Como enfrentar as crises?
Em condições normais do dia-a-dia, quase todos nós podemos nos comportar racionalmente. Pelo menos ao nível do que se chama “racional”, pois a razão emocional está sempre presente nas nossas ações. Parodiando o Ministro Eduardo Portella que dicotomizou o Brasil social e o Brasil econômico, é difícil compreender o ser humano dissociando razão e emoção.
Mas, quando somos atingidos profundamente por fatos desagradáveis, podemos retroceder até ao animal instintivo que existe em cada um de nós. Nossa primitividade oriunda dos tempos imemoriais das cavernas nos circunscreve a duas maneiras de reagir face a uma crise: fugir ou lutar. Na reação de fuga, corremos ou nos fazemos de “morto, vale dizer “indiferente”, “inanimado”, “sem sentimento”. Nesse caso, as pessoas experimentam um sentimento de culpa quase atávico, mas certamente masoquista, quando o destino as atinge profundamente. Elas se curvam e esperam outros golpes que as farão cair. O que acontece com elas já era aguardado de forma subconsciente há muito tempo. Defender-se, fazer algo para superar a crise, parece-lhes uma luta inglória contra o destino implacável. . Assumir inconscientemente o papel de herói/sofredor passa a ser a única alternativa viável, já que se sentem absolutamente tolhidos pelo círculo de ferro de sua incapacidade de luta, de reagir diante de circunstâncias adversas.
O outro tipo de reação vem frequentemente ligado à amargura: “porque tinha de acontecer comigo?” O “lutador” age com raiva, como se estivesse com hidrofobia, desferindo cegamente contragolpes em todas as direções e procurando vingar-se do que aconteceu. Nesse caso, é evidente, acabam por receber os golpes mais duros exatamente as pessoas que mais lhe querem bem e as que ele mais ama. São sempre as mais próximas as vítimas dos comportamentos neuróticos, que se recusam a aceitar a realidade desfavorável.
Nenhuma dessas duas reações, a fuga inútil ou a luta vingadora nos é útil quando enfrentamos uma crise. Mas o nosso animal instintivo se apossa de nossa racionalidade e só nos permite essas duas reações.
Precisamos tomar consciência desse fenômeno a fim de não nos entregarmos inteiramente às emoções. Quando a tragédia nos atinge, devemos fazer um esforço para agirmos de forma sensível e racional, a despeito da dor, da tristeza e da mágoa que estivermos sofrendo. Nesse momento de autorreflexão, de revisão da crise, somos obrigados a concluir que a sábia natureza nos reserva forças e energias extras que nos permitem suportar muito mais do que nos julgávamos capazes, à semelhança de um hulk psicológico que se transfigura face à adversidade.
Se pudermos permanecer relativamente calmos e concentrados nas necessidades e nas pequenas tarefas diárias, talvez possamos armazenar novas resistências, criar uma nova atitude mental que nos possibilite continuar, “pois sobreviver é preciso”, não importa a dimensão da tragédia que nos atingiu.
É da essência das crises que não as possamos dimensionar com adequação. Toda crise é, antes de tudo, uma crise de parâmetros.
À semelhança das pessoas, as organizações também precisam aprender a desenvolver uma espécie de “autocontrole” biológico, de sorte a que sejam capazes de reagir às crises assim como faz o corpo humano. Se alguma coisa sai errada num departamento, os que estão em outros departamentos precisam tomar conhecimento do problema e providenciar ajuda a partir de suas próprias iniciativas.