Desprezo e destruição não fazem parte do jogo

Adm. Wagner Siqueira*

As primeiras confrontações dos cidadãos contra as multinacionais começaram aos fins dos anos 1960. No Japão, em razão das atrocidades produzidas em consequência da grande poluição química, uma grande empresa industrial reconheceu, pela primeira vez, sua responsabilidade, mesmo que de maneira bastante tímida. Esse escândalo japonês é, sem dúvida, menos marcante do que a controvérsia do leite em pó da Nestlé ou da Dow Chemical na Índia.

Esses primeiros casos apenas simbolizam o desprezo com o qual as indústrias tratam as populações atingidas por suas atividades. As tragédias de Mariana e de Brumadinho não são distintas, por certo até bem mais graves. São os símbolos de um cinismo corporativo que perdura e se alimentam por acordos financeiros que têm essencialmente por objeto fazer calar as vítimas desses crimes ambientais.

Sinistra contabilidade em forma de chantagem. O número de empregos criados num país, por mais importantes que sejam, não justifica que as populações interessadas fechem os olhos à destruição de seus patrimônios naturais.

Muitos não hesitam em afirmar que esses prejuízos são as consequências fatais das atividades empresariais empreendidas, que fazem parte do jogo, integram a relação custo/benefício do desenvolvimento. Quanta desfaçatez! Jamais se viu uma vítima de um carrasco explicar que os sofrimentos sustentáveis são a contrapartida inevitável do desenvolvimento ou da ordem estabelecida.

*Adm. Wagner Siqueira é conselheiro federal pelo Rio de Janeiro e diretor-geral da Universidade Corporativa do Administrador (UCAdm)

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