É a gestão, amigo!
Olá, Adalberto, como vai?
Preocupou-me no almoço de fim de ano o seu chamamento: “…a saída é a privatização. Temos que ser célere em relação a ela! E disseminá-la como modelo para todas as organizações!”. Como se fosse panaceia para todos males.
Creio que por sermos da mesma geração e por termos escolhido os mesmos caminhos das organizações- você operando como executivo, e eu, consultor, reunimos um sem número de casos vividos, que não corroboram a assertiva pró- privatização em todo e qualquer caso.
O sucateamento dos nossos hospitais, das escolas, das estradas, das ferrovias, de parte das empresas, não se deu porque são públicas e, sim, porque politizadas, foram abandonadas por nós que deixamos de frequentá-las e, em consequência, zelar por elas, boas, as melhores, quando amiúde convivíamos,
Passado recente, por meio de um pacto: abrimos também mão da concorrência e em troca conviveríamos com todos os poderes enraizados e concentrados no Executivo, com controle de preços e salários, inflação apurada em poucos Estados, o assombroso proibido importar, as alterações mensais de alíquotas de importação e exportação, a escalação dos grupos de interesse para parceiros dos que aportavam para aqui produzir.
Executivos- presidentes, diretores e gerentes- alocavam grande parte do seu tempo às tratativas com o Governo Federal- tempos de CONEP/ CIP, CACEX, CPA, CDI…Por 30 anos, enterrou-se a incipiente busca pelos ganhos de produtividade ( exceto os salários acima dos dissídios coletivos, quase tudo era repassado a preços), o ambiente propício à inovação, o engajamento para eliminação de desperdícios, e elegeu-se a reserva de mercado aos que aqui produziam, os campeões da época, e daí não alcançamos a competitividade.
A generalização pró e contra, sempre, é um grave pecado, Adalberto. Nem para lá nem para cá. Mas mais para o alvo, porque antes de qualquer tomada de decisão, é importante que se aprimorem e democratizem os instrumentos de diagnóstico das reais necessidades da clientela, os munícipes de agora e do futuro, assim como o equacionamento eficaz dos problemas detectados e dos que estão por vir, aqui e afora. É fácil, é simples. Os consultores adotam instrumentos para tal.
Assim, ao identificar, analisar (olhando além do umbigo) e interpretar, efetivamente, o real problema, teremos aí mais da metade da solução, do que queremos, e, pelo contrário, não sendo assim, corre-se o risco de se resolver bem… a questão errada. A opção pelo transporte individual está aí para mostrar como escangalhar cidades. A colossal proteção à indústria é a madrasta do desapego à inovação, à dependência às commodities, com todos os percalços e os solavancos. Aliás, por onde andam as grandes e protegidas empresas de outrora? As melhores?
O problema real, meu caro, é que melhorou pela democratização- mais atores, menos censura-, mas é um processo e ainda não disseminamos a gestão profissional nem se caça excelência As organizações, no mais das vezes, funcionam tão mal quanto os clubes, em especial os de futebol, os sociais, os condomínios, entidades profissionais, estatais loteadas, governos…
Contudo, creio, firmemente, que algumas atividades- prevenção à saúde, educação, indução à pesquisa, à inovação- devam sim estar em mãos públicas e tudo mais nas nossas, dos particulares, e que o empreendedorismo, que poucos adotaram nos anos setenta/oitenta, hoje é a única saída para o declive acentuado e continuo do emprego, e deve ser incentivado tal e qual foram muitas organizações quando do pacto.
Obs. Ia telefonar antes para conversarmos, mas fiquei dois dias incomunicável- sem telefone e internet. É a gestão, amigo!