Baroneza

Baroneza

BaronezaTodos nós sabemos que “Baronesa” é a versão feminina de “Barão”, título nobilíssimo, comum nas monarquias. Mas, não é sobre essa baronesa que quero falar. Refiro-me à “Baroneza”, com “z” mesmo, nome com o qual foi batizada a primeira locomotiva a vapor brasileira, homenagem prestada por D. Pedro II à Dona Maria Joaquina, esposa do Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá.

A pertinência desse assunto é uma referência aos 170 anos do início da ferrovia brasileira, surgida em 30 de abril de 1854, quando foi inaugurado o primeiro trecho da linha da Estrada de Ferro Petrópolis, logo depois batizado como Estrada de Ferro Mauá, ligando Mauá a Fragoso, no município de Magé-RJ, dois anos depois chegando até Petrópolis-RJ.

As diversas malhas implantadas a partir de 1854 fizeram surgir características próprias para cada rede. Quando menino, fui usuário da “maria-fumaça”, nome atribuído aos trens movidos a vapor, que desprendiam imensas nuvens de fumaça, cuja fuligem entrava pelas janelas dos vagões, causando grande incômodo aos passageiros, o que implicava em muitos usarem um tipo de jaleco, chamado “guarda-pó”.

A rede ferroviária nacional teve grande ascensão até meados da década de 60, quando começou a entrar em declínio. Seu papel no desenvolvimento econômico foi de suma importância, pois era através desse meio de transporte que as produções de café, açúcar e minerais eram escoadas, levadas até aos portos para exportação. A mudança da política dos transportes, privilegiando os rodoviários, foi uma das causas dessa queda. Enquanto nos Estados Unidos, Europa, e em outros países, a ferrovia constitui o principal meio de locomoção de pessoas, no nosso país é praticamente inexistente, a não ser por algumas ferrovias regionais voltadas para o turismo ou em malhas exclusivas para o transporte de minérios.

Na década de 50, a Região dos Lagos era servida pela Estrada Clésio Guimarães de Ferro Maricá, que ligava São Gonçalo a Cabo Frio, utilizando o trajeto que hoje corresponde à rodovia Amaral Peixoto, RJ-106. O “trem” saía às 6 horas e chegava às 16 horas de volta. Ainda hoje é preservada a antiga estação que fica na Av. Wilson Mendes, antiga Estrada dos Passageiros. Outra curiosidade é um trecho próximo a São Gonçalo, que ficou conhecido como “Cala Boca”, isso porque, numa subida, o trem passava apitando, então, os moradores, assustados, gritavam: “cala a boca!” Outro fato desconhecido pela maioria dos cabo-frienses é que existiu uma linha férrea ligando a Usina Perynas ao Porto do Forno, em Arraial do Cabo, utilizada para o transporte de sal.

Na década de 70, existia uma linha que ia do Rio a São Paulo, conhecida como “trem de prata”, que reunia conforto e glamour, numa viagem noturna, onde havia restaurante e cabines para dormir. Saía da Estação da Leopoldina, no Rio de Janeiro, chegando à Estação da Luz, no centro de São Paulo.

Recentemente foi concluída a Ferrovia Norte-Sul, ligando o porto de Itaqui, no Maranhão, ao porto de Santos, em São Paulo. Essa obra, de quase 2,2 mil quilômetros, que levou 37 anos para ser concluída a um custo de 11 bilhões de reais, vai possibilitar o transporte de produtos entre vários estados, reduzindo custos e riscos.

Restaurar a malha ferroviária é uma tarefa que deve ser priorizada, apesar do grande custo. A maioria das linhas foi ocupada por invasões e os trilhos roubados. O custo para a Nação pela priorização do transporte rodoviário tem sido incalculável. Poluição ambiental, acidentes, conservação de rodovias, entre outros, poderia ter sido substancialmente diminuídos se não tivéssemos abandonado o programa de ferrovias.

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