O “tarifaço” de Trump e o café brasileiro: como reposicionar nossa marca no cenário internacional
Estratégias de marketing, diplomacia econômica e agregação de valor para blindar o café do Brasil diante de tensões comerciais.
O café é mais do que uma commodity no Brasil — é parte da nossa identidade, da nossa história e, acima de tudo, uma das grandes marcas nacionais no exterior. Porém, nos últimos meses, a tranquilidade desse mercado foi abalada pelo anúncio de um novo “tarifaço” dos Estados Unidos, com taxas de até 50% sobre produtos brasileiros, incluindo nosso prestigiado café.
Embora os EUA tenham recuado parcialmente, concedendo isenções a centenas de produtos, a ameaça tarifária revelou uma fragilidade latente: ainda exportamos mais de 90% do nosso café em forma de commodity verde, com pouco ou nenhum valor agregado. Em 2024, mais de 43 milhões de sacas exportadas estavam nessa condição, segundo o CECAFÉ.
Em plena era da diferenciação de marca, isso representa uma perda de oportunidades estratégicas. É hora de transformar a narrativa — e também a estratégia comercial — do nosso café.
Reposicionando o Café Brasileiro como Marca Global
No marketing, reposicionamento é uma manobra ousada, mas necessária quando um produto precisa ganhar relevância ou escapar de ameaças externas. O café brasileiro vive esse momento. Investir em beneficiamento local (torrar, moer, solubilizar), certificações de origem, sustentabilidade, comércio justo e campanhas de branding direcionadas são caminhos para reposicionar o Brasil como fornecedor de café pronto para consumo e não apenas como produtor de matéria-prima.
Bypassar o Mercado Americano: Estratégias Inteligentes
Com os EUA adquirindo cerca de 20% de todo o café exportado pelo Brasil, dependemos deles mais do que gostaríamos. A diversificação de mercados — especialmente na Ásia e Oriente Médio — precisa ser acompanhada de inovação no modelo de exportação. E mais: a utilização de acordos comerciais bilaterais, o fortalecimento da imagem do “Café do Brasil” e o uso de storytelling territorial são poderosas armas de marketing internacional.
Dados que Falam Alto
O Brasil continua sendo o maior produtor e exportador global de café, mas apenas 8,2% desse volume é beneficiado. Mesmo com um recorde de exportação de 50,44 milhões de sacas em 2024, mais de 91% ainda saem do país em forma bruta. Entre os países que mais recebem o nosso café beneficiado estão os Estados Unidos (20%), Rússia, Indonésia e Japão — o que mostra que o mercado existe e pode crescer com as estratégias certas.
Diplomacia Econômica + Estratégia Comercial = Sucesso Sustentável
Em um mundo marcado por disputas geopolíticas e protecionismo disfarçado, é fundamental que o Brasil alinhe sua diplomacia econômica com sua inteligência de mercado. O uso de instrumentos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a adesão aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 8 e 17) podem fortalecer a legitimidade internacional da nossa pauta exportadora — ao mesmo tempo em que geramos mais empregos, renda e competitividade.
*Adm. Dr. Sidnei Castilhos Rodrigues (Membro da Comissão Especial de Marketing – CRA-RJ)
Referências Bibliográficas
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