Insight sobre a falência da Administração Pública e o abandono da meritocracia no Brasil: Uma análise da crise da mobilidade urbana no Rio de Janeiro

Introdução

Nos últimos anos, o Rio de Janeiro tem enfrentado uma crescente onda de violência e criminalidade, culminando em episódios recorrentes de sequestro de ônibus por grupos criminosos. Esse fenômeno não é apenas uma crise de segurança, mas também um reflexo das falências estruturais na administração pública e no gerenciamento das politicas urbanas. A precariedade da gestão pública e a ausência de um modelo meritocrático eficaz tem contribuído para um cenário em que a ordem social e a mobilidade urbana são constantemente ameaçadas.

O Cenário Atual: Sequestros de Ônibus como Sintoma

Recentemente, reportagens têm destacado o sequestro de ônibus como uma tática comum utilizada por traficantes para dificultar as operações policiais e reivindicar território. Somente em 2024, o Rio de Janeiro registrou 97 sequestros, uma media alarmante que indica uma crise não só de segurança, mas de governança. Os ônibus, além de serem utilizados como bancadas, são alvo de incêndios, gerando não apenas prejuízos materiais, mas também afetando a mobilidade de milhares de cidadãos

Esses eventos revelam uma relação complexa entre crime organizado e a fragilidade do Estado. A utilização de ônibus como instrumentos de resistência criminosa demonstra a falta de controle territorial por parte das autoridades e a ausência de políticas públicas eficazes que garantam a segurança e o direito de ir e vir da população

Raízes da Falência Administrativa

A falência da administração pública no Brasil, especialmente no contexto do Rio de Janeiro, pode ser atribuída a uma sene de fatores interligados

1. Falta de Planejamento Estratégico

Um dos principais problemas na administração pública brasileira é a ausência de um planejamento estratégico consistente. As ações governamentais tendem a ser reativas, respondendo a crises em vez de antecipá-las. Isso resulta em uma abordagem fragmentada, onde as politicas de segurança, saúde e mobilidade urbana não são integradas, deixando a população vulnerável.

2. Corrosão da Meritocracia

A substituição da meritocracia por sistemas clientelistas e de apadrinhamento compromete a eficácia administrativa. Em muitos casos, as escolhas de gestores públicos não são baseadas em competência, mas em relações pessoais ou politicas. Essa prática mina a confiança da população nas instituições e prejudica a implementação de politicas públicas baseadas em evidencias.

3. Corrupção e Desvio de Recursos

A corrupção endémica é um câncer que compromete a administração pública no Brasil. Recursos que poderiam ser investidos em segurança, infraestrutura e mobilidade são frequentemente desviados, perpetuando um ciclo de pobreza e desigualdade. No contexto do transporte público, os investimentos são insuficientes para garantir a operação segura e eficiente dos sistemas

4. Desigualdade Social e Territorial

As disparidades sociais e territoriais no Brasil criam um ambiente propicio para a criminalidade. A falta de oportunidades em comunidades vulneráveis e abandono das políticas públicas nas periferias facilitam o recrutamento de jovens para o tráfico e outras atividades criminosas. Sem acesso a educação de qualidade e serviços básicos, a população se vê compelida a buscar alternativas na informalidade ou na criminalidade.

Implicações para a Mobilidade Urbana

A crise na administração pública impacta diretamente a mobilidade urbana. A insegurança gerada pelos sequestros de ônibus, além de afetar a rotina dos cidadãos, desencoraja investimentos em infraestrutura de transporte. A ausência de um sistema de transporte público eficiente e seguro resulta em congestionamentos, poluição e perdas econômicas significativas.

A resposta do governo, muitas vezes marcada pela militarızação e operações policiais, é insuficiente se não acompanhada por uma reestruturação das políticas sociais e de segurança. A verdadeira solução requer um entendimento mais amplo das dinâmicas sociais que levam ao crime e à marginalização.

Propostas para uma Nova Abordagem

1. Implementação de Politicas Baseadas em Evidências

É fundamental que as decisões governamentais sejam fundamentadas em dados e evidencias. A coleta e análise de informações sobre criminalidade, mobilidade e necessidades sociais devem orientar a formulação de politicas públicas.

2. Reforço da Meritocracia na Administração Pública

A seleção de gestores públicos deve priorizar a competência e a experiência. Programas de capacitação e formação continua podem fortalecer as habilidades dos servidores públicos, promovendo uma cultura de eficiência e responsabilidade.

3. Investimentos em Educação e Desenvolvimento Comunitário

O combate a criminalidade deve ser acompanhado de investimentos em educação, saúde e desenvolvimento económico nas comunidades vulneráveis. Programas de inclusão social e oportunidades de emprego são essenciais para reduzir a dependência do crime.

4. Integração de Politicas de Segurança e Mobilidade

É crucial desenvolver uma abordagem integrada que una segurança pública e mobilidade urbana. A colaboração entre diferentes esferas do governo e a sociedade civil pode resultar em soluções mais eficazes e sustentáveis.

Conclusão

A crise dos sequestros de ônibus no Rio de Janeiro é um sintoma de uma administração pública fragilizada e desconectada das necessidades reais da população. Para enfrentar esse desafio, é imperativo que o Brasil retome o compromisso com a meritocracia e a eficácia administrativa, promovendo uma governança que priorize a segurança, a inclusão social e a mobilidade urbana. Somente assim será possível construir um futuro mais seguro e justo para todos os cidadãos.

*Adm. Wolney Fernandes da S. Júnior é delegado do CRA-RJ em Itaperuna e região

Sugestões de leitura: