As Organizações do Século XXI: Tendências e Incertezas

Um assunto que, atualmente, tem chamado atenção de estudiosos, de diversas áreas, é o futuro das organizações, sejam elas instituições privadas ou públicas. Isto, obviamente, tem ligação direta com os problemas que enfrentam os países com as suas estruturas, em relação ao estágio atual do capitalismo, no mundo.

Considerando que a estrutura da organização, e o seu funcionamento, é função do modo de produção em que está inserida, de fato, a configuração atual do capitalismo não dá pistas de como será esse futuro. Este problema das organizações atuais é muito bem apresentado por Wagner Siqueira, quando diz que a “teoria das organizações se encontra num beco sem saída. A humanidade constata no cotidiano que o aumento indefinido da produção de mercadorias e o progresso tecnológico indiscriminado não conduzem, necessariamente, ao desenvolvimento do potencial do homem”.

Por mais que haja uma grande esperança das pessoas e intervenções da grande mídia mundial constatando uma grande revolução nas organizações do século XXI, vemos que os futuros paradigmas, as tendências, as proposições e as idéias, ainda estão em descompasso com essa realidade.

Podemos listar algumas características dessas idéias:

  • Predominância do saber como o capital mais importante das organizações produtivas;
  • As empresas competitivas são aquelas que aprendem a aprender;
  • A administração de empresas caminha para a teoria das redes neurais (modificará toda a estrutura do capitalismo nos próximos 20 anos);
  • A autonomia do trabalhador é fundamental para o aumento da produtividade das empresas;
  • O poder do trabalho coletivo é cada vez mais decisivo para que as empresas possam enfrentar os novos mercados e usar corretamente as modernas tecnologias;
  • A “capacidade de acessar o espírito e a inteligência coletiva que caracterizam o melhor de se trabalhar em equipe” (Senge; 2005);
  • A importância da ecologia e principalmente a sustentabilidade como fatores decisivos na diferenciação e competitividade nos negócios;
  • A colaboração, o consumo colaborativo e a influência das redes sociais nas operações e nos negócios da organização surgem como fatores reais da competição, nos mercados;
  • Cada vez mais é fator preponderante a democratização do controle por toda a extensão da empresa;
  • Outros

Muitas coisas concorrem para que essas tendências possam ser assimiladas e implantadas nos ambientes organizacionais do século XXI. Porém, como não podia deixar de existir, existem algumas barreiras que as pessoas vão ter que enfrentar.

Entre elas é possível vislumbrar: o risco de não fazer as mudanças corretas, as práticas internalizadas da escola neoclássica e a incapacidade de crer que os novos sistemas não vão subverter o poder constituído e sim torná-lo mais humano.

Na primeira barreira, podemos observar que o mundo das organizações que ultrapassaram o século XX, e que hoje tratam seus negócios nesse século, ficou viciado em enxergar seus problemas com base em eventos de curto prazo e, assim, tentam adiar (“comprar tempo”) a realização de mudanças inevitáveis na sua estrutura, torcendo para que algo inesperado aconteça.

Desta forma, elas acham que será possível “mudar de mentalidade”, sem que isto exija esforços e sofrimentos maiores que os já vividos no século passado.

Na segunda barreira, temos nítida impressão que as organizações, em geral, ainda resistem em abandonar os princípios básicos da teoria da escola neoclássica (divisão do trabalho, especialização, hierarquia e distribuição da autoridade e responsabilidade) que foi a sustentação da administração do século XX, inclusive dos modelos de gestão mais recentes como a qualidade e a reengenharia, simplesmente, por que eles ainda funcionam. E funcionam, em certos aspectos, muito bem. Elas consideram que todo o aprendizado é válido desde que não vá de encontro a esses princípios.

Na terceira, é fato que as propostas, tendências e sistemas que envolvem as mudanças inevitáveis (redes neurais, complexidade, empresas inteligentes, HIM, redes sociais, consumo colaborativo, sustentabilidade, autonomia, dimensão múltipla, etc.) vão exigir esforços gerenciais, investimentos financeiros e cessão de poderes que ainda não foi muito bem absorvido pela grande massa dos empresários e donos de processos de negócios nas empresas comerciais e instituições públicas. O controle (centralizado) da produtividade e do desempenho ainda é um valor decisivo para essas organizações. A democratização da estrutura dá, em geral, a sensação de perda de poder e, portanto, a perda do negócio.

Sabemos que antes da virada do milênio vários estudos já apontavam mudanças radicais na estrutura das organizações. Sabemos que a crise financeira do início do século XXI (2008) desestruturou, de forma marcante, várias iniciativas dessas mudanças. Sabemos também, que esta crise poderá exigir outras ações ainda não experimentadas. Por outro lado, é possível pensar que as organizações vão procurar de alguma forma, se estruturar, fazendo as mudanças necessárias para sobreviver.

Diante desses fatos, ficam as seguintes questões:

a) Os empresários e administradores terão motivação e segurança para dar flexibilidade, e até descontinuar, em determinados casos, algumas práticas fixadas no século XX?

b) Terão a motivação e segurança para ceder espaço no processo decisório (estratégico) para os seus colaboradores?

c) As novas exigências dos mercados terão força para derrubar o poder da burocracia, que “reina” em determinadas organizações, em detrimento do mérito e do conhecimento?

d) As novas práticas darão valor real ao ser humano e não mais enxergarão os colaboradores como peças na engrenagem das operações das empresas?

e) Será que finalmente poderemos ter um ambiente organizacional que a fragmentação do trabalho seja abandonada e o todo seja reorganizado de forma sustentável?

Bibliografia

Tragtenberg, Maurício. A teoria geral da administração é uma ideologia? Revista de Administração de Empresas. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1971.

Siqueira, Wagner. A nova ciência das organizações, de Alberto Guerreiro Ramos. Site CRA-RJ: Espaço Opinião, 2011.

Chiavenato, Idalberto. Teoria geral da administração: abordagens prescritivas e normativas da administração. 5ª Edição. São Paulo: Makron Books, 1997.

Buarque, Cristovam. Compradores de tempo. Artigo para o jornal O Globo. 24 de setembro de 2011.

Moreira da Costa, Paulo. Taylorismo: após 100 anos nada superou o modelo de gestão / organizador. Rio de janeiro: Qualitymark, 2009.

Oliveira, João Batista Araujo. A empresa inteligente. Porto Alegre: Ortiz, 1992.

Plantullo, Vicente Lentini. Teoria geral da administração. De Taylor às redes neurais. Editora FGV. Rio de Janeiro, 2001.

Senge, Peter M. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. 26ª Edição. Rio de Janeiro: BestSeller, 2010.

Pink, Daniel. Drive – The surprising truth about what motivates us. Site cognitive.media.co.uk. RSA Animate. Site youtube.com.watch. Março, 2011.

Fingar, Peter. The Meaning of 21st Century Business:

Unleashing the Power Within Using Social Networks. Site BPtrends. Fevereiro, 2011.

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