Trabalho Decente e Diversidade de Perfis no Mercado Digital

  1. Introdução

A digitalização impactou profundamente o mercado de trabalho, criando novas possibilidades e desafios. A transformação digital não se limita à introdução de tecnologias; ela envolve a adaptação de processos para incluir a diversidade e assegurar condições dignas de trabalho para todos os profissionais.

Este artigo propõe uma reflexão sobre como a inclusão de perfis diversos e a adoção de práticas de trabalho decente impulsionam o desempenho organizacional e a inovação no cenário do mercado digital.

  1. O Modelo de Trabalho Híbrido e On-line na Era da Digitalização

A pandemia de Covid-19 acelerou a adoção de modelos de trabalho híbrido e on-line, redefinindo a forma como muitas empresas passaram a operar. E graças à digitalização, esse formato, que combina trabalho presencial e remoto, tornou-se uma estratégia amplamente adotada para atender às demandas de segurança sanitária e flexibilidade, mas também trouxe desafios relacionados à equidade no acesso e às condições de trabalho.

Em termos legislativos, no Brasil, a reforma trabalhista (Lei nº 13.467/2017) já havia regulamentado o teletrabalho, mas foi durante a pandemia que essa modalidade ganhou força e mais relevância. Em 2022, a Medida Provisória nº 1.108 ajustou normas sobre o teletrabalho, incluindo o reembolso de despesas e a flexibilidade na jornada. Ainda assim, a aplicação dessas normas varia e, em muitos casos, deixa os trabalhadores desprotegidos.

Entre as vantagens do modelo híbrido, destacam-se a redução de custos operacionais para empresas e empregados, o aumento da produtividade e a flexibilidade, que promove melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Contudo, também existem desvantagens, como o risco de isolamento social, dificuldades de gestão à distância e a exclusão digital. Esta última é um problema crítico, pois muitos trabalhadores não têm acesso adequado à internet ou equipamentos, o que limita sua participação nesse novo modelo de mercado.

Para promover equidade no trabalho híbrido e on-line, é essencial investir na ampliação da infraestrutura digital e no acesso à tecnologia. Políticas públicas que garantam internet de qualidade em áreas rurais e periféricas, assim como programas de capacitação digital, são fundamentais. Empresas também devem adotar medidas inclusivas, como fornecer equipamentos e treinamentos para seus funcionários.

O modelo híbrido pode ser uma ferramenta para democratizar oportunidades no mercado de trabalho digital, mas somente se for acompanhado de esforços coordenados para garantir condições justas e inclusivas. A construção de um mercado sustentável e equitativo requer atenção às necessidades de trabalhadores vulneráveis e políticas que priorizem a inclusão digital.

  1. Diversidade e Inclusão no Contexto Digital

No mercado digital, a diversidade assume um papel estratégico, pois promove a pluralidade de ideias e fomenta soluções criativas. Além de ser um compromisso ético, a inclusão é uma vantagem competitiva que destaca as empresas que estão atentas frente às mudanças.

A tecnologia tem potencial para reduzir barreiras, permitindo que pessoas de diferentes origens colaborem em nível global. A inclusão de grupos historicamente sub representados, como mulheres na tecnologia e profissionais com deficiência, não só reflete um compromisso com a equidade, mas também contribui para a inovação. Além disso, agrega profissionais de gerações distintas, proporcionando oportunidades para todos.

  1. O Crescimento de Novas Profissões

A digitalização trouxe à tona carreiras inovadoras, como analistas de dados, especialistas em experiência do usuário (UX/UI) e empreendedores digitais. Modelos como dropshipping e marketing de afiliados democratizaram o acesso ao empreendedorismo, possibilitando que mais pessoas explorem oportunidades no mercado global.

No entanto, é essencial que esses novos modelos sejam regulados para garantir condições de trabalho justas, especialmente para profissionais freelancers ou autônomos, que muitas vezes enfrentam insegurança econômica.

  1. Interação Geracional e Combate ao Preconceito Etário

A diversidade etária é um dos desafios do mercado digital, que precisa integrar as habilidades de diferentes gerações. Baby Boomers, Millennials, Geração Z e Alpha possuem competências complementares, e a colaboração entre eles pode ser altamente produtiva.

No entanto, é fundamental combater o etarismo e investir em programas de aprendizado contínuo que possibilitem a convivência entre profissionais de idades distintas.

  1. Sustentabilidade por Meio da Diversidade

A sustentabilidade no mercado digital não é apenas ambiental, mas também social. Iniciativas que promovem diversidade e inclusão fortalecem a reputação organizacional e atraem talentos que valorizam empresas alinhadas com princípios éticos.

Programas de treinamento, liderança inclusiva, comitês de diversidade e vagas afirmativas são exemplos de práticas que criam ambientes mais justos e produtivos, além de contribuir para a retenção de talentos.

Considerações Finais

Para que o mercado digital seja realmente inovador, ele deve se basear em práticas de inclusão e equidade. A combinação de diversidade e trabalho decente cria uma base sólida para o crescimento sustentável.

O Mercado Digital só será verdadeiramente inovador e sustentável se estiver fundamentado em princípios de diversidade, inclusão e trabalho decente. Empresas e profissionais têm o papel conjunto de promover ambientes onde todos possam contribuir de forma igualitária, garantindo que o avanço tecnológico seja um aliado na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

 Referências

BRASIL. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Consolidação das Leis do Trabalho – Reforma Trabalhista. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm. Acesso em: 17 nov. 2024.

BRASIL. Medida Provisória nº 1.108, de 25 de março de 2022. Regula o teletrabalho. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2021-2024/2022/Mpv/mpv1108.htm. Acesso em: 17 nov. 2024.

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 TECMUNDO. A transformação digital e o impacto no mercado de trabalho até 2030. Disponível em: www.tecmundo.com.br/mercado/207884-transformacao-digital-impacto-mercado-trabalho-2030.htmL Acesso em: 16 nov. 2024.

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*Adm. Ludmilla Rocha é membro da Comissão Especial do Trabalho e Empregabilidade do CRA-RJ.

 

 

 

 

 

 

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