalho. Muito menos integram os programas empresariais de gestão de carreiras das grandes corporações, compartilham do ambiente acadêmico, ou de ONGs, ou de fundações, ou dos altos postos de governo, ou os são os novos louvados empreendedores de startups.

A massa de deserdados da geração perdida passa assim a representar um grave risco político para a preservação das instituições democráticas em todo o mundo. No Brasil são presas fáceis, atraídas como soldados e aviãozinhos do tráfico; no mundo desenvolvido são os soldados suicidas do Estado Islâmico e de organizações terroristas congêneres de quaisquer matizes.

Esses jovens sentem-se vítimas dos distintos sistemas sociais. E extravasam suas frustrações e angústias sobre aqueles que lhes parecem ser os primeiros responsáveis: a globalização, os políticos, as elites, a corrupção, os seus próprios pais e familiares, grupos étnicos, raciais, sexuais, imigrantes, religiosos, culturais, exógenos. Tornam-se sensíveis e adeptos fanatizados do discurso religioso e político revolucionário, anarquista. Pregam a desordem e o caos para o surgimento de uma nova ordem totalitária, nas utopias em que devotam adoração.

Passam a fazer profissão de fé em ideologias radicalizadas que permearam todo o Século XX, fascismo de esquerda ou de direita, totalitárias, ditatoriais. Desqualificam a democracia, e de roldão jogam na lata do lixo as liberdades individuais, os direitos civis, a cidadania, a vida privada das pessoas nas suas opções existenciais.

A sociedade contemporânea defronta-se com um enorme desafio neste primeiro quartel de Século XXI: como abrir acesso aos jovens para o trabalho e a empregabilidade, para uma ocupação útil?

Já para os jovens elitizados da Geração Y, a questão se transforma inteiramente: esses são os anarquistas desses novos tempos, verdadeiros nômades globalizados. Tem muito pouca lealdade e fidelidade. E quando as têm é pelas corporações multinacionais em que prestam serviços, aos seus países, familiares e amigos. É a geração do descartável, do carpe diem. Mas disso, tratemos em outra oportunidade.

Adm. Wagner Siqueira
Presidente do Conselho Federal de Administração e conselheiro federal pelo Rio de Janeiro

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