Outubro Rosa: entre o autocuidado, o medo e a importância da conscientização

Todo mês de outubro, o mundo se veste de rosa para lembrar da importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Apesar da força simbólica e do alcance da campanha Outubro Rosa, ainda existe um desafio silencioso: muitas mulheres deixam de realizar o autoexame, a mamografia ou até mesmo uma simples consulta médica por medo do que podem descobrir.

Esse receio é compreensível. O medo de um diagnóstico de câncer pode paralisar e levar ao adiamento do cuidado. Mas é justamente o contrário que salva vidas: quanto mais cedo a doença for detectada, maiores as chances de tratamento bem-sucedido e com menos impacto na qualidade de vida.

Dados recentes do Instituto Nacional de Câncer (INCA) mostram que o câncer de mama é o tipo mais incidente entre as mulheres brasileiras. Ainda assim, uma pesquisa do A.C. Camargo Cancer Center revelou que 28% das brasileiras nunca fizeram nem autoexame nem mamografia, mesmo entre aquelas que dizem conhecer formas de prevenção. Isso revela uma distância preocupante entre a informação disponível e o cuidado efetivo.

Neste momento que entra o papel transformador da educação e da conscientização. Informar não é apenas repetir orientações técnicas: é acolher medos, desmistificar mitos e trazer a saúde para a vida real das pessoas. Explicar de maneira simples, por exemplo, que observar as mamas durante o banho ou ao trocar de roupa já pode ajudar a perceber alterações, é um passo importante. E mostrar que diagnóstico precoce significa mais chances de cura pode ajudar a transformar o medo em atitude.

Além disso, o autocuidado vai muito além do toque. Envolve hábitos de vida saudáveis, acompanhamento médico regular e acesso garantido aos exames. Nesse sentido, o Outubro Rosa precisa ser entendido como uma chamada à ação para gestores públicos, profissionais de saúde e sociedade civil. É preciso investir em campanhas acessíveis, serviços de saúde ágeis e acolhedores, e políticas que garantam que todas as mulheres, independentemente de onde vivam, tenham acesso ao diagnóstico precoce e tratamento adequado.

Nos últimos anos, o Brasil registrou avanços legislativos importantes que visam acelerar o diagnóstico e o início do tratamento do câncer de mama, contribuindo para reduzir os impactos da doença. A Lei nº 12.732/2012 (Lei dos 60 dias) estabelece que, após o laudo patológico que confirma o câncer, o paciente no SUS deve iniciar o tratamento em até 60 dias. Mais recentemente, o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para o câncer de mama passou a incluir novos procedimentos e terapias, ampliando a padronização do cuidado e garantindo maior eficiência e uniformidade no tratamento em todo o país. Esses instrumentos legais e técnicos permitem melhorar a eficiência e uniformidade do tratamento entre diferentes regiões.

No entanto, ainda persistem desafios significativos para que essas leis e protocolos se traduzam em melhor equidade no acesso e eficácia real. Diversas regiões enfrentam gargalos de infraestrutura, escassez de especialistas e equipamentos, atrasos no cumprimento dos prazos legais e desigualdade entre pacientes do SUS e do setor privado. Além disso, a simples existência de legislação não garante resultados se não houver acompanhamento efetivo, transparência nos indicadores e recursos alocados para executar o que foi legislado.

O Outubro Rosa não deve ser lembrado apenas como um mês de fitas e iluminações em rosa, mas como um compromisso permanente com a saúde da mulher. Mais do que combater o medo que afasta do cuidado, é preciso fortalecer a educação, o acesso equitativo e a rede de apoio que estimula escolhas conscientes e preventivas.

Cada gesto de autocuidado pode salvar vidas, mas esse esforço só é completo quando acompanhado de políticas públicas eficazes. Ao mesmo tempo, permanecem desafios, como reduzir desigualdades regionais e garantir rapidez no acesso ao diagnóstico e à terapêutica. Assim, o Outubro Rosa deve ser visto como símbolo de avanço, mas também de compromisso contínuo em enfrentar os limites ainda presentes, promovendo saúde e bem-estar de forma justa e universal.

*MSc Thiago Fidélis de Sousa Furriel é membro da Comissão Especial de Administração em Serviços de Saúde do CRA-RJ.

Referências
Instituto Nacional de Câncer (INCA). Outubro Rosa — prevenção e detecção precoce. Brasília: Ministério da Saúde, 2024.
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Outubro Rosa: autocuidado feminino e diagnóstico precoce.
AC Camargo / Nexus — Pesquisa sobre conhecimento, autoexame e mamografia no Brasil, 2024.
BVS/MS. Outubro Rosa: prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. Biblioteca Virtual em Saúde, Ministério da Saúde.
Gutiérrez, M. G. R. et al. “Outubro Rosa”. Revista da APE (Associação Paulista de Enfermagem), 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Câncer de Mama. Relatório CONITEC, 2024.
PAHO / OPS – Organização Pan-Americana da Saúde. Brasil lança protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para garantir melhores condições no tratamento do câncer de mama. Brasília, 06 de dezembro de 2024

 

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