A ampliação das diferenças salariais entre trabalhadores com mais idade e os mais jovens
O artigo publicado pela Kellogg School of Management, traduzido no Brasil pela revista Exame, aponta para a grande diferença de salários entre pessoas com mais idade e os jovens, justificado por este grupo de menos idade ter dificuldade em progredir na carreira. Esta tendência não é atual e não se resume apenas ao mercado de trabalho norte-americano. No Brasil, verifica-se também esta tendência. Em 2017, os dados do Ministério do Trabalho já apontavam esta diferença dos salários da faixa entre 60 e 64 anos de idade, superior em 32.5% a média verificada, se comparadas a outras faixas etárias.
Cabe algumas questões a serem refletidas sobre esse fenômeno na realidade brasileira.
A primeira questão é sobre o primeiro olhar sobre as métricas utilizadas. Existe a hipótese de que boa parte dos empregos ocupados pelas pessoas com maior faixa etária estejam em cargos gerenciais. Tais cargos têm uma remuneração superior aos operacionais, que provavelmente estão ocupados por profissionais mais jovens.
Outro ponto que se deve observar é a Administração Pública, onde os profissionais podem atuar até os 75 anos de idade com estabilidade, pois o plano de carreira é estruturado com base no tempo de serviço e na meritocracia. Desta forma, também seria natural a existência dessa diferença de salários.
O aumento significativo de pessoas com mais idade no mercado de trabalho também se justifica pelo envelhecimento da população aliado à questão do custo-benefício do regime previdenciário. Era natural até pouco tempo que um trabalhador com 35 anos de trabalho pudesse se aposentar com 53 anos, dado que iniciasse na vida laboral na maioridade. Hoje, dadas as sucessivas reformas previdenciárias chega-se à idade mínima de 65 anos para a aposentadoria. As regras de valores a serem recebidos na aposentadoria são mais rígidas que no passado, o que impede que o profissional consiga manter-se com os valores recebidos. Também é de importante reflexão os aumentos exponenciais nos valores de planos de saúde e nos medicamentos na última década.
Na outra ponta, apesar do aumento da média de tempo escolar para os mais jovens, verifica-se um grande gargalo no acesso ao ensino superior. De acordo com estudo da Firjan/PNUD, a evasão no ensino médio no país é da ordem de meio milhão de alunos por ano. Esta alta evasão corrobora com o fenômeno NEET (Not in education, employment or training), popularmente conhecido no Brasil como geração “Nem-Nem”, a geração que não trabalha nem estuda. Dados da OCDE sinalizam que 36% dos jovens entre 15 e 24 anos no Brasil nem trabalham nem estudam.
Soma-se ao fato que as grades escolares de boa parte de cursos universitários estão desconectadas com a necessidade do atual mercado de trabalho, intensificado pela crescente necessidade de conhecimentos de tecnologia da informação, agora impulsionada pelo avanço da inteligência artificial. Tudo o que foi dito, soma-se ao fato da dificuldade dos mais jovens assumirem cargos gerenciais, justificado em parte pela ausência de formação em liderança, bem como na falta de habilidade de trabalhos em equipes.
Desta forma, o aumento do trade off de salários entre diferentes gerações sinalizadas anteriormente e será a tendência a ser observada no médio prazo. Como medidas de longo prazo, a reversão desta tendência seria conduzida com incentivos destinados a empreendedores mais jovens, articulado com capacitação deste grupo.
No entanto, é mais do que necessário que se tenha um ambiente de estabilidade política e econômica, de forma a fortalecer mais políticas de Estado do que de governos. Quanto à reinserção da geração mais nova desconectada com o mercado de trabalho e com os estudos, políticas de qualificação profissional e de estímulo da volta à sala de aula, que devem ser implementadas de imediato.