Os efeitos da emergência climática, seus riscos e como podemos agir para mitigá-los

Nunca no mundo se viu e sentiu-se tanto os efeitos nocivos da ação do homem no planeta”. Não parece uma frase familiar? E infelizmente é. Ano após ano, os desastres climáticos decorrentes das emissões recordes de GEE¹ provenientes de diversos fatores — acentuados pela ação humana – tem se agravado. O resultado disto tem sido visto e sentido através de inúmeros eventos extremos, como pudemos ver no último final de semana, quando as principais redes sociais ficaram repletas de vídeos de uma ressaca que atingiu diversas praias do litoral Fluminense. O que se viu também foram muitos relatos de que essas ressacas nas praias do Rio de Janeiro são um problema antigo, e realmente são. Mas, como é comum, um importante fator com relação a ocorrência desse fenômeno foi desconsiderado: a frequência.

Aliás, não só com relação às ressacas, mas outros eventos climáticos extremos, como chuvas de altíssimo volume, com decorrentes, inundações e deslizamentos, secas e ondas de calor, também têm sido desconsiderados quando falamos da frequência desses eventos, que não são nenhuma novidade.

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – Intergovernmental Panel on Climate Change, em inglês), respeitado órgão, composto por centenas de cientistas de todo o mundo e tido como referência para questões sobre mudança climática, já havia trazido em um de seus relatórios, por exemplo, que no ano de 2100 a incidência de eventos climáticos extremos será quatro vezes maior. E isso com apenas mais alguns décimos de grau de aquecimento na temperatura do planeta. A situação pode ser ainda pior se considerarmos que as temperaturas aumentem por volta de 2ºC, pois, neste mesmo ano citado, a probabilidade de inundações, tempestades, secas e ondas de calor será cinco vezes maior. Fazendo uma relação direta com a ressaca, esse mesmo relatório aponta que, até 2050, um bilhão de pessoas enfrentará o risco de inundações costeiras devido à elevação do nível do mar.

Além desse evento do último domingo, secas, enchentes, chuvas acima da média, deslizamentos, ondas de frio, calor, degelo de áreas do Ártico e perdas de flora e fauna, tudo isso tem sido evidenciado de maneira recorrente nos noticiários, deixando claro que os problemas, que algum dia foram considerados “do futuro”, são, na verdade, totalmente do presente.

Não precisamos ir longe para termos outras claras mostras dessas ocorrências. No Brasil, por exemplo, tivemos recordes de temperatura em diversas cidades, como Cuiabá, que atingiu 41,2 ºC, superando o recorde que havia se estabelecido em 2020. O que comprova que esses efeitos têm se acentuado nos últimos anos e que seguem crescendo em um ritmo preocupante. Até mesmo cidades com histórico de temperaturas baixas, como Gramado, no Sul do país, têm sentido esses impactos, registrando temperaturas acima de 42 ºC. Inclusive, foi neste ano que a cidade registrou 42,1 ºC, a maior temperatura registrada em mais de meio século na localidade.

Ainda no Sul, na última semana, volumes extraordinariamente altos de chuva foram registrados na Metade Norte, com precipitações que, somente neste início de setembro, já alcançaram quase 400mm, o que equivale a três vezes a média histórica de precipitação do mês todo na região.

O cenário global não é muito diferente. O último Relatório de Riscos divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) traz, novamente, dentre os 10 mais severos riscos, 5 (cinco) relacionados ao meio ambiente, sendo estes: falha na ação climática, extremos climáticos, perda de biodiversidade, desastres ambientais provocados por causa humana e crise de recursos naturais.

E o que podemos fazer, como cidadãos e Administradores, para atuar no processo de mitigação destes riscos e consequências?

Para começar, é cada vez mais importante que todos, independente de seu posicionamento social, entendam seus impactos e colaborem, com ações e práticas mais sustentáveis, para a redução de seu impacto ambiental. Essa contribuição pode ocorrer de maneiras simples, com pequenas atitudes, tais como: fazendo uso racional de água e energia, evitando consumo desenfreado de plásticos de uso único, separando o seu resíduo, optando por marcas e empresas que atuem de maneira responsável com relação ao meio ambiente e, na esfera pública, acompanhando, impulsionando e cobrando que os representantes desenvolvam e estimulem práticas e projetos em prol das questões ambientais.

Já o Administrador, no âmbito empresarial, devido à sua visão holística, pode ajudar a identificar riscos e oportunidades através da adoção dos critérios ESG², pensar estratégias e políticas para melhorar a tratativa e gestão destes pilares, estabelecer indicadores de desempenho e monitorar o progresso em direção aos objetivos definidos, além de ser agente fundamental, devido a sua relação com as mais diversas áreas, para a promoção de uma cultura organizacional que valorize a sustentabilidade e o impacto social positivo.

Quando falamos em ESG, em especial, é importante que o administrador entenda o seu conceito e como ele já tem sido aplicado no mundo dos negócios e investimentos, tendo em vista a grande oportunidade que o profissional da administração tem para atuar nesta frente que possibilita aliar conhecimento técnico da Administração, com propósito do profissional e impacto positivo em questões socioambientais para as empresas e sociedade.

Somente desta forma, com profissionais bem preparados e atuantes, a sociedade se conscientizando da urgência do que tem ocorrido, e os entes públicos se movimentando para impulsionar a agenda com relação à essa temática, podemos vislumbrar, verdadeiramente, que haja mitigação significativa nas questões climáticas nos próximos anos, o que é essencial para garantir que, não só as próximas, mas já essa geração, consiga sofrer menos com os efeitos dos problemas decorrentes das ações humanas que impactam no clima.

¹GEE: Gases de efeito estufa
²ESG: Sigla em inglês (Environmental, social and governance) que trata dos temas ambiental, social e de governança no viés de mercado.

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