Humanização no SUS: um novo marco legal para a dignidade no cuidado – reflexões e aplicações na gestão

A recente sanção presidencial de uma lei que inclui a atenção humanizada como princípio fundamental do Sistema Único de Saúde (SUS) é um marco transformador para a saúde brasileira. Essa diretriz se une aos pilares da universalidade, integralidade e equidade, tornando a humanização do cuidado uma diretriz legal e obrigatória em todo o sistema.

O Que a Humanização Realmente Significa?

A humanização vai muito além de apenas tratar bem o paciente. Ela exige escuta ativa e empática, onde as necessidades e preocupações do indivíduo são verdadeiramente valorizadas. Significa respeitar as subjetividades de cada pessoa, suas crenças, valores e histórico de vida, reconhecendo que cada paciente é único.

Além disso, a humanização pressupõe a criação de ambientes acolhedores, tanto físicos quanto relacionais, que proporcionem conforto e segurança. Implica também na revisão de processos de trabalho, de forma que o ser humano seja o protagonista central do cuidado. Isso abrange desde a comunicação clara de informações até a participação do paciente e de sua família nas decisões sobre o tratamento.

Reflexões para a Gestão: Como Transformar a Realidade e Mudar a Cultura na Ponta?

Como gestores, essa mudança legal nos traz um desafio e uma oportunidade. A pergunta crucial é: como transformar a humanização de um discurso em uma prática concreta e disseminada na ponta da gestão, mudando a realidade e a cultura?

Para isso, precisamos considerar:

  • Formação e Capacitação Contínua: Como podemos desenvolver programas de treinamento que não apenas informem sobre a humanização, mas que realmente preparem nossas equipes para uma abordagem mais sensível e centrada no paciente?
  • Adaptação de Estruturas e Processos: De que forma podemos reavaliar e redesenhar nossos espaços físicos e fluxos de trabalho para que favoreçam um acolhimento genuíno e uma experiência mais humana para todos, refletindo essa mudança na realidade do atendimento?
  • Cultura Organizacional: Como podemos fomentar uma cultura que realmente incorpore a dignidade e a sensibilidade em cada interação e atendimento, desde a recepção até o cuidado mais complexo, garantindo que a humanização seja o novo padrão?
  • Mecanismos de Feedback: Que canais podemos criar para ouvir ativamente a experiência de pacientes e colaboradores, utilizando esse feedback para aprimorar continuamente nossas práticas humanizadas e guiar a transformação da realidade?
  • Liderança pelo Exemplo: Como nós, como gestores, podemos ser os principais agentes de mudança, demonstrando na prática o compromisso com a humanização e inspirando nossas equipes a aderir a essa nova cultura?

Que este novo marco legal nos impulsione a transformar realidades, com mais dignidade e sensibilidade em cada atendimento.

Como bem disse Eduardo Galeano: “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.”

Agora, para a nossa reflexão em grupo: Quais são os maiores obstáculos que enfrentamos hoje para implementar a humanização plena em nossos processos na ponta da gestão, e qual o primeiro passo prático que podemos dar a partir de amanhã para superar um desses obstáculos e iniciar a mudança de cultura?

 *Adm. Cristiane Simões de Almeida é Gestora de Contratos e profissional registrada no CRA-RJ sob o número 03-06784. Com graduação em Gestão Pública, é pós-graduada em Auditoria em Saúde e Gestão da Qualidade, e atualmente cursa MBA em Gestão de Projetos pela Universidade de São Paulo (USP). Sua experiência e formação multifacetada a capacitam para análises aprofundadas sobre gestão no setor público, com foco especial na área da saúde.

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