Organizações Amorais e Instituições Inclusivas: Um Diálogo entre Wagner Siqueira e o Nobel de Economia 2024
Introdução
Ao tomar conhecimento do contexto que fundamentou a premiação do Prêmio Nobel de Economia de 2024, imediatamente relacionei as ideias dos laureados com uma reflexão recorrente do presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro (CRA-RJ), Wagner Siqueira. A pesquisa premiada, conduzida por Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, destaca que a prosperidade das nações está intrinsecamente ligada à força de suas instituições políticas e econômicas. Segundo os economistas, instituições inclusivas, que promovem a participação social e o respeito ao estado de direito, conduzem ao crescimento sustentável, enquanto instituições extrativas perpetuam desigualdades e instabilidade. (THE NOBEL PRIZE, 2024; INVEZZ, 2024).
Essa perspectiva me fez recordar as afirmações de Wagner Siqueira sobre a necessidade de se construir organizações com moralidade. Em sua obra “As Organizações são Morais?”, ele argumenta que a natureza essencialmente amoral das empresas precisa ser regulada por valores sociais e jurídicos fortes, uma vez que essas organizações moldam a sociedade tanto quanto as instituições políticas. A conexão entre essas duas visões — a dos laureados do Nobel e a de Siqueira — abre espaço para um debate profundo sobre a relação entre instituições e organizações na promoção da justiça social e do desenvolvimento econômico sustentável. (SIQUEIRA, 2014).
Neste artigo, analisarei os pontos de convergência e divergência entre esses dois pontos de vista, discutindo como ambos abordam a questão da desigualdade e da necessidade de fortalecer estruturas institucionais e organizacionais para um progresso social mais equilibrado.
Visão dos laureados do Nobel 2024
Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, premiados com o Nobel, destacam que a prosperidade das nações depende da qualidade das instituições econômicas e políticas. Segundo sua pesquisa, instituições inclusivas — que promovem direitos amplos e igualdade de oportunidades — geram crescimento econômico sustentável e estabilidade. Em contraste, instituições extrativas, que concentram o poder nas mãos de elites, levam à desigualdade e ao colapso econômico. Eles argumentam que o desenvolvimento econômico não é uma questão meramente técnica, mas um reflexo do tipo de governança e da estrutura institucional presentes na sociedade atual e ao longo da história. (NBER, 2024; THE NOBEL PRIZE, 2024; INVEZZ, 2024).
A Perspectiva de Wagner Siqueira
Wagner Siqueira, em seu livro “As Organizações são Morais?”, apresenta uma visão crítica sobre as organizações empresariais. Ele defende que as empresas são amorais — isto é, não operam com base em valores morais, mas em busca de lucro e eficiência. Siqueira acredita que atribuir um papel moral às empresas é um erro e que é preciso fortalecer a moralidade na esfera institucional e social para conter a “voracidade” das organizações. Em sua perspectiva, uma sociedade saudável depende mais da atuação ética dos indivíduos e das instituições públicas e jurídicas, que devem moldar e regular a atuação empresarial (SIQUEIRA, 2014).
Pontos de Convergência e Divergência
Convergências:
- Ambos os enfoques reconhecem que instituições desempenham um papel central na regulação da sociedade. Para Acemoglu e seus colegas, instituições inclusivas criam prosperidade; para Siqueira, instituições fortes e moralmente orientadas são essenciais para equilibrar o impacto das empresas.
- Há uma crítica compartilhada à excessiva concentração de poder — no caso dos laureados, nas elites econômicas de instituições extrativas, e no caso de Siqueira, nas grandes corporações que agem em seu próprio interesse sem preocupações éticas.
Diferenças:
- A pesquisa dos economistas é mais otimista quanto à possibilidade de transformação positiva por meio do fortalecimento de instituições inclusivas e democráticas, enquanto Siqueira é mais cético quanto à capacidade das organizações de se tornarem agentes de mudança moral.
- Enquanto os economistas focam nas instituições públicas e políticas como motoras do desenvolvimento, Siqueira insiste na moralidade nas instituições sociais e jurídicas para moldar uma sociedade mais justa e conter os excessos do mercado.
Considerações Finais
Esse comparativo revela como ambas as abordagens oferecem caminhos complementares para pensar o desenvolvimento e a justiça social. Acemoglu e seus colegas enfatizam a importância da participação democrática e da igualdade institucional, enquanto Wagner Siqueira traz à tona a necessidade de uma responsabilidade moral estruturante que não pode ser delegada ao mercado.
Assim, o diálogo entre essas visões pode enriquecer as discussões sobre como criar uma sociedade mais próspera e justa, ao alinhar o fortalecimento institucional com princípios éticos sólidos.
Referências Bibliográficas:
SIQUEIRA, Wagner. As Organizações são Morais? Responsabilidade Social, Ética Empresarial e Empresa Cidadã. 1ª ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2014.
THE NOBEL PRIZE. “The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel 2024.” Acesso em 15 de outubro de 2024. Disponível em: https://www.nobelprize.org【18】【19】.
NBER (National Bureau of Economic Research). “Daron Acemoglu, Simon Johnson, and James Robinson Awarded 2024 Nobel Prize.” Acesso em 15 de outubro de 2024. Disponível em: https://www.nber.org【17】.
INVEZZ. “Daron Acemoglu, Simon Johnson, James Robinson win Nobel Prize for Research on Why Countries Succeed or Fail.” Acesso em 15 de outubro de 2024. Disponível em: https://invezz.com【20】.
*Adm. Sidnei Castilhos Rodrigues é membro da Comissão Especial de Marketing do CRA-RJ.